Barão Vermelho fecha para balanço em 2001

Terminada a turnê do Balada MTV, Frejat grava trabalho solo e os outros integrantes fazem disco sem ele

Silvio Essinger
29/05/2000
A balada tem data para terminar: março do ano que vem. É quando o Barão Vermelho encerra a turnê do seu disco ao vivo semi-acústico gravado para a MTV (lançado no ano passado) e faz um longo break para que seus integrantes possam se dedicar a projetos extra-grupo. O mais aguardado deles é o primeiro disco solo do líder, vocalista e guitarrista Roberto Frejat, que será composto e gravado "com amigos" e deve ter participações de um ou outro barão. A volta com a banda está marcada para 2002, quando ela espera desovar um dos dois discos que ainda deve para a gravadora WEA. Enquanto isso, Guto Goffi (bateria), Fernando Magalhães (guitarra), Rodrigo Santos (baixo) e Peninha (bateria) partem para aos mais variados projetos – o principal deles é um disco dos barões sem Frejat.

A banda carioca se reuniu em entrevista para falar do primeiro show do disco Balada MTV que ia fazer em sua cidade (quarta-feira, no Canecão). Terceiro disco ao vivo do Barão numa carreira que completa 20 anos ano que vem, ele foge ligeiramente do formato acústico adotado por bandas contemporâneas como Titãs, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Capital Inicial. Entraram alguns instrumentos elétricos e os músicos não tocam sentados, por exemplo. O que não mudou é a receita de sucessos imbatíveis (Por Que a Gente é Assim, Eu Queria Ter uma Bomba, O Poeta Está Vivo, Por Você), versões (Tente Outra Vez, de Raul Seixas; Quando o Sol Bater na Janela do seu Quarto, da Legião Urbana) e algumas poucas inéditas (aqui, a solitária Enquanto Ela Não Chegar).

Passados o disco de versões Álbum (1996) e o discretamente eletrônico Puro Êxtase (1998), o Barão deixou de vez a ortodoxia rock que marcou seu nome. Em Balada MTV, as músicas ressurgem com generosos arranjos de cordas, sopros e percussões. "O Barão sempre buscou a canção, mesmo dentro da moldura rock´n roll. E hoje a gente persegue muito mais a canção do que o formato", diz Frejat. Para ele, o termo pop não assusta mais como na década de 80, quando era usado para opor bandas de rock (como o Barão) a outras menos exigentes em termos estéticos. "O horizonte pop é mais amplo para o que a gente quer fazer hoje", acredita. "O Barão é uma banda de rock sem preconceito algum", lembra, por sua vez, Guto Goffi.

Esgotamento mercadológico
Apesar de ter chegado um pouco atrasado ao formato acústico (pero no mucho), o Barão defende sua opção. "É um formato que cabe para todo tipo de artista, principalmente os reais. Toda a nossa geração foi sustentada pela canção. Depois do devido distanciamento, muitas das músicas do Rock Brasil serão regravadas", garante Frejat. Mercadologicamente, porém, ele considera o formato esgotado: "A gente fez o disco porque o público pediu e a banda não queria parecer birrenta. Se fosse uma opção mercadológica, teríamos feito o Balada MTV antes do Puro Êxtase", explica.

Por suas próprias particularidades em relação aos outros acústicos, o disco propiciou ao Barão um espetáculo que pode ser levado a qualquer platéia – a banda, diz Frejat, não precisa hoje ter um show elétrico como carta na manga para se apresentar em determinados lugares. Além das músicas do CD, eles tocam sucessos que ficaram de fora, como Bete Balanço, Pro Dia Nascer Feliz e as versões de Jardins da Babilônia (Rita Lee) e Malandragem Dá Um Tempo (lançada por Bezerra da Silva). "É um show pop que desce a ladeira rock´n roll", define o líder.

Hoje em dia, o Barão não quer mais concorrer com as bandas que levaram adiante a missão de fazer rock de verdade. "Hoje há várias bandas novas de punch, como os Raimundos e o Charlie Brown Júnior. Mas elas são mais pauleira, a gente é groove pesado", define Frejat. A última vez em que a banda se mostrou hard foi no disco Carne Crua, de 1994. "Nós estávamos virando eternos adolescentes", observa o guitarrista. "Mas agora a gente é o tio doidão".

Lançamentos descuidados
Como bom tio, Frejat se preocupa com aquilo ao qual a garotada anda tendo acesso – e se espanta com a qualidade das coletâneas do Barão que estão sendo lançadas. "Nossos discos todos foram remasterizados e relançados, mas não foram divulgados. Ao mesmo tempo, foi lançada uma coletânea Geração Pop sem o menor acabamento estético", denuncia, levando a questão para áreas da MPB caras ao Barão: "Para que lançar tantas coletâneas de Ângela Rô Rô e Luiz Melodia se eles têm tantos discos bons?"

Movido pela "curiosidade" por nunca ter feito um disco solo até agora, Frejat aproveita as brechas na agenda do Barão para começar a preparar o repertório do seu próximo trabalho. Quando as férias do Barão começarem, Fernando Magalhães e Rodrigo pretendem também dar os seus vôos solo, mas na área da composição – e pensam em preparar juntos um livro de fotos da banda. Já Guto inaugurará no Rio uma loja de instrumentos de percussão (a Maracatu Brasil), promoverá um festival carioca de percussionistas ("Antes que o PercPan tome conta do Rio") e lançará uma biografia autorizada do Barão. "Ela vai se chamar Por Que a Gente é Assim? ou Mentiras Sinceras", adianta.