Andréa Marquee: de <i>Cambaio</i> à Europa

Cantora e atriz paulistana, elogiada pela revista americana de jazz Down Beat, desdobra-se entre os ensaios de musical de Chico e Edu e uma turnê que inclui o festival Womad, na Inglaterra

Carlos Calado
09/03/2001
No intervalo de um dos intensivos ensaios diários do musical Cambaio, na tarde de quarta-feira, Andréa Marquee nem sabia ainda que tinha recebido um elogio na última edição da revista norte-americana Down Beat, considerada uma espécie de Bíblia do jazz. Ao comentar o lançamento nos EUA da compilação Brasil 2mil: The Soul of Bass-O-Nova (pelo selo Six Degrees), o crítico Aaron Cohen destacou a performance da cantora paulistana ao lado de intérpretes brasileiras já mais conhecidas no mercado americano, como Bebel Gilberto e Virgínia Rodrigues.

"Na verdade, eu não esperava tudo isso. Tento não criar muita expectativa, para não ficar muito nervosa", diz Andréa, tentando controlar a ansiedade, no momento em que sua carreira solo de cantora, lançada oficialmente no ano passado com o CD Zumbi amostras de 30s (YBrazil?Music), parece decolar especialmente no exterior. No próximo mês de julho, ela fará sua primeira turnê pela Europa, com um roteiro que inclui shows em festivais e casas de espetáculo de pelo menos 10 países, incluindo o badalado Womad Festival, na Inglaterra.

Depois de ter participado, desde 1993, de musicais como Hair, Rent, Cabaré Brasil, Nas Raias da Loucura e Do Kitsch ao Sublime, a cantora e atriz paulistana já se sentia menos estimulada a trabalhar em teatro. Porém, ficou animada com a possibilidade de atuar num espetáculo assinado por Chico Buarque e Edu Lobo, sob a direção musical do pernambucano Lenine. "Antes de aparecer essa história do Cambaio, eu já estava pensando em fazer uma releitura de Pedro Pedreiro, do Chico, para meu próximo disco. Achei que era muita coincidência, além de ter tudo a ver com a minha história. Até a década de 80 eu só ouvia música brasileira. Na verdade, sei muito pouco de pop", reconhece.

Mesmo sendo obrigada a recusar alguns trabalhos como cantora, por causa dos ensaios de Cambaio, que começaram há um mês e meio, Andréa diz que isso não a preocupa. "Estou aprendendo muita coisa. Hoje a gente já não ouve tanto letras como as do Chico Buarque ou melodias como as do Edu Lobo", elogia a intérprete, que vem chamando atenção em seus shows justamente com versões eletrônicas de pérolas e clássicos da MPB assinados por Jorge Ben Jor (Agora Ninguém Chora Mais), Caetano Veloso (You Don’t Know Me) e Ataulfo Alves (Mulata Assanhada), entre outros.

Reforço de música eletrônica
Em sua primeira turnê européia, a ex-vocalista da big band Heartbreakers (com a qual atuou por quatro anos, cantando salsa, jazz e música brasileira) pretende levar o energético quarteto que a tem acompanhado em shows, formado por Webster Santos (guitarra e bandolim), Quincas Moreira (baixo), Ricardo Garcia (percussão) e Curumim (bateria). Andréa também terá a seu lado o músico e produtor mineiro Paulo Beto, conhecido no circuito de música eletrônica como Anvil FX.

"Com ele, o lado eletrônico do meu trabalho certamente vai crescer, porque até agora o meu baixista acumulava a função de soltar os samples. Essa parte vai melhorar bastante com o Anvil", diz a cantora, revelando que a parceria deve continuar em seu segundo CD, que começa a ser produzido após a turnê. "Ainda nem tive tempo de fazer o convite, mas quero muito que ele faça alguma coisa em meu próximo disco. Vou pensar mais nisso na volta da viagem", revela.

Em fase de conversações com o YBrasil?, Andréa ainda não definiu se gravará novamente pelo selo alternativo paulistano. "Já tenho algumas músicas novas, que estou fazendo com os meninos e o Anvil, mas ainda ainda não as estou mostrando em shows. Antonico, por exemplo, é de uma safra mais recente e deve entrar nesse próximo trabalho", diz ela, mencionando o irresistível arranjo do clássico samba de Ismael Silva, que tem aberto suas últimas apresentações, em São Paulo. "Eu queria que o disco fosse um pouco mais pesado", avisa a cantora, afirmando que pretende continuar fazendo releituras de clássicos da MPB. "Não tenho a pretensão de ser uma compositora. Às vezes eu faço isso e tem dado certo, mas ainda quero me divertir bastante".