Almir Chediak é assassinado em Petrópolis (RJ)

Aos 52 anos, o violonista que se tornou sinônimo dos melhores songbooks da MPB foi sequestrado e baleado

Marco Antonio Barbosa
26/05/2003
Almir Chediak, o violonista, produtor e compositor que virou sinônimo de songbook no Brasil, foi sequestrado e assassinado - aos 52 anos de idade - na noite deste domingo (dia 25), na cidade de Petrópolis, interior do Rio de Janeiro. As investigações preliminares sobre o crime indicam que Chediak e sua namorada, Sami da Costa Alves, foram atacados por uma dupla de assaltantes armados na casa do violonista, na Estrada das Perobas. Depois de amarrar o casal, os bandidos levaram Chediak e Sami até a Estrada do Rocio no carro do violonista. Chegando lá, Chediak foi obrigado a descer do veículo várias vezes baleado, inclusive na cabeça. Sami da Costa Alves foi então liberada pelos criminosos, que fugiram no carro do músico; o automóvel foi encontrado algumas horas depois pela polícia, incendiado.

Sami da Costa prestou depoimento à polícia na delegacia de Itaipava, mas não se pronunciou à imprensa. Segundo ela, os bandidos surgiram na casa de Chediak (no distrito de Araras) por volta das 22h30, em uma moto. A moça contou à polícia que ouviu, do carro, os tiros que mataram seu namorado; logo em seguida, os bandidos a soltaram na Estrada do Rocio, na descida da serra em direção à capital. Sami pediu ajuda em uma casa próxima e contactou a polícia, que na manhã de hoje encontrou o corpo de Chediak próximo ao acostamento da estrada. A polícia investiga a possibilidade de uma vingança encomendada contra Chediak.

Cifrando a música popular brasileira
Almir Chediak, nascido em Três Corações (MG) em 1950, notabilizou-se primeiro como um dos mais requisitados professores de violão do Brasil - tendo lecionado para aprendizes ilustres como Carlos Lyra, Tim Maia, Gal Costa, Elba Ramalho, Marina, Nara Leão e Moraes Moreira. Mas foi com sua série de songbooks, um trabalho único de pesquisa e reconstuição musical de grandes nomes da MPB, que o violonista assegurou seu nome na história de nossa música popular.

Desde muito jovem Chediak interessou-se por música, mais especificamente pelo violão. Teve na infância formação clássica, interpretando peças de Villa-Lobos e Bach; ao entrar em contato com o célebre violonista Dino 7 Cordas, começou a pesquisar, de forma autodidata e sem frequentar escolas formais, o universo da música popular brasileira. Depois de quebrar a cabeça tentando decifrar as harmonias do violão de João Gilberto (de quem mais tarde tornou-se amigo), tornou-se obcecado por sistematizar as sutilezas dos acordes, dissonâncias e harmonias da MPB. "O estudo é importante. Agora, depois de aprender, deixe tudo isso e faça aquilo que seu coração mandar, deixe que as coisas fluam por outros canais, não só o da técnica", disse o músico certa vez.

Depois de escrever seu primeiro método de violão (não editado) aos 18 anos, Chediak foi acumulando prestígio como professor. Em 1984, lança pela editora Irmãos Vitale o Dicionário de Acordes Cifrados, marco na padronização de acordes na teoria musical brasileira. Seguiram-se os dois volumes de Harmonia e Improvisação, estes já lançados pela Lumiar Discos & Editora - a produtora que Chediak montou para suas obras. Em 1989 ele lança seu primeiro songbook, dedicado a Caetano Veloso. Já neste lançamento pioneiro, estava a marca da meticulosidade de Chediak; no lugar de cifras mal-tiradas, letras erradas e harmonias equivocadas, que infestavam as edições similares até então, via-se um criterioso trabalho de recriação das canções, feito em conjunto com o próprio Caetano.

A boa acolhida que o volume dedicado a Caetano estimulou Chediak a continuar mapeando a MPB. Seguiram-se songbooks de Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Braguinha, Djavan, Noel Rosa, Cazuza e vários outros (consulte a lista completa no site da editora, http://www.lumiar.com.br). A Lumiar também lançava CDs acompanhando os livros - sempre com grandes nomes interpretando as canções cifradas nos songbooks. O próximo homenageado da série será João Bosco, num pacote de CDs e songbook a ser lançado ainda este ano.

Além de suas atividades teóricas e didáticas, Chediak também era compositor, autor de trilhas sonoras para o cinema e produtor (tendo trabalhado recentemente com Rosa Passos e João Donato). Nos últimos meses, dedicava-se a escrever uma biografia de Tim Maia, de quem foi amigo pessoal.