Arlindo Cruz & Sombrinha gravam ao vivo
Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Almir Guineto e Péricles do ExaltaSamba participam do primeiro CD da dupla na Indie Records
Rodrigo Faour
16/08/2000
Comemorando 20 anos de parceria, os pagodeiros Arlindo Cruz e Sombrinha mostram que podem fazer samba suingado e romântico sem abrir mão da qualidade. Depois de três discos juntos, os ex-integrantes do grupo Fundo de Quintal foram contratados pela Indie Records e gravaram no último dia 11 um CD ao vivo na Catedral do Samba (SP), em show prestigiado por um público de 1.500 pessoas. "Fora as 500 que voltaram porque não tinha lugar", alegra-se Arlindo. Seguindo a tendência do mercado, muito favorável a esse tipo de produto, a Indie – o azarão das gravadoras, que fez nomes como Jorge Aragão e Luiz Melodia chegarem ao disco de ouro e de platina dupla com seus álbuns ao vivo –, aposta suas fichas na dupla, recém-saída da Universal. A previsão é que o disco saia em quinze dias.
Por que Arlindo e Sombrinha trocaram a Universal pela Indie? "Na verdade, foi a Universal quem trocou a gente", ri Arlindo, assumindo que foram dispensados da gravadora apesar de a fábrica continuar jogando coletâneas com músicas suas no mercado. "Ou seja, nosso produto continua vendendo", deduz. Arlindo conta que a dupla ficou dois anos sem gravar e, depois de ter sido sondada por outros selos como a BMG e a Continental, acabou assinando com a Indie, motivada pelo sucesso que Jorge Aragão, companheiro dos tempos do Fundo de Quintal, fez na companhia.
No repertório, há diversas músicas que foram sucesso nas vozes dos novos grupos de pagode. Sim, porque eles não têm preconceito com a moçada mais nova e dizem que há, especialmente em São Paulo, um portentoso público jovem que prestigia seus shows e que discute com toda a pompa sobre sambistas antigos. "Temos uma média boa de público que vem crescendo com o fato de os jovens estarem curtindo samba. Eu até acho que esses grupinhos novos fizeram com que a rapaziada procurasse nossos sambas. Eles querem aprender sambas mais antigos e começaram a pesquisar a gente também. A faixa etária de nosso público está entre 17 e 18 anos, não é mais de 30 a 40 como antes", conta.
Sucessos e apenas uma inédita
Quase todos os neopagodeiros já gravaram músicas de Arlindo Cruz e Sombrinha, como Art Popular, Katinguelê e Soweto, cujo sucesso Estrela da Paz foi regravado no atual CD. Duas que eles forneceram ao grupo Sensação também foram novamente registradas, Um Dia e Fim da Tristeza. "Com a exceção do Só Pra Contrariar e do Raça Negra, já fomos gravados por praticamente todos os grupos de samba", orgulha-se Arlindo, que também incluiu sucessos de sua autoria que obtiveram êxito nas vozes de bambas de primeira, como Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Jovelina Pérola Negra, tais como Bagaço da Laranja e a recente Ainda é Tempo pra Ser Feliz.
Das 14 faixas do CD, três possuem convidados especiais: Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Péricles, do grupo Exaltasamba. Os dois primeiros num pot-pourri de partido alto que inclui Cavaquinho do Salgueiro, A Barca (de Paquetá) e Serrinha, que versa sobre o subúrbio de Madureira. Já Beth participa em Saudade que Não se Desfaz, gravada por ela no pouco divulgado LP Brasileira da Gema (1996). Finalmente, Péricles canta com eles um pot-pourri de Wilson Moreira, com Não Tem Veneno e Só Chora Quem Ama. A única inédita do álbum é Papinha. "É uma brincadeira. Uma papinha de neném, que fala do cara que acorda de ressaca e vem a mulher trazer a papinha", diverte-se Arlindo, que a compôs em parceria com Maurição e Carlos Senna.
Samba, amor e política
A receita do sucesso da dupla, segundo Arlindo, vem da amizade mútua. "Somos bastante cúmplices, amigos, irmãos, compadres. Só por isso já daria certo. Mas ainda por cima a gente combina musicalmente", explica o sambista, que já tem ao lado do companheiro Sombrinha mais de 300 sambas gravados. De onde vem o alimento para tantas músicas? "Do feijão com arroz", brinca. "Temos a velha história da transpiração e inspiração de que Tom Jobim já falava. Hoje em dia é mais transpiração. Como nem sempre surgem temas novos, os sambas acabam versando mais sobre amor, às vezes malandragem. Pintam gírias novas no partido e a gente também as inclui... Mas falar de amor é sempre bom", acredita.
Mas e os temas políticos, que durante tanto tempo fizeram parte da tradição do samba? Ele concorda que o rap acabou garfando um pouco desta parte da contestação e denúncia, antes mais comuns nos sambas. "Nem sei explicar por que o samba perdeu um pouco esse lado. Eu mesmo que já fiz tantos assim... agora parei um pouco. Acho que o momento está mais para se falar de amor. Se bem que atualmente o que vem rolando no Brasil é um prato delicioso para os sambistas".
Arlindo se lembra de um samba que está compondo com Almir Guineto que promete "mexer com todo mundo". "Estou começando um samba falando da farmácia, do problema dos genéricos. Assim que acabar, vamos mostrar para a Beth Carvalho, para ver se ela grava. Realmente, há temas como o do juiz Nicolau, que são ótimos. Acho que vou voltar a fazer sambas assim. Boa idéia!", entusiasma-se.
Por que Arlindo e Sombrinha trocaram a Universal pela Indie? "Na verdade, foi a Universal quem trocou a gente", ri Arlindo, assumindo que foram dispensados da gravadora apesar de a fábrica continuar jogando coletâneas com músicas suas no mercado. "Ou seja, nosso produto continua vendendo", deduz. Arlindo conta que a dupla ficou dois anos sem gravar e, depois de ter sido sondada por outros selos como a BMG e a Continental, acabou assinando com a Indie, motivada pelo sucesso que Jorge Aragão, companheiro dos tempos do Fundo de Quintal, fez na companhia.
No repertório, há diversas músicas que foram sucesso nas vozes dos novos grupos de pagode. Sim, porque eles não têm preconceito com a moçada mais nova e dizem que há, especialmente em São Paulo, um portentoso público jovem que prestigia seus shows e que discute com toda a pompa sobre sambistas antigos. "Temos uma média boa de público que vem crescendo com o fato de os jovens estarem curtindo samba. Eu até acho que esses grupinhos novos fizeram com que a rapaziada procurasse nossos sambas. Eles querem aprender sambas mais antigos e começaram a pesquisar a gente também. A faixa etária de nosso público está entre 17 e 18 anos, não é mais de 30 a 40 como antes", conta.
Sucessos e apenas uma inédita
Quase todos os neopagodeiros já gravaram músicas de Arlindo Cruz e Sombrinha, como Art Popular, Katinguelê e Soweto, cujo sucesso Estrela da Paz foi regravado no atual CD. Duas que eles forneceram ao grupo Sensação também foram novamente registradas, Um Dia e Fim da Tristeza. "Com a exceção do Só Pra Contrariar e do Raça Negra, já fomos gravados por praticamente todos os grupos de samba", orgulha-se Arlindo, que também incluiu sucessos de sua autoria que obtiveram êxito nas vozes de bambas de primeira, como Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Jovelina Pérola Negra, tais como Bagaço da Laranja e a recente Ainda é Tempo pra Ser Feliz.
Das 14 faixas do CD, três possuem convidados especiais: Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Péricles, do grupo Exaltasamba. Os dois primeiros num pot-pourri de partido alto que inclui Cavaquinho do Salgueiro, A Barca (de Paquetá) e Serrinha, que versa sobre o subúrbio de Madureira. Já Beth participa em Saudade que Não se Desfaz, gravada por ela no pouco divulgado LP Brasileira da Gema (1996). Finalmente, Péricles canta com eles um pot-pourri de Wilson Moreira, com Não Tem Veneno e Só Chora Quem Ama. A única inédita do álbum é Papinha. "É uma brincadeira. Uma papinha de neném, que fala do cara que acorda de ressaca e vem a mulher trazer a papinha", diverte-se Arlindo, que a compôs em parceria com Maurição e Carlos Senna.
Samba, amor e política
A receita do sucesso da dupla, segundo Arlindo, vem da amizade mútua. "Somos bastante cúmplices, amigos, irmãos, compadres. Só por isso já daria certo. Mas ainda por cima a gente combina musicalmente", explica o sambista, que já tem ao lado do companheiro Sombrinha mais de 300 sambas gravados. De onde vem o alimento para tantas músicas? "Do feijão com arroz", brinca. "Temos a velha história da transpiração e inspiração de que Tom Jobim já falava. Hoje em dia é mais transpiração. Como nem sempre surgem temas novos, os sambas acabam versando mais sobre amor, às vezes malandragem. Pintam gírias novas no partido e a gente também as inclui... Mas falar de amor é sempre bom", acredita.
Mas e os temas políticos, que durante tanto tempo fizeram parte da tradição do samba? Ele concorda que o rap acabou garfando um pouco desta parte da contestação e denúncia, antes mais comuns nos sambas. "Nem sei explicar por que o samba perdeu um pouco esse lado. Eu mesmo que já fiz tantos assim... agora parei um pouco. Acho que o momento está mais para se falar de amor. Se bem que atualmente o que vem rolando no Brasil é um prato delicioso para os sambistas".
Arlindo se lembra de um samba que está compondo com Almir Guineto que promete "mexer com todo mundo". "Estou começando um samba falando da farmácia, do problema dos genéricos. Assim que acabar, vamos mostrar para a Beth Carvalho, para ver se ela grava. Realmente, há temas como o do juiz Nicolau, que são ótimos. Acho que vou voltar a fazer sambas assim. Boa idéia!", entusiasma-se.