Amon Tobin, o <i>nosso</i> astro no cenário eletrônico mundial

Em sua primeira turnê pelo Brasil, o DJ carioca criado no exterior fala de sua relação com a música brasileira e diz que não compõe pensando nas pistas de dança

Nana Vaz de Castro
25/04/2001
Pelo nome, ninguém diz que ele é brasileiro. Talvez se usasse seu nome de batismo, Amon Santos de Araújo, ficasse mais fácil deduzir que Amon Tobin (o sobrenome Tobin é emprestado do padrasto irlandês) é carioca — ainda que não exatamente "da gema". Saiu do Rio antes de completar dez anos, e morou no Marrocos, Holanda, Londres, Portugal e Ilha da Madeira antes de se fixar em Brighton, no sul da Inglaterra, onde vive atualmente.

Incensado pela crítica internacional como um criadores mais originais da música eletrônica desde seu primeiro disco, Bricolage (97) ouvir 30s, Tobin está no Brasil (onde mora boa parte de sua família) a trabalho pela primeira vez. A estréia não foi lá muito animadora. Nas suas primeiras apresentações em Recife, semana passada, durante o Abril Pro Rock, o DJ tocou para pouquíssimas pessoas, prejudicado pelo horário (mais de três da manhã) e pelo efeito devastador das apresentações anteriores, que deixaram o público na lona (leia matéria).

Mesmo assim Tobin não desanima. Hoje à noite a recepção deve ser diferente no Sesc Pompéia, em São Paulo, onde se apresenta depois do grupo paulista de funk/rap Mamelo Sound System (leia matéria). "Tocar no Brasil tem, para mim, uma importância sentimental", diz o DJ, que se apresenta também em Belo Horizonte (sexta, no Elektronica Festival) e no Rio (sábado, na festa Loud!, encerrando sua turnê brasileira). Dos seus quatro discos, entretanto, apenas Permutation (98) ouvir 30s foi lançado no Brasil, pelo selo Subsolo. Os outros (Adventures in Foam Intro, de 96 — assinado com o pseudônimo Cujo —, Bricolage e Supermodified ouvir 30s, de 2000) permanecem inéditos por aqui.

Ultimamente Tobin tem trabalhado com mais artistas brasileiros, mas afirma que não é proposital. Segundo ele, o fato de ter participado dos discos Tanto Tempo, de Bebel Gilberto (em Samba da Bênção ouvir 30s, de Baden Powell e Vinicius de Moraes), Postmodern Platos, o disco de remixes de Tom Zé (na música Defect 2: Curiosidade ouvir 30s) e Revenge of the Killer Bees, de Airto Moreira (na faixa Chicken in Mind ouvir 30s), não indica uma tendência predeterminada. "Simplesmente aconteceu, eu gosto de trabalhar com pessoas e músicas interessantes, não importa de onde elas venham."

Bossa nova e eletroacústica
Ele também não gosta muito da mítica de exotismo que o envolve pelo fato de ser brasileiro. De fato, faixas como Chomp Samba ouvir 30s, um de seus primeiros trabalhos de maior repercussão (do primeiro disco), que explorava largamente sua, digamos, "brasilidade" através de uma batucada, são parte do seu passado. "Agora estou indo mais longe, explorando e processando os sons de samba de uma forma mais digital" diz este fã confesso de Tom Jobim, Jorge Ben Jor e Milton Nascimento. "Gosto especialmente da música que eles faziam nos anos 70", acrescenta.

A bossa nova também é uma influência em seu trabalho (basta ouvir o violão de One Day in My Garden ouvir 30s), assim como a música erudita contemporânea e sua vertente eletroacústica (ele cita Stockhausen como referência, observável em faixas como Golfer vrs Boxer ouvir 30s). Mas o que fala mais forte em seu trabalho de colagens sonoras é o jazz (explícito, entre outras faixas, no piano-baixo-bateria de Night Life ouvir 30s). Tudo, é claro, reprocessado digitalmente e com inserções de drum’n’bass e jungle.

Tobin — que chegou a tocar violão, teclado e gaita em barzinhos e até mesmo na rua, quando vivia em Portugal — não nega o drum’n’bass, mas não considera que seus discos se restrinjam a esse estilo. "Não faço música com o objetivo de manter as pessoas na pista de dança. Felizmente meu trabalho me permite uma liberdade maior nesse sentido, de explorar mais sons", afirma. Exploração e investigação são os conceitos-chave em sua obra: "Calculo que 90% do processo de criação e composição estão no ato de ouvir música, estar atento a tudo que eu possa usar para samplear e usar nos meus arranjos. De certa forma sempre foi assim, sempre ouvi música prestando muita atenção", conta.

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