Arrigo Barnabé conjuga ópera e Freud em SP
Espetáculo O Homem dos Crocodilos marca nova incursão do compositor na música erudita
Marco Antonio Barbosa
19/11/2001
Até o dia 25 deste mês, o público paulista terá a chance de conhecer uma faceta menos óbvia da musicalidade do compositor Arrigo Barnabé. A ópera O Homem dos Crocodilos - Um Caso Clínico em Dois Atos, que estreou no último dia 16, marca o reencontro de Arrigo com o público, depois de passar os últimos sete anos dedicado à composições de câmara puramente instrumentais. O retorno do compositor se dá com um parceiro (o músico e dramaturgo argentino Alberto Muñoz, autor do libreto) e sob a égide de uma mistureba entre psicanálise, música erudita e as já conhecidas invencionices de Arrigo. O espetáculo está no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.
"A idéia original da ópera é de 1994. Eu precisava de alguém para me ajudar com o roteiro, já que da parte musical eu daria conta. O Muñoz chegou na hora exata", narra Arrigo sobre a gênese do espetáculo, profundamente enraizada em estudos da obra de Sigmund Freud. O próprio título da ópera parte de um célebre ensaio do pai da psicanálise, O Homem dos Lobos - devidamente atualizado para o léxico do compositor de Clara Crocodilo . "Os animais na minha obra simbolizam o comportamento humano", explica Arrigo. O "homem dos lobos" original sentia-se acossado pelos animais de seu título - Freud revelou que se tratava de um neurótico obsessivo.
Falando em explicações, segue um resumo da trama de O Homem dos Crocodilos: Antônio (Tiago Pinheiro) é um pianista que não consegue mais compor, por um medo patológico que a tampa do piano lhe caia sobre os dedos, esmagando-lhes. Clara (a cantora Cida Moreira), uma psicanalista, entra em cena para tentar tratar do músico. No consultório da terapeuta, ressurgem do passado as figuras da mãe de Antônio, Celine (Celine Imbert) e de seu pai Hector (Sandro Kristofer). As teorias freudianas entram na peça explicando que o comportamento do compositor se deve a um trauma de infância ligado à mãe.
"Esse 'homem dos crocodilos' sou tanto eu quanto o Alberto (Muñoz)", despista Arrigo. "Mas a história não é biográfica. Eu mesmo iria interpretar o Antônio, mas preferi escolher alguém que fosse um cantor de verdade, como o Tiago é." Além dos atores (e do próprio Arrigo, que narra o espetáculo em off), um grupo de oito músicos interpreta a partitura criada pelo compositor. "Escrever esses temas foi algo muito intenso", fala Arrigo, que pela primeira vez em quase dez anos volta a compor tendo o canto em mente. "É como um reencontro. Mas ainda assim não se trata de uma ópera pop ou coisa do gênero. É um trabalho estritamente erudito." Nenhuma novidade para o compositor, distante do universo pop há tempos.
A idéia original para a composição da peça veio por acaso. "Li a respeito de um livro sobre Freud, chamado O Grito do Homem dos Lobos . O que me interessou foi só o título do livro, eu não tinha idéia do que se tratava", conta Arrigo. O compositor travou contato com o texto original de Freud e ficou impressionado. "No ensaio, ele (o psicanalista) apresenta praticamente todos os conceitos básicos do seu trabalho", diz Arrigo. Ao mesmo tempo em que começava a compor a música para a peça, não se arriscava a produzir ele mesmo o texto para os atores.
Entra então o argentino Muñoz, definido por Arrigo como "irmão artístico e parceiro ideal". Homem de letras mas também compositor musical e formado em psicanálise, o novo parceiro era admirador antigo da obra de Barnabé. "Ele tinha ouvido há tempos o Tubarões Voadores e gostou muito. Do meu lado, gostei do conceito de trabalho teatral que ele tem - algo como um 'teatro para os ouvidos', com muita ênfase no som e na música", lembra Arrigo. Um encontro ainda em 94 entre os dois, em Buenos Aires, marcou o começo da amizade e da parceria. Mas a junção que daria em O Homem dos Crocodilos só frutificaria depois do sinal verde do CCBB-SP, que topou financiar o espetáculo. Chamou a atenção de Arrigo a coincidência de nomes entre a psicanalista da ópera e a própria terapeuta de Muñoz. "Ambas se chamam Clara. E a Cida Moreira - que também é formada em psicologia - que a interpreta, participou da montagem original de Clara Crocodilo", lembra Arrigo.
Afastado da ribalta há bastante tempo, Arrigo afirma que sua "ópera contemporânea" trouxe novos ventos a sua carreira. "Acho que pode representar um novo fôlego para mim. No momento em que comecei a compor essa ópera, estava realmente desesperançado quanto ao futuro de minha carreira aqui no Brasil.", fala o compositor.
"A idéia original da ópera é de 1994. Eu precisava de alguém para me ajudar com o roteiro, já que da parte musical eu daria conta. O Muñoz chegou na hora exata", narra Arrigo sobre a gênese do espetáculo, profundamente enraizada em estudos da obra de Sigmund Freud. O próprio título da ópera parte de um célebre ensaio do pai da psicanálise, O Homem dos Lobos - devidamente atualizado para o léxico do compositor de Clara Crocodilo . "Os animais na minha obra simbolizam o comportamento humano", explica Arrigo. O "homem dos lobos" original sentia-se acossado pelos animais de seu título - Freud revelou que se tratava de um neurótico obsessivo.
Falando em explicações, segue um resumo da trama de O Homem dos Crocodilos: Antônio (Tiago Pinheiro) é um pianista que não consegue mais compor, por um medo patológico que a tampa do piano lhe caia sobre os dedos, esmagando-lhes. Clara (a cantora Cida Moreira), uma psicanalista, entra em cena para tentar tratar do músico. No consultório da terapeuta, ressurgem do passado as figuras da mãe de Antônio, Celine (Celine Imbert) e de seu pai Hector (Sandro Kristofer). As teorias freudianas entram na peça explicando que o comportamento do compositor se deve a um trauma de infância ligado à mãe.
"Esse 'homem dos crocodilos' sou tanto eu quanto o Alberto (Muñoz)", despista Arrigo. "Mas a história não é biográfica. Eu mesmo iria interpretar o Antônio, mas preferi escolher alguém que fosse um cantor de verdade, como o Tiago é." Além dos atores (e do próprio Arrigo, que narra o espetáculo em off), um grupo de oito músicos interpreta a partitura criada pelo compositor. "Escrever esses temas foi algo muito intenso", fala Arrigo, que pela primeira vez em quase dez anos volta a compor tendo o canto em mente. "É como um reencontro. Mas ainda assim não se trata de uma ópera pop ou coisa do gênero. É um trabalho estritamente erudito." Nenhuma novidade para o compositor, distante do universo pop há tempos.
A idéia original para a composição da peça veio por acaso. "Li a respeito de um livro sobre Freud, chamado O Grito do Homem dos Lobos . O que me interessou foi só o título do livro, eu não tinha idéia do que se tratava", conta Arrigo. O compositor travou contato com o texto original de Freud e ficou impressionado. "No ensaio, ele (o psicanalista) apresenta praticamente todos os conceitos básicos do seu trabalho", diz Arrigo. Ao mesmo tempo em que começava a compor a música para a peça, não se arriscava a produzir ele mesmo o texto para os atores.
Entra então o argentino Muñoz, definido por Arrigo como "irmão artístico e parceiro ideal". Homem de letras mas também compositor musical e formado em psicanálise, o novo parceiro era admirador antigo da obra de Barnabé. "Ele tinha ouvido há tempos o Tubarões Voadores e gostou muito. Do meu lado, gostei do conceito de trabalho teatral que ele tem - algo como um 'teatro para os ouvidos', com muita ênfase no som e na música", lembra Arrigo. Um encontro ainda em 94 entre os dois, em Buenos Aires, marcou o começo da amizade e da parceria. Mas a junção que daria em O Homem dos Crocodilos só frutificaria depois do sinal verde do CCBB-SP, que topou financiar o espetáculo. Chamou a atenção de Arrigo a coincidência de nomes entre a psicanalista da ópera e a própria terapeuta de Muñoz. "Ambas se chamam Clara. E a Cida Moreira - que também é formada em psicologia - que a interpreta, participou da montagem original de Clara Crocodilo", lembra Arrigo.
Afastado da ribalta há bastante tempo, Arrigo afirma que sua "ópera contemporânea" trouxe novos ventos a sua carreira. "Acho que pode representar um novo fôlego para mim. No momento em que comecei a compor essa ópera, estava realmente desesperançado quanto ao futuro de minha carreira aqui no Brasil.", fala o compositor.