Alcione: sofisticada e popular no 26º álbum

Cantora volta a gravar inéditas em CD que terá samba em homenagem à Dona Neuma, participação de Caetano Veloso e diversas canções românticas

Rodrigo Faour
23/04/2001
Depois de mostrar versatilidade, participando da faixa pop Violão e Voz ouvir 30s, do novo disco de Ana Carolina, Ana Rita Joana Iracema e Carolina, Alcione já está em estúdio gravando seu 26º CD, com lançamento previsto para julho, pela Universal Music. Desde que assinou com a gravadora, em 1997, a Marrom só havia feito projetos especiais na gravadora: um só com pagodes românticos (Valeu amostras de 30s), uma revisão de carreira (Celebração amostras de 30s), um tributo a Clara Nunes (Claridade amostras de 30s) e um CD ao vivo com clássicos da MPB (Nos Bares da Vida amostras de 30s). Agora, ela volta num disco de inéditas, com produção de Miguel Plopschi, direção artística de Max Pierre e um repertório marcado pelo ecletismo.

Em um breve intervalo nas gravações, Alcione adiantou rapidamente a CliqueMusic alguns detalhes do novo CD. Como de costume em seus discos de carreira, ela vai alternar canções românticas com outras que lembram a sua terra, o Maranhão, e sambas de diversos gêneros. As faixas serão embaladas por arranjos dos maestros Julinho Teixeira, Ivan Paulo, Jorge Cardoso e Zé Américo. "Esse disco tem um pouco de tudo. Tem canções românticas de Michael Sullivan e Chico Roque, que sempre compuseram sucessos para mim, e sambas muito bonitos como um em homenagem à Dona Neuma", confirma a Marrom.

O samba que homenageia a Primeira Dama da Mangueira, falecida em julho do ano passado vítima de um acidente vascular cerebral, promete ser um dos carros-chefe do CD. Dona Neuma é a Rosa foi composta pelo trio de sambistas Arlindo Cruz, Sombrinha e Franco a pedido da própria sambista. "A Marrom disse que nós seríamos as pessoas certas para compor esse samba. A letra faz uma citação de grandes sambas da Mangueira, como Onde Estão os Tamborins?, e em certo momento dizemos que se a Dona Neuma é uma rosa, o jardim da Mangueira vai ficar sempre lindo", exalta Sombrinha. "Ela foi a primeira mulher da Mangueira, a verdadeira mãe da Escola. Creio que esse samba vai emplacar porque tem uma força não só poética como melódica. É um dos grandes sambas que já fiz e além de tudo é para a minha Mangueira."

Da Bahia ao Maranhão
O parceiro de Sombrinha, Arlindo Cruz, também assinou A Dor que Me Visita, outro samba que marca presença num disco que também abriu espaço para o samba-de-roda baiano. "Gravei uma música que o Tião Motorista - lembra dele? - fez em parceria com Martinho da Vila, Xodó de Mãe. Acho que depois da explosão do axé, a Bahia se esqueceu um pouco do ritmo mais bonito que eles têm, que é o samba-de-roda, por isso decidi regravá-la", explica a sambista que, na verdade, teve a mesma idéia do novato Dudu Nobre que há dois anos resgatou o mesmo samba ouvir 30s em seu CD de estréia.

Não é só o samba-de-roda que vai trazer a Bahia para o disco da Marrom. Caetano Veloso, que já havia gravado a seu lado o samba-reggae Onde o Rio é Mais Baiano? ouvir 30s, no CD Brasil de Oliveira da Silva do Samba, em 1994, agora foi novamente convidado por ela para que juntos dividissem Pedra de Responsa, um carimbó assinado pelo conterrâneo da cantora, Zeca Baleiro, com Chico César - já gravada em 96 por Chico ouvir 30s no disco Cuscuz Clã, e no ano seguinte por Zeca em seu disco de estréia, Por Onde Andará Stephen Fry?.

Para cortar os pulsos
No âmbito das canções românticas, Alcione gravou Porto D'Alma, de Telma Tavares e Tainã. Telma, que também é cantora e lançará em junho seu primeiro CD, com participações de Chico Buarque, Hermeto Pascoal e do pianista e arranjador Leandro Braga, conta que essa canção já foi feita há algum tempo e fala de uma saudade, de "uma pessoa que vai embora mas sempre volta para aquele amor". "Na camisa de seda/ Um perfume à francesa restou no colarinho/ A garrafa na mesa e no chão duas taças de vinho", diz a letra.

"As mulheres compositoras estão com tudo. Além da canção da Telma, tem também no meu disco uma música de Solange Di César que é de cortar os pulsos", conta Alcione, referindo-se ao samba-canção A Paixão Tem Memória, parceria de Solange com o jovemguardista Ed Wilson. "Não toque em mim/ A paixão tem memória/ E se o coração resolve me trair logo agora/ Não dá para fugir", dizem os versos de forte apelo popular. "Retomamos a parceria recentemente e pretendemos compor mais juntos. Essa música iria se chamar Não Toque em Mim, mas como a Roberta Miranda tinha uma música com esse refrão, o produtor achou melhor trocá-lo", conta Ed Wilson, compositor que já foi sucesso na voz da Marrom com a balada Quem É Você ouvir 30s.

Sempre lançando compositores e mantendo a verde e rosa no coração, Alcione prossegue em seu caminho na MPB, na sempre delicada tarefa de agradar às duas facções de seu público: a sofisticada e a popular.