As Minas negras de Sérgio Santos
Compositor recheia a MPB de influências da música africana em seu novo disco, Áfrico - Quando o Brasil Resolveu Cantar
Julio Moura
25/03/2002
Minas são muitas, já dizia Guimarães Rosa. O compositor Sérgio Santos, nascido em Varginha e há mais de 20 anos radicado em Belo Horizonte, possui uma carreira de prestígio em seu estado, consolidado como um dos mais importantes músicos mineiros surgidos depois do Clube da Esquina. Fora de Minas, entretanto, Sérgio ainda é encarado como o E.T. que deu fama à sua cidade natal: muitos já ouviram falar, mas quase ninguém o vê.
O disco que Sérgio Santos lançou há pouco, Áfrico - Quando o Brasil Resolveu Cantar (Biscoito Fino), pode representar o fim do isolamento do compositor em termos nacionais, sobretudo pelo potencial de distribuição/visibilidade que a nova gravadora tem a oferecer. O conceito das 18 faixas do álbum, como o título indica, remete a uma insuspeita africanidade que, no inconsciente das Minas, compreende de Chico Rei a Xica da Silva, do rei Pelé (nascido em Três Corações) a Milton Nascimento.
"Como bom mineiro, há tempos me dedicava a explorar as possibilidades harmônicas e melódicas da música. Entretanto, sentia falta de desenvolver um trabalho mais elaborado em cima de ritmos. Foi aí que surgiu a idéia de fazer um disco inteiramente voltado para os ritmos de origem afro-brasileira, como o jongo, o samba, o maracatu e o afoxé", enumera Sérgio. O compositor conta que, ao assinar o contrato com a gravadora, o álbum teria outro formato. Compromisso firmado, os orixás do inconsciente vieram bater à porta de Sérgio.
"Assim que o contrato foi assinado, saí para dar uma volta com o Rodolfo (Stroeter, produtor do disco). Tínhamos acordado que o CD iria reunir sambas e baiões, mas alguma coisa, que eu não sabia precisar o que era, me deixou intrigado. Falei: 'Rodolfo, eu devia estar sorrindo de orelha a orelha, mas não estou. Há algo errado'. Veio a idéia deste trabalho temático e, aí sim, descobri o que realmente queria fazer", conta.
Catimbó sonoro
Treze faixas possuem letra de Paulo César Pinheiro, um dos mais inspirados experts em temas africanos, e em poesia lato sensu, da música popular brasileira. Parceiros há mais de dez anos, Sérgio e Paulo César compuseram, em dois meses, a quase totalidade das canções do álbum. "Paulo é um parceiro antigo, temos mais de 180 composições juntos. Pedi a ele que se concentrasse no ritmo, mesmo que fosse necessário sacrificar o sentido de algumas letras. Ele não só manteve o sentido, como, em diversos trechos, conseguiu uma divisão silábica semelhante a um tambor batendo", exulta.
A inspiração temática surgiu a partir de Nossa Cor e Vem Ver, ambas com letra e música de Sérgio Santos. A primeira, com participação especial de Lenine, eleva os nomes - e os feitos - de Clementina, Pixinguinha, Dorival, Naná, Gil e Bituca aos de Chico Rei e Zumbi. A vinheta Vem Ver aparece quatro vezes durante o disco e, em uma delas, homenageia Mestre Darcy do Jongo, falecido em dezembro.
Quando Paulo César Pinheiro adentrou o terreiro, surgiram Ganga Zumbi, Galanga Chico Rei, Nagô, Olorum, Kekerekâ, entre outras. O encarte inclui um glossário para os menos afeitos ao dialeto yorubá. Marafo é cachaça, ebó é despacho, catimbó é feitiço, Aruanda é o Eden africano.
Segundo Sérgio, o álbum descende diretamente dos Afrosambas, clássico de Baden Powell e Vinicius de Moraes. "Talvez o único paralelo possível seja com os Afrosambas, embora eu não tenha a pretensão de me comparar a uma obra tão grandiosa. Podem adorar ou detestar o disco, mas de uma coisa eu tenho certeza: não existe nada parecido atualmente na música brasileira".
O disco que Sérgio Santos lançou há pouco, Áfrico - Quando o Brasil Resolveu Cantar (Biscoito Fino), pode representar o fim do isolamento do compositor em termos nacionais, sobretudo pelo potencial de distribuição/visibilidade que a nova gravadora tem a oferecer. O conceito das 18 faixas do álbum, como o título indica, remete a uma insuspeita africanidade que, no inconsciente das Minas, compreende de Chico Rei a Xica da Silva, do rei Pelé (nascido em Três Corações) a Milton Nascimento.
"Como bom mineiro, há tempos me dedicava a explorar as possibilidades harmônicas e melódicas da música. Entretanto, sentia falta de desenvolver um trabalho mais elaborado em cima de ritmos. Foi aí que surgiu a idéia de fazer um disco inteiramente voltado para os ritmos de origem afro-brasileira, como o jongo, o samba, o maracatu e o afoxé", enumera Sérgio. O compositor conta que, ao assinar o contrato com a gravadora, o álbum teria outro formato. Compromisso firmado, os orixás do inconsciente vieram bater à porta de Sérgio.
"Assim que o contrato foi assinado, saí para dar uma volta com o Rodolfo (Stroeter, produtor do disco). Tínhamos acordado que o CD iria reunir sambas e baiões, mas alguma coisa, que eu não sabia precisar o que era, me deixou intrigado. Falei: 'Rodolfo, eu devia estar sorrindo de orelha a orelha, mas não estou. Há algo errado'. Veio a idéia deste trabalho temático e, aí sim, descobri o que realmente queria fazer", conta.
Catimbó sonoro
Treze faixas possuem letra de Paulo César Pinheiro, um dos mais inspirados experts em temas africanos, e em poesia lato sensu, da música popular brasileira. Parceiros há mais de dez anos, Sérgio e Paulo César compuseram, em dois meses, a quase totalidade das canções do álbum. "Paulo é um parceiro antigo, temos mais de 180 composições juntos. Pedi a ele que se concentrasse no ritmo, mesmo que fosse necessário sacrificar o sentido de algumas letras. Ele não só manteve o sentido, como, em diversos trechos, conseguiu uma divisão silábica semelhante a um tambor batendo", exulta.
A inspiração temática surgiu a partir de Nossa Cor e Vem Ver, ambas com letra e música de Sérgio Santos. A primeira, com participação especial de Lenine, eleva os nomes - e os feitos - de Clementina, Pixinguinha, Dorival, Naná, Gil e Bituca aos de Chico Rei e Zumbi. A vinheta Vem Ver aparece quatro vezes durante o disco e, em uma delas, homenageia Mestre Darcy do Jongo, falecido em dezembro.
Quando Paulo César Pinheiro adentrou o terreiro, surgiram Ganga Zumbi, Galanga Chico Rei, Nagô, Olorum, Kekerekâ, entre outras. O encarte inclui um glossário para os menos afeitos ao dialeto yorubá. Marafo é cachaça, ebó é despacho, catimbó é feitiço, Aruanda é o Eden africano.
Segundo Sérgio, o álbum descende diretamente dos Afrosambas, clássico de Baden Powell e Vinicius de Moraes. "Talvez o único paralelo possível seja com os Afrosambas, embora eu não tenha a pretensão de me comparar a uma obra tão grandiosa. Podem adorar ou detestar o disco, mas de uma coisa eu tenho certeza: não existe nada parecido atualmente na música brasileira".