Ângela Maria <i>recomeça</i> com <i>Disco de Ouro</i>

Cantora regrava Lulu Santos, Djavan e Peninha no seu primeiro trabalho lançado em três anos

Tatiana Tavares
19/10/2003
Há 52 anos ela vem brilhando no palco, mostrando que a música brasileira de qualidade sempre terá seu espaço garantido em um país musical por excelência. Com disco novo saindo do forno, Angela Maria diz não ter preconceitos em relação à música jovem e garante estar aberta para as novidades de um mercado muitas vezes tão injusto com quem não está nas paradas de sucesso. "Sem falsa modéstia. Me considero uma guerreira por estar aí há tanto tempo, fazendo o que eu gosto e mantendo intacta a qualidade do meu trabalho", diz a "Sapoti". O nome da nova bolacha é Disco de Ouro, primeiro trabalho da cantora pela Lua Discos - para onde foi convidada pelo próprio fundador do selo, Thomas Roth.

E para se manter em evidência, Angela, que admite não ter nada o que reclamar da mídia, diz que é preciso se reciclar. Ainda assim, lembra que desde 1999 (quando saiu da multinacional Sony) não lançava um novo álbum. "Por isso, para me aproximar do público mais jovem, escolhi canções de gente como Cazuza e Lulu Santos para fazer parte do meu novo disco", conta a cantora.

A eterna intérprete de Babalu lembra que a escolha do repertório para o CD foi feita a partir de seu gosto pessoal. "Selecionei músicas de que gosto e tinha curiosidade de saber como ficariam na minha voz. Trabalhei também com gente jovem na banda, o que deu uma cara renovada também às composições mais antigas". Disco de Ouro fundamenta-se em baladas, como não poderia deixar de ser. Os arranjos vão na onda tradicional do som da cantora, remanescente ainda dos sambas-canção e dos boleros que canta desde os anos 50. Angela submete a essa lógica desde a MPB de Djavan (Oceano) ao popularzão Peninha (Sozinho), além de sucessos como Faz Parte do Meu Show ou Como uma Onda.

Angela diz que não teme ser rotulada de oportunista, ou que confundam o novo repertório com uma tentativa equivocada de modernização à força. "O que une essas músicas é a beleza delas, não os gêneros ou compositores. Creio que em muito tempo pude fazer exatamente o disco que eu queria gravar, com coisas que nunca cantei antes, arranjos modernos", afirma. Faz questão também de reassegurar sua coerência de intérprete popular. "Só tem sucessos neste disco. É o que sempre fiz, sempre cantei o que o povo gosta e aprova."

Angela pretende lançar um novo álbum só com inéditas no ano que vem e está aberta a receber novidades de compositores. "Não tenho preconceitos. Só acho importante que as músicas que gravo tenham qualidade. Foi essa qualidade que me fez sobreviver durante todos estes anos", diz a cantora que, ao lado de Cauby Peixoto, é uma das poucas artistas remanescentes de sua geração. "Nós nunca deixamos de aparecer em programas de TV e aceitar convites para entrevistas por exemplo. Isso faz com que tenhamos uma boa relação com a mídia, o que é fundamental para que estejamos em evidência".

Tempos difíceis
Angela Maria compara o mercado fonográfico atual com o de 50 anos atrás, quando iniciou sua carreira e conclui que as coisas hoje são bem mais fáceis. "A verdade é que hoje não é preciso saber cantar. Com a existência dos botões e da tecnologia, não é mais necessário estar no tom, no ritmo e tudo mais", diz. "Eu continuo gravando da maneira que considero certa, sem me utilizar de programas fantásticos. Particularmente, me orgulho de ainda possuir uma boa voz e, por isso, acho que não preciso usar recursos que a deixem artificial".

Impressionada com o fato de a música de hoje ser tão descartável, a cantora garante que é com os artistas mais antigos que ainda estão as melhores canções da nossa música popular. "Tanto isso é verdade que apesar de não estarmos nas paradas, podemos ver nosso público se renovando. É por isso que também não dispenso as novas composições".

Ela ressalta que durante todos estes anos nunca foi esquecida ou deixou de fazer shows. "Me apresento em vários lugares do país e sou sempre muito bem recebida. Tenho sido homenageada por estes 50 anos de carreira e isso me deixa muito contente e grata. É um reconhecimento para o meu trabalho".