As canções da vida de Ithamara Koorax

Cantora lança no Brasil seu disco americano do ano passado

Marco Antonio Barbosa
06/06/2001
O mundo - leia-se o imenso mercado fonográfico dos EUA - é pouco para Ithamara Koorax. No ano passado, a cantora niteróiense deu seu primeiro passo "com as próprias pernas" nos EUA, lançando lá o álbum Serenade in Blue - My Favourite Songs 30s pela gravadora JSR/Milestone, especializada em jazz. Tratava-se de uma coleção de standards feitos sob medida para evidenciar os talentos vocais de Ithamara, emoldurados pelos arranjos de um time de feras de trânsito fácil entre a MPB e o jazz (Eumir Deodato, Laudir de Oliveira, Marcos Valle, Dom Um Romão, Alex Malheiros e Ivan Conti - os dois últimos do grupo Azymuth). Os fãs brasileiros da cantora já têm a chance de conferir a preços acessíveis o álbum, recém-lançado por aqui pela gravadora Universal Music.

"Embora o CD tenha saído primeiro no Japão (por uma questão contratual), ele foi concebido especificamente para o mercado americano - o mais difícil de se penetrar fora do mercado da world music, isto é, sem que você seja jogado no saco-de-gatos que é a world-music. Isso eu não queria de jeito nenhum. Eu visava o mercado de jazz e felizmente tudo deu certo", conta Ithamara sobre a recepção a seu disco nos Estados Unidos. "Foi meu primeiro CD-solo lançado nos EUA, embora eu já tivesse participado de vários outros discos lançados lá, como o House of Bossa (um best of do projeto Casa da Bossa, da Universal), o Street Angels, e as coletâneas do Arnaldo (DeSouteiro, produtor e marido da cantora), a série A Trip To Brazil.

E a recepção foi boa mesmo. No álbum, Ithamara passeia por clássicos do cancioneiro americano (Moon River, de Mancini/Mercer, The Shadow of Your Smile e a faixa-título), acena ao Brasil (Mas que Nada, Samba de Verão, Bonita, Aquarela do Brasil) e se arrisca na canção romântica francesa (Um Homme et Une Femme) e italiana (Dio Come Ti Amo). Esse panorama musical encantou críticos de várias publicações especializadas em jazz - cujos comentários estão devidamente reproduzidos no encarte - e conquistou expressiva votação entre os melhores do ano da revista Down Beat, a bíblia do jazz.

"A escolha das músicas foi a mais natural possível. O Arnaldo me falou: 'faça uma lista das músicas que você mais gosta de cantar em casa e que nunca pensou em gravar', lembra Ithamara. "Mas para entrar no mercado americano, eu tinha obrigatoriamente que fazer algumas concessões - como cantar o maior número de músicas em inglês. Porque sem cantar em inglês, você não toca em rádio pop nem em rádio de jazz. Quem disser o contrário está mentindo em benefício proprio! Quero ser conhecida como uma cantora, apenas - que por acaso é brasileira, com muita honra. Mas que canta música brasileira, americana, francesa, etc."

Mesmo optando apenas por canções bastante conhecidas, a cantora não temeu ser taxada de conservadora. "Ao contrário, achei até que fui bem ousada em algumas músicas", diz Ithamara. "Fiquei ate com receio de que achassem algumas levadas, como a de The Shadow of Your Smile, que gravei com o Azymuth, funkeadas demais. Era preciso encontrar o ponto certo de cada música, sem desvirtuá-las. Porque pegar Moon River e gravar como um rap, sobre uma levada de mangue-beat, seria fácil - e no Brasil achariam uma coisa moderníssima, genial! Mas gravar uma canção tão famosa sem inovar em nada também ficaria sem sentido para o mercado americano", fala a intéprete. Assinando os arranjos, alternam-se Deodato, Arnaldo DeSouteiro, J.R.Bertrami e Marcos Valle.

Feito na medida para o mercado americano, Serenade in Blue acabou conquistando também a Europa (foi lançado em todos os países do continente), alçou a parada pop japonesa, recebeu mais de 10 prêmios internacionais e foi bem até na China (com o sucesso do single Un Homme et Une Femme). Ithamara aproveita a crista da onda para dar uma espetadela: "Já imaginou se isso tivesse acontecido com alguma das queridinhas da mídia brasileira? A sortuda teria sido matéria de capa de todos os cadernos de cultura... Mas eu só recebi algumas notinhas. Além de um monte de e-mails desaforados! Como dizia o Tom Jobim: no Brasil, fazer sucesso é considerado ofensa pessoal... Entretanto, me sinto privilegiada e emocionada com tudo o que já consegui. se eu morresse hoje, partiria feliz e totalmente realizada artisticamente."

Além da seleção original de canções, a versão de Serenade in Blue que chega ao Brasil contém duas faixas-bônus, uma abrindo e outra fechando o álbum. Por acaso, são músicas ligadas a trilhas sonoras de produções televisivas: Cristal, música da novela Estrela-guia, e Iluminação, da minissérie Riacho Doce, a canção que lançou Ithamara em 1990. "Cristal já é minha oitava música para produções da Rede Globo. E Iluminada, minha primeira gravação solo, é uma canção que as pessoas sempre pedem para mim nos shows. O disco da minissérie saiu de catálogo e todo mundo reclama que não consegue mais a faixa. Daí, resolvemos relançá-la. Adoro trabalhar com o Mariozinho Rocha (coordenador musical da Globo) e acho que ele também gosta de mim!", diz Ithamara.