Arnaldo Brandão vira o disco e começa de novo
Veterano do pop-rock nacional exorciza passado recente e lança o primeiro disco solo, por seu próprio selo independente
Marco Antonio Barbosa
30/01/2002
(clique para ampliar) |
Cercado por uma banda mais jovem, que inclui Sérgio Serra (ex-Ultraje a Rigor e banda de apoio da Legião Urbana), aos 50 anos Arnaldo reconcilia-se consigo mesmo como compositor e cantor no disco. Funciona como uma ponte entre os dois universos que ele freqüentou (e freqüenta): a MPB e o pop-rock. Arnaldo, vale a pena recapitular, foi baixista de Caetano Veloso (na Outra Banda da Terra) e formou os grupos Brylho e Hanoi Hanoi. Ainda teve tempo de compor sucessos como Rádio Blá (com Lobão) e O Tempo não Pára (com Cazuza).
"Sou roqueiro, mas ando realmente numa fase de valorizar nossa música. E isso se reflete nas minhas composições. O disco é cheio de guitarras, é um álbum de rock, mas agora me espelho em compositores como o Lenine, por exemplo. O que não chega a ser uma limitação criativa para mim. O CD é cheio de informação", afirma Arnaldo, que trocou o baixo pela guitarra pela primeira vez no disco.
O repertório, todo de autoria de Arnaldo (com a colaboração substancial do parceiro Tavinho Paes), vem sendo burilado ao longo dos cerca de três anos de formação do Plano D. "Quis fazer muita crítica social, comentar a bobeira e a falta de visão da classe média. Sei do que estou falando, pois na verdade estou comentando sobre as coisas e as pessoas que me cercam. O discurso passou a ser mais importante", fala Arnaldo. "O disco todo é ácido, não tem canção de amor nem banalidades", completa. Quem ouvir petardos como Tá na Mídia, Dinheiro ou Assistindo TV pode assinar embaixo.
O lançamento de ...E o Plano D fecha a tampa de uma fase no mínimo peculiar na vida e na carreira de Arnaldo. Seu grupo anterior, o Hanoi Hanoi - sucesso com Totalmente Demais nos anos 80 - encerrou as atividades oficialmente há sete anos. "Mas rolaram algumas voltas. Mesmo enquanto eu tocava adiante o Plano D, topei fazer alguns shows com o Hanoi, em lugares como o interior de Minas Gerais - é incrível, mas há muitos pedidos de shows vindos daquela área!", lembra Arnaldo. Ao mesmo tempo, o músico teve de assumir o comando de uma oficina mecânica, herança do pai.
A experiência como gerente de oficina foi ruinosa: as dívidas se acumularam e Arnaldo afinal resolveu fazer o que sabia. Música. "Meu som foi ficando em segundo plano. Mas foi depois da morte do meu pai, e de todas as dificuldades financeiras, que as canções do Plano D foram surgindo", conta. Ao mesmo tempo, a AB Music ia sendo gestado, por Arnaldo e sua parceira Kika Seixas (viúva de Raul Seixas). "O selo tem tudo a ver com este clima de recomeço, e também foi uma forma de eu conseguir mostrar meu trabalho sem depender desses esquemas viciados do mercado, cheios de jabás e coisas do tipo", fala o cantor.
Distribuído pela Ouver, o novo selo não vai parar só no disco de Arnaldo. "Queremos revelar talentos do pop carioca. Ajudar a construir carreiras, e ficar de olho em quem está surgindo", fala o compositor. A próxima aposta da AB Music é o grupo Leela, no qual o filho de Arnaldo, Rodrigo, toca guitarra. O veterano agora se diz com fòlego novo. "Estou me sentindo com moral o suficente para pôr a cara no mundo, encarar a estrada, fazer a minha música chegar às pessoas. A recepção que venho sentindo das pessoas só me deixa mais confiante", declara. Em tempo: quem quiser dar mais apoio ainda a Arnaldo - ou está interessado em mandar material musical para avaliação - pode conectar-se ao e-mail abmusic@arnaldobrandao.com.br.