Batida para as pistas com gostinho brasileiro
Sai nos Estados Unidos a coletânea Caipiríssima, que abrange o (já) amplo espectro da nossa música eletrônica
Silvio Essinger
23/06/2000
A música eletrônica brasileira acaba de ganhar a seu primeiro histórico – nos Estados Unidos, porém. É a coletânea Capiríssima – Batucada Eletrônica
, lançado pelo selo Caipirinha Music, da cineasta brasileira Iara Lee. Foi ela quem dirigiu o documentário Modulations, que causou sensação nos festivais de cinema há cerca de dois anos ao dissecar a revolução da eletrônica na música, dos primeiros experimentos com osciladores do francês Pierre Henry nos anos 50 à explosão techno-trance-drum´n´bass-house dos DJs no fim dos 90.
A representar o Brasil nessa cena eletrônica, estão reunidos em Caipiríssima artistas das mais diversas procedências: há desde João Parahyba (integrante do Trio Mocotó, banda que acompanhava Jorge Ben Jor no fim dos anos 60) e Arto Lindsay (pernambucano radicado em Nova Iorque que produziu discos de Caetano Veloso e Marisa Monte) a Suba (croata, produtor de discos de Marina Lima, Bebel Gilberto e Edson Cordeiro, morto ano passado em São Paulo num incêndio em sua casa) e Amon Tobin (brasileiro criado na Inglaterra, hoje sensação da música eletrônica mundial com o disco Supermodified).
A escolha das faixas ficou a cargo do produtor brasileiro radicado em Nova Iorque Béco Dranoff. "O Caipiríssima é um passo pra estimular a nova cena brasileira e abrir ainda mais um espaço pra novos produtores e sons", diz . "As pessoas aqui fora não imaginam que no Brasil role um cena tão interessante e inovadora. Cada faixa do disco é uma viagem em si, uma viagem a um Brasil novo, onde a tecnologia e os ritmos convivem de forma natural e espontânea. Onde todas as recombinações são possíveis."
Béco não é novo na jogada: ele é o homem por trás do Red Hot+Rio – disco beneficente da Red Hot Organization (organização de combate à AIDS sediada em Nova Iorque) lançado em 1996 com foco na música brasileira (de Tom Jobim principalmente). Nele, foram promovidos encontros antológicos como o de Astrud Gilberto e George Michael em Desafinado e versões como a do Everything But The Girl para Corcovado. Logo depois do Red Hot, o produtor montou o selo Ziriguiboom, que lançou no exterior discos de Bebel Gilberto, Suba e Zuco 103 (banda holandesa que tem como vocalista a brasileira Lílian Vieira). Ele também ajudou David Byrne a organizar The Best of Mutantes, a primeira coletânea do grupo nos Estados Unidos.
Panorama da vanguarda brasileira
A idéia de Caipiríssima, segundo Béco, nasceu num jantar com Iara Lee, sua amiga de longa data. "Ela nunca havia trabalhado com musica brasileira mas tinha muita vontade de se envolver com ela. Criamos o conceito da compilação juntos – ela já tinha até o nome Caipiríssima em mente." Disposto a "dar um panorama do que rola de realmente novo e avant-gard no Brasil", o produtor foi atrás dos mais diversos estilos e tendências – techno, trip hop, ambient, electro, mangue beat, e "outras inclassificaveis". O painel não poderia ter ficado mais amplo.
O disco começa com João Parahyba tratando eletronicamente a percussão tipicamente brasileira na faixa Central do Brasil. Em seguida, o DJ Dolores, pernambucano egresso do mangue bit, faz uma cruza de drum´n´bass e samba em Monica no Samba (She Love Drum´n´Cavaco), com participação de Fred Zero Quatro (do grupo mundo livre s/a) no cavaquinho. Arto Lindsay reprocessa a bossa em Whirlwind, Amon Tobin cria um carnaval de pesadelos em Sub Tropic, Suba faz eletrobatucada em Pupila Dilatada e o DJ brasileiro radicado em Nova Iorque (Carlos) Soul Slinger dá show de scratches em Masterplan.
Caipiríssima também abre espaço para nomes emergentes na cena eletrônica, como Apollo 9 (DJ do Planet Hemp e produtor do disco Samba Pra Burro, do pernambucano Otto), Anvil FX (projeto drum´n´bass do mineiro Paulo Beto) e o I.N. Project (do DJ Péricles, que agita o B.U.M., movimento de música eletrônica da Baixada Fluminense). O produtor BiD (do disco Afrociberdelia, de Chico Science), o cYz, o DJ Ramilson Maia e o Chelpa Ferro também têm faixas no disco.
Além das músicas, Caipiríssima conta com um texto do jornalista Guto Barra, que analisa a evolução da música eletrônica, desde os experimentos dos Mutantes até hoje. "Esses novos sons brasileiros misturam o sentimento multicultural das peças clássicas de Villa-Lobos, a beleza da bossa nova, os aspectos ousados dos experimentos psicodélicos da Tropicália e os grooves orgânicos que enchem as pistas de dança ao longo do planeta", escreve Guto. Béco assina em baixo: "A nossa eletrônica é mais ensolarada, o que é bom, pois as pessoas estão meio cansadas de sons dark e soturnos."
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A representar o Brasil nessa cena eletrônica, estão reunidos em Caipiríssima artistas das mais diversas procedências: há desde João Parahyba (integrante do Trio Mocotó, banda que acompanhava Jorge Ben Jor no fim dos anos 60) e Arto Lindsay (pernambucano radicado em Nova Iorque que produziu discos de Caetano Veloso e Marisa Monte) a Suba (croata, produtor de discos de Marina Lima, Bebel Gilberto e Edson Cordeiro, morto ano passado em São Paulo num incêndio em sua casa) e Amon Tobin (brasileiro criado na Inglaterra, hoje sensação da música eletrônica mundial com o disco Supermodified).
A escolha das faixas ficou a cargo do produtor brasileiro radicado em Nova Iorque Béco Dranoff. "O Caipiríssima é um passo pra estimular a nova cena brasileira e abrir ainda mais um espaço pra novos produtores e sons", diz . "As pessoas aqui fora não imaginam que no Brasil role um cena tão interessante e inovadora. Cada faixa do disco é uma viagem em si, uma viagem a um Brasil novo, onde a tecnologia e os ritmos convivem de forma natural e espontânea. Onde todas as recombinações são possíveis."
Béco não é novo na jogada: ele é o homem por trás do Red Hot+Rio – disco beneficente da Red Hot Organization (organização de combate à AIDS sediada em Nova Iorque) lançado em 1996 com foco na música brasileira (de Tom Jobim principalmente). Nele, foram promovidos encontros antológicos como o de Astrud Gilberto e George Michael em Desafinado e versões como a do Everything But The Girl para Corcovado. Logo depois do Red Hot, o produtor montou o selo Ziriguiboom, que lançou no exterior discos de Bebel Gilberto, Suba e Zuco 103 (banda holandesa que tem como vocalista a brasileira Lílian Vieira). Ele também ajudou David Byrne a organizar The Best of Mutantes, a primeira coletânea do grupo nos Estados Unidos.
Panorama da vanguarda brasileira
A idéia de Caipiríssima, segundo Béco, nasceu num jantar com Iara Lee, sua amiga de longa data. "Ela nunca havia trabalhado com musica brasileira mas tinha muita vontade de se envolver com ela. Criamos o conceito da compilação juntos – ela já tinha até o nome Caipiríssima em mente." Disposto a "dar um panorama do que rola de realmente novo e avant-gard no Brasil", o produtor foi atrás dos mais diversos estilos e tendências – techno, trip hop, ambient, electro, mangue beat, e "outras inclassificaveis". O painel não poderia ter ficado mais amplo.
O disco começa com João Parahyba tratando eletronicamente a percussão tipicamente brasileira na faixa Central do Brasil. Em seguida, o DJ Dolores, pernambucano egresso do mangue bit, faz uma cruza de drum´n´bass e samba em Monica no Samba (She Love Drum´n´Cavaco), com participação de Fred Zero Quatro (do grupo mundo livre s/a) no cavaquinho. Arto Lindsay reprocessa a bossa em Whirlwind, Amon Tobin cria um carnaval de pesadelos em Sub Tropic, Suba faz eletrobatucada em Pupila Dilatada e o DJ brasileiro radicado em Nova Iorque (Carlos) Soul Slinger dá show de scratches em Masterplan.
Caipiríssima também abre espaço para nomes emergentes na cena eletrônica, como Apollo 9 (DJ do Planet Hemp e produtor do disco Samba Pra Burro, do pernambucano Otto), Anvil FX (projeto drum´n´bass do mineiro Paulo Beto) e o I.N. Project (do DJ Péricles, que agita o B.U.M., movimento de música eletrônica da Baixada Fluminense). O produtor BiD (do disco Afrociberdelia, de Chico Science), o cYz, o DJ Ramilson Maia e o Chelpa Ferro também têm faixas no disco.
Além das músicas, Caipiríssima conta com um texto do jornalista Guto Barra, que analisa a evolução da música eletrônica, desde os experimentos dos Mutantes até hoje. "Esses novos sons brasileiros misturam o sentimento multicultural das peças clássicas de Villa-Lobos, a beleza da bossa nova, os aspectos ousados dos experimentos psicodélicos da Tropicália e os grooves orgânicos que enchem as pistas de dança ao longo do planeta", escreve Guto. Béco assina em baixo: "A nossa eletrônica é mais ensolarada, o que é bom, pois as pessoas estão meio cansadas de sons dark e soturnos."