Afinal, Jorge Ben Jor apresenta seu <i>Acústico</i>

Álbum duplo e DVD revisam toda a carreira do compositor, que lançou mão de duas bandas diferentes na gravação

Filipe Quintans
10/06/2002
Afinal chega às lojas aquele que talvez seja o acústico mais esperado (e planejado) desde que o formato baixou pela primeira vez em CD com Gilberto Gil Unplugged ouvir 30s em 1994. O Acústico MTV Jorge Ben Jor, projeto que há três anos circula como passível de ser realizado, finalmente é lançado com o merecido valor. Um dos artistas mais influentes da música brasileira das últimas três décadas finalmente saiu da toca e decidiu, mesmo pressionado, se render ao mercado e suas tendências.

Numa revisão da carreira de Jorge Ben Jor, o Acústico foi dividido em duas partes, cada qual com uma banda: o primeiro disco (o "A") traz a Admiral Jorge V, banda que acompanhando Jorge, gravou discos como África Brasil ouvir 30s, Solta o Pavão e Jorge Ben no L'Olympia - esse último, resultado de uma excursão francesa em 1975. No disco "B", é a vez da Banda do Zé Pretinho (BZP), velha companhia de Jorge, ocupar o espaço de banda de apoio, tocando as conhecidas Taj Mahal, País Tropical/Spyro Gyro e W/Brasi. Ambos os discos serão vendidos separadamente ou em versão dupla, agradando a gregos, troianos e "jorgianos" mais exasperados.

O repertório de ambas as partes do Acústico não marca nenhuma fase específica da carreira de Jorge, muito menos distingue a fase do violão da fase guitarreira. A escolha das canções - partindo de uma lista de 43 músicas propostas pela direção artística da gravadora - sofreu alterações: "Tinha que tocar Os Alquimistas Estão Chegando, Comanche e Take It Easy My Brother Charles, dessas eu não abri mão" disse (numa entrevista coletiva para lançar o álbum) Jorge - que, junto com o produtor Paulinho Tapajós, pinçou as 21 que entraram nos CDs. A única inédita, Dá Licença, espécie de cântico para os músicos que acompanham Benjor, ficou de fora pelo resultado insatisfatório nas gravações.

Fases distintas no repertório, métodos diferentes na concepção. Acostumado com a guitarra (que assumiu desde 1976), Jorge foi convencido a voltar ao violão, instrumento-símbolo de sua (hoje mais evidente) influência na música do Brasil e o elemento de diferenciação de sua música da feita pelo resto de sua geração (Gil, Caetano etc.). As lendas em torno da dificuldade de convencê-lo a retornar à companhia do violão (dizem que entre os artifícios, longos telefonemas e jantares foram usados) ficam para os mais cismados e curiosos.

Citado por um imenso grupo de artistas como matriz e inspiração, o "pai do suingue", aquele que inventou o samba-rock, co-inventou o samba funk, pousa hoje sobre uma imenso tapete de admiração. A tão alardeada volta ao violão para Jorge foi, segundo o próprio, "normal". "Precisei apenas de uma semana para me adaptar ao violão de cordas de aço", explicou ele na coletiva. Atrasado por conta do mau tempo, Jorge chegou bem humorado, pedindo licença e deixando alguns presentes, vamos dizer, alterados em demasia. A opção pelo violão de 12 cordas foi para Jorge um item de distinção dos demais acústicos já produzido pela MTV. "Foi minha maneira de soar diferente dos outros, afinal todos já tinham feito ou com violão de cordas de nylon ou violão de cordas de aço, só que de seis cordas".

Com o uso das tais doze cordas, as harmonias ficaram mais "cheias", coordenadas com o peso do naipe de metais, da orquestra de 27 músicos (regida pelo arranjador Lincoln Olivetti) e duas bandas diferentes. Sobre a orquestra, Jorge aceitou a sugestão do arranjador. "Ele me lembrou que muitos dos meus discos no passado tinham orquestrações, daí resolvi fazer com os violinos e tudo mais" disse.

No princípio das negociações para o Acústico, Jorge Ben Jor tinha em mente gravá-lo todo com a Admiral Jorge V, primeira banda a acompanhá-lo e cuja formação tem (e tinha) Gustavo Schoroeter (bateria) e Dadi (baixo), ambos mais tarde integrantes do A Cor do Som. O pianista João Vandaluz e o percussionista Joãozinho Percussão, que completavam o grupo, foram os mais difíceis de serem encontrados. "Mas hoje em dia todo mundo tem e-mail, então foi só mandar um dizendo `Por favor compareçam'", brincou Jorge. O pouco tempo de ensaio com a Admiral foi motivo de preocupação para Jorge. "Ensaiamos pouco, algo em torno de quatro dias. Só no dia do ensaio geral consegui ensaiar com tudo completo: metais, cordas e as duas bandas" explica. No entanto, tudo foi resolvido com um conselho de Jorge para os músicos. "Falei para eles que, se era para tocar e gravar, vamos tentando sem errar. Se errar, vamos errar legal", filosofa.

A velha questão de "O que vem depois", sugerindo qual seria o sucessor do Acústico, foi respondida de forma curta e rápida. "Depois desse disco, vem o disco de inéditas, no ano que vem se Deus quiser", disse Jorge, também perguntado se guardava material inédito para esse possível disco, já que algumas de suas composições dos últimos anos pararam em mãos alheias, como as das cantoras Elza Soares e Paula Lima. "Tenho, afinal são sete anos compondo, estudando e tocando algumas nos shows para experimentar". Títulos? "Não temos nomes ainda", afirmou, categórico. Sobre shows no formato gravado no Acústico, Jorge diz que tem vontade de fazer, mas somente se puder ser acompanhado pelo mesma configuração do disco, o que, à primeira vista, parece uma empreitada cara e arriscada. Em junho, ele retoma o formato usual de palco, no qual só é acompanhado pela BZP, e parte em junho para a Europa para os festivais do verão.