Artistas celebram o Pepeu Gomes compositor

Um dos maiores guitarristas do país, o baiano volta por meio de músicas gravadas por Jota Quest e Pedro Mariano. Seu próximo projeto, porém, é gravar um disco "de virtuose"

Tom Cardoso
14/07/2000
Pepeu Gomes tinha 14 anos quando resolveu fugir de casa. Queria ser guitarrista a qualquer custo. Tanta rebeldia acabou valendo a pena. Hoje, além de ser presença obrigatória em qualquer lista dos grandes virtuoses brasileiros, o músico também tem sido lembrado como um compositor talentoso. Recentemente, o Jota Quest regravou Um Raio Laser (no disco Oxigênio) e Pedro Mariano, Fazendo Música, Jogando Bola (em Voz no Ouvido). Meses antes, Vânia Bastos atacou de Ele Mexe comigo e Cássia Eller de Um Branco, Um Xis, Um Zero, parceria de Pepeu com Marisa Monte e Arnaldo Antunes. E não esquecendo que a música de trabalho do último disco do Cidade Negra (a coletânea Hits, lançada no ano passado) foi a versão de Eu Também Quero Beijar.

"Fiquei emocionado quando ouvi o Jota Quest tocar Um Raio Laser. É sempre prazeroso ter nossa obra relembrada por músicos da nova geração", diz Pepeu, que acaba de compor uma faixa, junto com Arnaldo Antunes, para o novo disco de Zélia Duncan (Alma) e já tem parcerias agendadas com Carlinhos Brown e Lenine. "Passei três meses estudando harmonia nos EUA e quero cada vez mais aprimorar o meu trabalho como compositor, apesar da guitarra ainda ser a minha grande paixão, a minha vida".

Durante a temporada nos EUA, Pepeu reencontrou velhos conhecidos, como os guitarrista Paco de Lucia, além de ter trocado figurinhas com um de seus ídolos, Jeff Beck. "Quero voltar aos EUA daqui a alguns anos. Aliás, pretendo viajar pelo mundo inteiro, visitar a Índia, encontrar o Ravi Shankar (mestre indiano da cítara), ou seja, fazer tudo aqui que eu tinha vontade quando tinha 20 anos, mas não podia por causa da falta de grana", conta o músico baiano, que, antes de começar sua peregrinação, pretende terminar projetos grandiosos.

Noite dos guitarristas
Se for confirmado como uma das atrações da terceira edição do Rock in Rio, em janeiro do ano que vem, Pepeu deve entrar em estúdio para gravar o disco mais pesado de sua carreira. "Tenho dezenas de músicas inéditas prontas, mas só vou gravar esse disco se participar da noite dos guitarristas do festival. Será um disco de virtuose, pesado mesmo", adianta o roqueiro, que não se empolga ao ser perguntado sobre a nova safra de guitarristas brasileiros. "Não existe atualmente nenhum que me tire do sério. Quero um que me ameace, que tire meu emprego", provoca Pepeu, citando Lanny Gordin, Sérgio Dias Baptista e Armandinho como exemplos de grandes guitarristas do passado.

Corujismo à parte, Pepeu aponta seu filho, Pedro Baby, como um dos grandes guitarristas da próxima geração. "O Pedro está estudando nos EUA, vai ser um grande maestro, tenho certeza disso. Ele tem a vantagem de estar vivendo numa democracia, tem liberdade de sobra pra criar. Não vão raspar o cabelo dele como fizeram comigo na época da ditadura militar". O músico também está orgulhoso com o sucesso de suas três filhas, Sarah Sheeva, Nana Shara e Zabelê, que formam o grupo SNZ, e não se diz surpreso com os novos caminhos de sua ex-mulher, Baby do Brasil, que trocou as noites de farra pela leitura diária da Bíblia. "Acho que a Baby está mais calma e relaxada depois que virou crente. Ela sempre foi muito elétrica, parecia um amplificador".

Homenagem a Paulinho da Viola
Pepeu era ainda um garoto quando dividia um apartamento em Botafogo com os Novos Baianos no começo da década de 70. Na época, o grupo vivia recebendo visitantes ilustres, como João Gilberto e Paulinho da Viola. Aliás, foi o sambista da Portela a primeira pessoa a lhe presentear com um bandolim, instrumento que o fez adotar o chorinho como uma das suas grandes influências musicais. "Vou gravar esse ano um disco só de chorinhos inéditos e vou dedicar ao Paulinho, o grande responsável por minha paixão pelo gênero".

O guitarrista baiano completa meio século de vida daqui a dois anos. Para comemorar a data, está preparando uma autobiografia, um extenso relato sobre as suas três décadas como músico. "Todo dia gravo um trecho das minhas memórias. O que não faltam são boas histórias. Fugi de casa com 14 anos, escrevi um bilhete num papel higiênico e deixei para a família. Eu jamais queria ter sido o pai do Pepeu Gomes", brinca o roqueiro.