Ângela Ro Ro celebra Moreira na volta aos estúdios

Acertei no Milênio e outras inéditas da cantora entram em seu primeiro disco de carreira em 12 anos, que sai em agosto

Rodrigo Faour
06/06/2000
Há muito tempo a sempre irreverente Ângela Ro Ro devia um disco de inéditas aos seus fãs. Ela estava ausente dos estúdios desde o LP Prova de Amor, de 1988. Depois disso, só gravaria, sete anos atrás, o ao vivo Nosso Amor ao Armagedom e faria participações nos songbooks de Almir Chediak. Pois em agosto Ângela lança o tão esperado CD, que vai trazer músicas inéditas e regravações. Este é apenas um dos mais de dez discos que a cantora Jane Duboc e o produtor Paulo Amorim pretendem colocar no mercado, via selo Jam, que abriram há pouco mais de seis meses. "Chega de preguiça", murmura Ro Ro, com seu humor peculiar.

A cantora tinha dois projetos no bolso. Ou faria um disco normal de carreira ou um chamado Samba & Jazz, com clássicos dos dois gêneros compostos nas décadas de 30 a 50, unindo Cole Porter e George Gershwin a Aracy de Almeida e Assis Valente. Optou pelo primeiro. "Este disco de samba e jazz ainda vou fazer algum dia, mas agora achei melhor apresentar algumas coisas minhas inéditas, mesclando com regravações de músicas de Chico Buarque e Wilson Batista", diz a maior blueseira do Brasil que promete surpreender o público com o espírito de suas novas composições.

"Sabe que agora dei para compor sambas?" – diz, animada. "Agora que voltei a compor, estão saindo umas coisinhas assim bem simples. Já tinha composto sambas, mas agora já saíram uns dois da nova fornada", conta a cantora que compôs um deles em parceria com o seu fiel escudeiro, o tecladista Ricardo MacCord, uma homenagem a Moreira da Silva (que, infelizmente, acabou por coincidir com a morte do cantor). "Quando eu era pequena, ouvia muito no rádio aquele samba que dizia: Etelvina, acertei no milhar/ Ganhei 500 réis/ Não vou mais trabalhar (Acertei no Milhar). Fizemos uma paródia sofisticada, sem plágio – que fique bem claro! – e com respeito. Fiz a letra e parte da música, e o Ricardo complementou com o restante da música", antecipa. A letra traz o inconfundível humor da cantora:

"Brasileiro
Acertei no milênio
Ganhei 500 anos
Eu quero trabalhar"

De fato, a retomada da Ângela sambista é uma surpresa pois em toda sua discografia, acha-se apenas um samba-choro de sua autoria, Fraca e abusada, do LP Escândalo (1981), que dizia "Eu não preciso rogar praga de madrinha/ Pra saber que brevemente estarás mal e sozinha". Mas, por enquanto, Ângela antecipa apenas a referida Acertei no Milênio. As outras composições ela ainda não pode revelar. Tem seus motivos. "Esta já está editada pela Sony, posso entregar. As outras ainda estamos preparando", justifica ela, que está tiririca com as obras do metrô em Copacabana pois estão tirando completamente seu sossego. "É barra pesada, cara! São britadeiras o dia inteiro. É Jurassic Park! Insuportável. Não sinto dores de cabeça assim há muito tempo. É um soundtrack... a trilha sonora do pesadelo", sofre Ângela que está acertando os ponteiros para se mudar temporariamente para um hotel.