Bandolinistas falam de Jacob

Em depoimentos exclusivos a CliqueMusic, 14 bandolinistas falam da importância e da influência de Jacob em suas vidas e carreiras, e elegem sua gravação predileta

Nana Vaz de Castro
01/12/2000
Joel Nascimento
Jacob foi o principal introdutor do bandolim no Brasil – não o primeiro, mas o principal –, além de divulgador do choro. Sem dúvida, faz parte da didática do instrumento, com seu estilo próprio e inovador. A meu ver, sua principal virtude está no seu fraseado – é pelo fraseado que se conhece o grande músico.
Esta caixa com gravações de Jacob é uma iniciativa muito importante, fico feliz pelo instrumento e pela memória do Jacob.
As gravações que mais me marcaram foram os choros Dolente e Língua de Preto, de Honorino Lopes (ambos lançados em 78 rpm e relançados mais tarde no LP Choros Evocativos, de 1957).

Déo Rian
Jacob foi o maior bandolinista que eu já conheci. O Luperce Miranda tinha muita técnica, mas Jacob tocava mais, tinha mais sensibilidade e sonoridade. Eu freqüentava os saraus na casa dele, pois éramos vizinhos em Jacarepaguá, e ele gostava de mim, tocávamos juntos, com dois bandolins – embora nunca tenhamos gravado profissionalmente juntos, só gravações caseiras. Ele tinha um jeito austero e exigia muito de quem tocava com ele, mas isso porque ele possuía um talento extraordinário. Jacob sempre me disse para não viver apenas do bandolim, e me incentivou a arranjar outro emprego. Ele era um líder nato, tinha um temperamento exigente, de ensaio, perfeição.
O disco Vibrações foi realmente um marco, mas talvez eu destaque as gravações de Barracão e Chega de Saudade, do disco com Elizeth, Época de Ouro e Zimbro Trio.

Ronaldo do Bandolim (Época de Ouro, Trio Madeira Brasil)
Jacob teve uma influência total na minha vida. Ele foi um ponto de referência, sinalizou uma mudança na qualidade da música instrumental no Brasil. Eu não tenho dúvidas em afirmar que Jacob foi o maior músico do Brasil. Pode parecer pretensioso, parece que eu estou puxando a brasa para o meu instrumento, mas é o que acho, ele foi um mestre sem diploma. Comecei a tocar no Época de Ouro em 73, substituindo o Déo (Rian) quando ele não podia viajar. A partir de 76 fiquei definitivamente no grupo. Claro que ser o bandolinista do Época de Ouro é uma honra, é o ponto alto da carreira de um bandolinista.
Um disco que me marcou muito foi Jacob do Bandolim toca Ernesto Nazareth, com o Regional do Canhoto. É um trabalho camerístico muito bom, muito refinado. Dali eu destaco a gravação de Odeon; a versão do Jacob virou referência.

Afonso Machado (Galo Preto)
Jacob é a grande escola do bandolim brasileiro. Graças a ele, o bandolim no Brasil passou a ser um novo instrumento. Ele bolou um outro formato, que deu mais sonoridade. Comecei a me interessar pelo bandolim ouvindo o disco do Jacob com Elizeth, Época de Ouro e Zimbo Trio ao vivo no Teatro João Caetano. Como compositor sua importância é muito grande, principalmente porque ele compunha especialmente para bandolim. Outros bandolinistas em sua época podiam ser mais técnicos, mais velozes, mas a interpretação era o grande diferencial no Jacob. Nele, a música vinha em primeiro lugar, a velocidade era um acessório.
Minha gravação favorita é Ingênuo (Pixinguinha), do disco Vibrações, que é, o disco inteiro, uma obra-prima, um dos mais importante da música popular brasileira.

Pedro Amorim
A primeira vez que ouvi o som de um bandolim foi no disco do show de Jacob com Elizeth e Zimbo Trio no Teatro João Caetano. Eu era pequeno, e fiquei muito impressionado com o som, mas eu não sabia nem que cara tinha aquele instrumento. Depois comecei a comprar discos de choro e a me interessar mais, mas só fui tocar mesmo, estudar mais metodicamente bem mais tarde. E comecei tirando de ouvido as músicas do Jacob.
A gravação que mais me marcou foi de um disco bastante raro, chamado Saraus de Jacob, que é exatamente isso, gravações caseiras, de saraus que o Jacob fazia em casa, ao lado de outros músicos. Ali tem uma gravação de Noites Cariocas, em que o Jacob fica uns dez minutos improvisando, essa me impressionou bastante.

Bruno Rian (conjunto Sarau)
Jacob foi o maior solista de música popular brasileira de todos os tempos, por vários motivos: sonoridade, interpretação, criatividade, perfeccionismo... Ele conseguiu, em uma época em que as tecnologias não eram tão avançadas, uma sonoridade inigualável, com uma qualidade técnica impressionante. No disco Vibrações, por exemplo – que eu considero o maior disco de choro de todos os tempos – ouvem-se perfeitamente todos os instrumentos, nos mínimos detalhes.
Jacob criou uma escola seguida pela grande maioria – se não por todos – dos bandolinistas. Cada um tem seu estilo próprio, mas a escola é a mesma. Eu fui muito influenciado por ele, é claro, através das gravações e indiretamente por meio do meu pai (Déo Rian), que conviveu diretamente com ele.
Jacob foi um compositor fabuloso, fez melodias fora de série, de um romantismo incrível. A maioria de suas músicas é simples tecnicamente – mas o que pega é a interpretação, foi exatamente aí que ele se diferenciou de todos os outros.
Minhas gravações favoritas são de Nosso Romance, choro de Jacob lançado em 78 rpm e depois no disco Isto É Nosso, e Assim Mesmo, de Luiz Americano, do disco Vibrações.

Marcílio Lopes (Água de Moringa)
A influência de Jacob é definitiva. Estudo a obra dele diariamente. Ele era um arquiteto da música, os detalhes na execução da obra dele são primorosos. Foi Jacob quem definiu a forma de tocar bandolim no Brasil, ele reestruturou o instrumento. Como compositor, coloco Jacob entre os três grandes pilares: ele, Pixinguinha e Nazareth. Mas as composições de Jacob são melhores ainda para os bandolinistas, porque foram compostas especialmente para o instrumento. Ele tinha um temperamento radical, é certo, mas desde aquela época lutava contra a banalidade na música popular brasileira.
O disco Vibrações é um ponto alto da carreira dele, sem dúvida e desse disco eu destaco duas faixas: Ingênuo e Lamento, ambas de Pixinguinha. Nessas duas músicas, a interpretação dele virou referência.

Armandinho
Falar de Jacob do Bandolim não é difícil. E falar bem, pois não faltam qualidades ao mestre do bandolim. Seja nas composições de bom gosto, nos arranjos, no requinte harmônico e melódico, até aquela palhetada límpida, gostosa, que tão bem definiu o som do bandolim brasileiro, influenciando toda uma "geração de cordas", de ontem, de hoje e para sempre. Obrigado, Jacob.
A música de Jacob que mais gosto de tocar é Assanhado.

Marco de Pinna
Jacob era um músico muito caprichoso e perfeccionista nas gravações e shows que fazia, e tirava um som muito bonito do bandolim, diferente da escola napolitana que usava muito o trêmulo; o Jacob gostava muito de imitar o som de uma "guitarra" portuguesa usando o efeito do portamento e do vibrato. Ele procurou dar uma roupagem nova ao choro. Os choros Remeleixo e Assanhado, por exemplo, são composições modernas até hoje no que diz respeito às partes melódica e harmônica! É claro que ele se preocupava muito em preservar a harmonia original das composições de outros autores e de algumas composições suas também.
O Jacob me motivou a pesquisar, estudar música, fazer arranjos, a tocar e a compor também. Hoje sou formado em Composicão e Regência e devo um pouco disso a ele. Graças ao Jacob o bandolim tem o seu lugar de destaque como um instrumento solista aqui no Brasil também. Com a Suite Retratos do Radamés Gnatalli, por exemplo, foi a primeira vez que um bandolinista brasileiro se apresentava e gravava com uma grande orquestra.
A gravação do Jacob que mais me emociona é o choro Vibrações. Foi por isso que eu batizei o meu grupo com esse nome.

Hamilton de Holanda
Jacob é o pai do Bandolim Brasileiro. Inventou a fantástica forma de se tocar bandolim que hoje é a nossa escola brasileira deste maravilhoso instrumento. O que mais me impressiona em sua obra é a simplicidade com que suas notas nos tocam. Em certas interpretações, Jacob só precisa de apenas uma para se expressar. Eu tive o privilégio de conhecer o bandolim de Jacob ainda menino, e, hoje, sou muito grato a ele e a sua obra por tudo que aprendi na música. Meu choro predileto é Vibrações.

Rodrigo Lessa (Nó em Pingo D’Água e Pagode Jazz Sardinha Club)
O Jacob foi para mim, assim como para a maioria dos bandolinistas de minha geração, um mestre. Acho sensacional a forma como o compositor Jacob introduziu nas melodias do choro a síncope do samba. O choro com o Jacob incorporou a evolução do samba carioca. Jacob foi um grande inovador na sua época como compositor e como intérprete. Como intérprete ele tirou todos os exageros comuns às interpretações dos bandolinistas da época, tocou sempre o mínimo necessário, Jacob tocava de forma extremamente cool. Apresentou uma nova forma de se interpretar no bandolim e criou junto com o excelente Época de Ouro uma escola que quase se confunde com o choro.
A gravação que mais gosto de Jacob é com Elizeth Cardoso e Época de Ouro tocando Barracão.

Henry Lentino
Jacob é um gênio, como Pixinguinha. A maneira como ele tocava influencia todo o mundo até hoje. Eu particularmente na minha adolescência ouvi mais o Armandinho, que segue uma linha diferente, mas também foi muito influenciado pelo Jacob, claro. A importância dele é não só nas composições – maravilhosas – mas principalmente a maneira de tocar. Ele podia não ter tanta técnica, mas improvisava muito bem e interpretava as músicas de um jeito único. Ele tocando com o Zimbo Trio, por exemplo, é incrível, ele tinha algo de jazz, apesar de ser um defensor do choro tradicional. Jacob era uma pessoa muito inteligente, privilegiava e valorizava os detalhes certos, às vezes até suprimindo algumas notas. Um tema tocado pelo Jacob nunca era igual duas vezes.
Destaco Ingênuo (Pixinguinha), do disco Vibrações – aliás o disco inteiro é muito bom, representa o auge da maturidade dele. Mas o Ingênuo, depois dessa gravação é difícil alguém tocar diferente, sem a influência daquele fraseado do Jacob.

Jorge Cardoso
O bandolim antes de Jacob não possuía projeção nem tradição em nossa música instrumental brasileira. Antes de Jacob, o maior bandolinista era o pernambucano Luperce Bezerra Pessoa de Miranda. O detalhe era que o estilo de Luperce era muita técnica e pouca inovação musical. Na minha carreira musical, Jacob influenciou-me com sua técnica, sonoridade, personalidade musical, detalhismo, nacionalismo e preservação da memória dos grandes compositores brasileiros, muitos deles anônimos e esquecidos, mas de excelente qualidade musical. Jacob contribuiu muito com suas gravações, suas composições, nos mais variados gêneros da nossa MPB instrumental e com várias formações, de conjunto regional a orquestra, e sempre ao lado de grandes músicos como Pixinguinha, Radamés Gnatalli, Regional do Canhoto e seu Conjunto Época de Ouro, atuante até os dias de hoje com grande sucesso. Coleciono gravações dele e de tanto ouvi-lo, a mais espontânea foi a de um show ao vivo com a cantora Elizeth Cardoso, Época de Ouro e Jacob e a música tocada foi Barracão...

Jane do Bandolim
Conheci o choro entre 12 e 13 anos de idade, vendo na TV um tape do Jacob do Bandolim, desde este dia minha vida mudou completamente pois até então só tocava hinos sacros e algumas peças clássicas e ouvia rock; de lá pra cá dediquei todos os dias da minha vida pra fazer o choro que me encantou tanto.
Através de Jacob do Bandolim conheci uma forma mágica de se tocar o instrumento, na época impossível para mim, tanto que eu tinha vontade de chorar quando ouvia o disco Vibrações que ganhei do papai e não conseguia tocar todos aqueles choros.
Até que um dia tirei sozinha o Vibrações e escrevi uma partitura que tenho guardada até hoje... com alguns erros que fui corrigindo com o tempo. Bem, não preciso dizer que o choro que me marcou foi o Vibrações. Jacob um mago do bandolim, intérprete, compositor maravilhoso me abriu caminho pra conhecer tantos outros compositores maravilhosos de choro e dar uma diretriz na minha vida.

Fernando Duarte (webmaster do site Bandolim.cjb.net)
Antes de tudo Jacob era um artista que buscava a beleza. Cada nota sua é tirada do coração, nada é feito sem que o objetivo final seja a beleza. Nunca era rápido demais ou lento demais, nunca tocava notas a mais ou a menos, era sempre preciso no que queria comunicar. Sua arte ultrapassa o bandolim, o choro e mesmo a música.
Eu escolheria Vibrações, talvez a música mais bela já composta.

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