Ana Terra celebra com show os 25 anos de carreira

Pouco conhecida do público, a letrista de Amor, Meu Grande Amor, Meu Menino e Essa Mulher conta fatos marcantes de sua trajetória e fala do seu lado místico

Rodrigo Faour
26/07/2000
E lá se vão 25 anos de letras bem construídas – com uma sensibilidade feminina à flor da pele – da letrista e escritora Ana Terra. Ela é co-autora de alguns clássicos da MPB consagrados nas vozes de Ângela Ro Ro (Amor, Meu Grande Amor e Quero Mais), Elis Regina (Essa Mulher, Sai Dessa e Pé sem Cabeça), Maria Bethânia (Da Cor Brasileira), Milton Nascimento e Nana Caymmi (Meu Menino) e Marina Lima (Ensaios de Amor).

Essas músicas estão no roteiro do show Essa Mulher, que Ana Terra leva esta quinta-feira, ao palco do Teatro Municipal de Niterói (RJ). Ela recita diversas letras e poemas, enquanto a cantora Pat Megalle, acompanhada pelo violonista Betinho Maciel, interpreta suas canções mais marcantes e algumas parcerias novíssimas com Sueli Costa (Insana e Nunca Mais Adeus), Elton Medeiros (Virando Pó e Direito à Vida) e Lisa Ono (Os Dois).

Mas, com tantas músicas de sucesso, porque ninguém conhece Ana Terra? A razão é simples. Como ela é uma das raras letristas da MPB que não cantam nem compõem, isso faz com que ela raramente se apresente e quase nunca apareça na TV. "Em 1989, participei do projeto Poeta Mostra tua Cara, que visava a fazer com que os letristas aparecessem para o público. A partir daí, algumas vezes fui chamada para projetos desse tipo. São shows em que levo cantores, conto poemas e narro histórias das músicas", explica.

Ao lado de Joyce e Fátima Guedes, Ana foi uma das primeiras letristas da MPB a se expor sem maiores pudores. "As mulheres ficam muito emocionadas, se identificam com minhas letras, mas alguns homens também se vêem em músicas como Da Cor Brasileira", diz Ana. A letra desta canção está acima de disputas sexuais: "Esse homem que passa na rua/ Que encontro na festa e me vira a cabeça/ É aquele que me quer só sua/ E, ao mesmo tempo, que eu seja mais uma/ De quem falo, ele é feio e bonito/ Mais velho e menino, meu melhor amigo/ É o homem da cor brasileira/ A loucura e besteira, que dorme comigo".

Parcerias com Danilo, Joyce e Ro Ro
A primeira música gravada de Ana Terra foi Contra o Vento, uma parceria com o ex-marido, Danilo Caymmi, gravada pelo Tamba Trio. "Eles pediram ao Danilo algumas músicas para seu disco, e escolheram justamente a parceria dele comigo". Depois disso, em 1977, Nana Caymmi gravou Meu Menino. "Aí, o Milton ouviu o disco da Nana e, quando chegou nessa faixa, ele pediu: ‘Bota de novo essa’. Gostou e disse: ‘Vou gravar essa também’. E a gravou no álbum Clube da Esquina 2", conta.

Logo a seguir, Ana compôs Da Cor Brasileira e Essa Mulher, com Joyce, que acabaram gravadas, respectivamente, por Maria Bethânia e Elis Regina. "Fiz Essa Mulher num dia de muito cansaço. Comecei pela última estrofe. Quando ouviu, a Elis se identificou tanto com a música que acabou dando nome ao disco dela. Disse que parecia que a música tinha sido feita para ela! Aliás, todas as mulheres dizem isso! É uma letra que fala dos arquétipos típicos do homem e da mulher", analisa Ana.

No mesmo, 1979, Ângela Ro Ro gravava o blues Amor, Meu Grande Amor em seu primeiro LP. Foi o primeiro grande sucesso não só da cantora como também de Ana. "As pessoas estranharam muito o fato de eu ser parceira da Ângela porque somos completamente diferentes. Só fui conhecê-la pouco antes dela gravar a nossa parceria", diz. Graças à regravação de Amor pelo Barão Vermelho, em 1996, Ana voltou a ter seus versos na boca dos jovens. "A música pegou um outro público que não me conhecia. Agora os amigos do meu filho mais novo, que tem 21 anos, sabem quem eu sou", diverte-se.

De astróloga a coordenadora de TV Comunitária
Passado seu boom como letrista, a partir de meados dos anos 80 Ana passou a atuar noutras frentes que não a música. Trabalhou na Amar (Sociedade de direitos autorais) e entrou numa fase mística, que a levou até a dar consultas como astróloga. "Depois daqueles 0800 astrais (risos), ficou meio esquisito! Eu trabalhava com a astrologia pelo lado terapêutico. Hoje em dia, faço só para os amigos, mas pretendo retomar um dia", diz.

Em 1995, Ana publicou Estrela, livro de prosa, pela Editora Achiamé, e continuou ministrando palestras sobre temas esotéricos. Ano passado, ingressou na ONG Viva Niterói, como membro do conselho consultivo e integrou a comissão para implantação do Canal Comunitário da TV Cidade de Niterói (RJ), do qual hoje é coordenadora executiva. Ano passado, ainda foi premiada no concurso de roteiros de longa-metragem do Ministério da Cultura, com o original Os Campos de São Jorge.