Baterista e letrista do Rappa é baleado
Ao tentar impedir um assalto ontem, no Rio de Janeiro, Marcelo Yuka recebeu três tiros, um dos quais se alojou em sua coluna cervical. Há chances de ele não ficar paralítico
CliqueMusic
10/11/2000
Marcelo Yuka, baterista e principal letrista da banda carioca o Rappa, levou três tiros ontem à noite, por volta das 22h, ao tentar impedir um assalto, quando saía de sua casa na Tijuca (Zona Norte do Rio de Janeiro). Ele jogou sua picape Toyota em cima de dois assaltantes que abordavam a motorista de uma Pointer. Dois outros bandidos, que davam cobertura numa Blazer, atiraram contra o músico – uma das balas se alojou em sua coluna cervical.
Ainda consciente, mas sem sentir as pernas, Yuka foi socorrido pela polícia e levado para o Hospital do Andaraí, onde começou a ser operado na madrugada de hoje. Segundo a equipe médica do hospital, há algumas chances de ele não ficar paraplégico. Os músicos do Rappa – o vocalista Marcelo Falcão, o guitarrista Xandão e o tecladista Lobato – fizeram vigília no hospital, ao longo da madrugada, junto com amigos do baterista. Entre eles, o cantor Ed Motta (com quem deveria ter se encontrado no show do cantor Max de Castro, no Rock In Rio Café) e o guitarrista e produtor Kassin.
O Rappa é uma das bandas mais socialmente engajadas do Brasil, tendo sido aclamada por suas músicas, sua atitude (ela destina 5% dos direitos autorais de suas músicas à FASE, uma ONG de apoio a crianças e jovens de famílias de baixas renda) e seus clipes. O da música A Minha Alma (do disco Lado B Lado A, considerado pela crítica um dos melhores do ano passado), feito em parceria com o escritor Paulo Lins e a diretora Katia Lund, encenava com total realismo o conflito em uma favela carioca entre policiais e moradores. Muito por sua pungência, acabou ganhando este ano o prêmio de melhor clipe segundo à audiência da MTV.
Nos shows do Rappa, Yuka é sempre o porta-voz das opiniões políticas da banda e, freqüentemente, expôs seu descontentamento com as arbitrariedades praticadas pela polícia. O mais recente ato de inconformismo da banda foi desligar-se do Rock In Rio 3, por causa da discriminação que julgava sofrer em relação às atrações internacionais. Logo em seguida, em solidariedade ao Rappa, deixaram o festival, pelo mesmo motivo, cinco das mais importantes bandas de rock do país: Skank, Jota Quest, Cidade Negra, Raimundos e Charlie Brown Jr.
No final de semana, os músicos do Rappa e seus empresários se reunirão para decidir se o grupo mantém ou não a agenda de shows marcados até o final do ano.
Consternação
O incidente com o baterista deixou consternados vários músicos do rock e do rap brasileiros. Caso de Edy Rock, rapper dos Racionais MCs. "Admiro o som do Rappa, as letras principalmente. Da banda eu só conheço o Falcão, mas o MV Bill me disse que o Yuka é sangue bom e que tem um futuro brilhante pela frente. Só acho que ele deu uma vacilada. Não devia ter se metido na encrenca. Aqui onde eu moro (periferia de São Paulo) já vi vários assaltos na minha frente, mano morto, e sempre fiquei na minha", disse.
Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, foi quem ficou mais indignado: "A violência no Brasil, principalmente no Rio e em São Paulo, já passou dos limites faz tempo e ninguém toma providência. Nós moramos fora do Brasil, mas nossos amigos e parentes estão todos aqui, sentimos que o clima tá pesado. Estou arrasado com essa notícia do Yuka. Gravamos há pouco tempo o nosso disco no Rio e encontramos com o pessoal do Rappa. Eles convidaram a gente para conhecer alguns projetos sociais que são bancados pela banda."
Ro$$i, rapper do Pavilhão 9, estava no Rio gravando o novo disco da banda e soube da notícia ainda de noite: "Passamos a madrugada no hospital e ainda bem que o Yuka não corre mais risco de vida. A violência é lamentável. Por esse tipo de coisa que bandas como Rappa, Planet Hemp, Pavilhão, Sepultura têm de cada vez mais reforçar o lado social de suas letras. Que axé e pagode, o c.! Esse país vive numa guerra civil e todo mundo fica rebolando, fingindo que nada tá acontecendo."
Ainda consciente, mas sem sentir as pernas, Yuka foi socorrido pela polícia e levado para o Hospital do Andaraí, onde começou a ser operado na madrugada de hoje. Segundo a equipe médica do hospital, há algumas chances de ele não ficar paraplégico. Os músicos do Rappa – o vocalista Marcelo Falcão, o guitarrista Xandão e o tecladista Lobato – fizeram vigília no hospital, ao longo da madrugada, junto com amigos do baterista. Entre eles, o cantor Ed Motta (com quem deveria ter se encontrado no show do cantor Max de Castro, no Rock In Rio Café) e o guitarrista e produtor Kassin.
O Rappa é uma das bandas mais socialmente engajadas do Brasil, tendo sido aclamada por suas músicas, sua atitude (ela destina 5% dos direitos autorais de suas músicas à FASE, uma ONG de apoio a crianças e jovens de famílias de baixas renda) e seus clipes. O da música A Minha Alma (do disco Lado B Lado A, considerado pela crítica um dos melhores do ano passado), feito em parceria com o escritor Paulo Lins e a diretora Katia Lund, encenava com total realismo o conflito em uma favela carioca entre policiais e moradores. Muito por sua pungência, acabou ganhando este ano o prêmio de melhor clipe segundo à audiência da MTV.
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Yuka
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No final de semana, os músicos do Rappa e seus empresários se reunirão para decidir se o grupo mantém ou não a agenda de shows marcados até o final do ano.
Consternação
O incidente com o baterista deixou consternados vários músicos do rock e do rap brasileiros. Caso de Edy Rock, rapper dos Racionais MCs. "Admiro o som do Rappa, as letras principalmente. Da banda eu só conheço o Falcão, mas o MV Bill me disse que o Yuka é sangue bom e que tem um futuro brilhante pela frente. Só acho que ele deu uma vacilada. Não devia ter se metido na encrenca. Aqui onde eu moro (periferia de São Paulo) já vi vários assaltos na minha frente, mano morto, e sempre fiquei na minha", disse.
Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, foi quem ficou mais indignado: "A violência no Brasil, principalmente no Rio e em São Paulo, já passou dos limites faz tempo e ninguém toma providência. Nós moramos fora do Brasil, mas nossos amigos e parentes estão todos aqui, sentimos que o clima tá pesado. Estou arrasado com essa notícia do Yuka. Gravamos há pouco tempo o nosso disco no Rio e encontramos com o pessoal do Rappa. Eles convidaram a gente para conhecer alguns projetos sociais que são bancados pela banda."
Ro$$i, rapper do Pavilhão 9, estava no Rio gravando o novo disco da banda e soube da notícia ainda de noite: "Passamos a madrugada no hospital e ainda bem que o Yuka não corre mais risco de vida. A violência é lamentável. Por esse tipo de coisa que bandas como Rappa, Planet Hemp, Pavilhão, Sepultura têm de cada vez mais reforçar o lado social de suas letras. Que axé e pagode, o c.! Esse país vive numa guerra civil e todo mundo fica rebolando, fingindo que nada tá acontecendo."