Beatles, Hendrix e cia. em releituras brasileiras
Victor Biglione e Nonato Luiz regravam o repertório clássico do rock dos anos 60 em seus novos CDs
Rodrigo Faour
15/09/2000
Virtuoses internacionalmente famosos, o guitarrista Victor Biglione e o violonista Nonato Luiz se voltam para o pop e o rock dos anos 60 em seus novos trabalhos. Apesar de mergulharem na música de uma mesma época, Um tributo a Hendrix – Victor Biglione in Blues Rock (Universal) e Nonato Luiz Toca The Beatles (Kuarup) seguem, no entanto, linhas diametralmente opostas. Enquanto o primeiro mostra um lado mais pesado daquela época com solos endiabrados de guitarra (e vocais) nas canções de Jimi Hendrix e de alguns dos seus contemporâneos no rock, o segundo traz os Beatles para o universo brasileiro, adaptando suas harmonias ao violão, instrumento símbolo da MPB.
Nonato explica que depois de ter estudado muito as obras daqueles que compuseram para violão e de compor muito influenciado por mestres como Garoto e Baden Powell, ele vem seguindo o caminho contrário. Tem trabalhado muito em cima de obras que não foram escritas especificamente para seu instrumento. Sendo assim, depois de debruçar-se sobre as obras de nomes como Luiz Gonzaga e Milton Nascimento, chegou a vez – por que não? – dos Beatles. "São dois trabalhos: adaptá-las e fazê-las ficarem violonísticas, sem perder a identidade original. O Milton nunca escreveu para violão. Os Beatles também não. Mas nesse caso, foi um desafio triplo porque a música deles é estrangeira e quis deixá-la um pouco brasileira já que sempre preservo muito a nossa raiz em meus trabalhos. O resultado ficou a minha cara, trazendo os Beatles para o Brasil", justifica o violonista que escutou diversas gravações de canções do quarteto de Liverpool – cantadas ou instrumentais – para escolher as 15 composições que compõem o CD.
Beatles à brasileira
Ao rever a obra dos Beatles, Nonato viu o quanto ela era rica em qualidade e quantidade. "É rica melodiosa e harmonicamente. Foi um trabalho imenso de garimpar e burilar essa obra imensa", conta ele que já chegou a tocar guitarra em conjuntos de rock na sua adolescência. De todas as canções gravadas por ele nesse álbum, como Blackbird, Here, There and Everywhere, Let It Be, Penny Lane, Yesterday, With a Little Help From My Friends e Eleanor Rigby, ele destaca três menos manjadas que lhe surpreenderam especialmente: In My Life, Piggies e While My Guitar Gently Weeps. Por sinal, outro violonista brasileiro que recentemente se debruçou sobre os Beatles (numa releitura da canção And I Love Her) foi Ulisses Rocha (ex-grupo D’Alma), no CD Álbum, em que figuram também canções de célebres roqueiros dos anos 60 e 70 como os Rolling Stones (Satisfaction), Led Zeppelin (Stairway To Heaven), Pink Floyd (Us And Them) e Deep Purple (Highway Star).
Nonato Luiz ainda não sabe quando conseguirá fazer uma turnê deste disco pelo Brasil. Fora do país, ele vem realizando turnês há 15 anos, que se iniciaram graças à sua parceria com o guitarrista flamenco Pedro Soler – que rendeu até um disco em conjunto nos anos 80. "Sei que poucas pessoas conseguem isso no Brasil. Toco somente em salas maravilhosas lá fora, com acústica perfeita para o instrumento, sem microfone", orgulha-se ele, que possui uma empresária em Salzsburg (na Áustria) há anos e que a partir de outubro já agendou shows para ele por lá, na Alemanha e na França. O que ele realmente gostaria era de arrumar um patrocínio também para editar um livro com seus arranjos para violão para esse repertório beatle, a ser vendido em bancas de jornal. "Esse CD ficou uma obra para violão. É uma peça violonística mesmo, merecia um songbook. Mas por enquanto só tenho a idéia", diz.
Saudades da guitarra
Victor Biglione por sua vez decidiu realizar o trabalho em homenagem a Jimi Hendrix e seus contemporâneos de rock não só pela efeméride dos 30 anos da morte do guitarrista (que se completam no próximo dia 18, quando Victor aproveita para fazer no Ballroom, no Rio, o show de lançamento o CD), mas também por saudade de tocar sua guitarra. "Sou guitarrista em primeiro lugar e sou roqueiro, embora tenha ficado conhecido no âmbito do jazz e da música instrumental. Eu estava com saudades de tocar guitarra porque meus últimos três trabalhos foram com violão. Acho também que os conjuntos nacionais atualmente estão explorando pouco a guitarra", explica Victor , cujos últimos trabalhos foram um CD com o pianista Marcos Ariel, outro com o inglês Andy Summers (guitarrista do The Police) e o CD Cinema Acústico, com canções de trilhas sonoras.
A opção pelo rock é também coerente com sua estrada. Biglione diz que sempre curtiu o gênero. "Sempre gostei do rock, principalmente o dos anos 60 e 70, o blues rock, que começou a partir do resgate britânico. Foquei principalmente no Hendrix (Foxy Lady, Rock Me Baby, Little Wing e outras), e dei uma idéia do que estava acontecendo naquela época. Pego o Deep Purple (Lazy), o Santana (Taboo), uma dos Beatles (Money) e o Fleetowood Mac (I Loved Another Woman e Love That Burns), mas da primeira formação com Peter Green – guitarrista que foi a maior influência do Santana e do Eric Clapton, um cara que tomou muito ácido e ficou meio maluco", enumera.
Victor diz que no entanto deu um toque mais jazzístico aos números escolhidos, além de soltar sua voz. Que ninguém se surpreenda com a nova façanha de Victor que não é tão nova assim já que na época que integrou o grupo A Cor do Som, ele chegou a gravar vocais na faixa Razão do LP Magia Tropical. "Minha voz não se compara à minha guitarra, usei ela mais para colorir as músicas. Mas, ouvindo os cantores do pop e do rock de hoje, considero-me em condições. E mesmo o Hendrix também não era um grande cantor", justifica.
Quanto aos caráter jazz do disco, Victor comenta: "Se o Hendrix estivesse vivo teria feito algo mais jazzístico com seu trio. O Miles Davis já pensava em trabalhar com ele, mas não deu tempo. O que me fascina é imaginar onde o trio de Hendrix poderia ter chegado.Vejo muito jazz, soul e suingue em sua música. Era muito avançada para a época. Parece que ele gravou ontem", analisa. Ele observa ainda que a poesia nas letras do guitarrista era muito metafórica, influenciada por Bob Dylan. "Jimi foi marginalizado nos Estados Unidos. Mas quando chegou a Londres, encontrando aquela onda psicodelia toda, deslanchou". Hendrix explodiu e influenciou gente de toda parte, inclusive no Brasil. Biglione começou a tocar o instrumento com 12 anos, no mesmo ano de 1970 em que o guitarrista morreu. Pepeu Gomes, que também pretende gravar um CD com canções de Hendrix ainda este ano pela Trama também começou na guitarra por causa dele. A lenda vive.
Nonato explica que depois de ter estudado muito as obras daqueles que compuseram para violão e de compor muito influenciado por mestres como Garoto e Baden Powell, ele vem seguindo o caminho contrário. Tem trabalhado muito em cima de obras que não foram escritas especificamente para seu instrumento. Sendo assim, depois de debruçar-se sobre as obras de nomes como Luiz Gonzaga e Milton Nascimento, chegou a vez – por que não? – dos Beatles. "São dois trabalhos: adaptá-las e fazê-las ficarem violonísticas, sem perder a identidade original. O Milton nunca escreveu para violão. Os Beatles também não. Mas nesse caso, foi um desafio triplo porque a música deles é estrangeira e quis deixá-la um pouco brasileira já que sempre preservo muito a nossa raiz em meus trabalhos. O resultado ficou a minha cara, trazendo os Beatles para o Brasil", justifica o violonista que escutou diversas gravações de canções do quarteto de Liverpool – cantadas ou instrumentais – para escolher as 15 composições que compõem o CD.
Beatles à brasileira
Ao rever a obra dos Beatles, Nonato viu o quanto ela era rica em qualidade e quantidade. "É rica melodiosa e harmonicamente. Foi um trabalho imenso de garimpar e burilar essa obra imensa", conta ele que já chegou a tocar guitarra em conjuntos de rock na sua adolescência. De todas as canções gravadas por ele nesse álbum, como Blackbird, Here, There and Everywhere, Let It Be, Penny Lane, Yesterday, With a Little Help From My Friends e Eleanor Rigby, ele destaca três menos manjadas que lhe surpreenderam especialmente: In My Life, Piggies e While My Guitar Gently Weeps. Por sinal, outro violonista brasileiro que recentemente se debruçou sobre os Beatles (numa releitura da canção And I Love Her) foi Ulisses Rocha (ex-grupo D’Alma), no CD Álbum, em que figuram também canções de célebres roqueiros dos anos 60 e 70 como os Rolling Stones (Satisfaction), Led Zeppelin (Stairway To Heaven), Pink Floyd (Us And Them) e Deep Purple (Highway Star).
Nonato Luiz ainda não sabe quando conseguirá fazer uma turnê deste disco pelo Brasil. Fora do país, ele vem realizando turnês há 15 anos, que se iniciaram graças à sua parceria com o guitarrista flamenco Pedro Soler – que rendeu até um disco em conjunto nos anos 80. "Sei que poucas pessoas conseguem isso no Brasil. Toco somente em salas maravilhosas lá fora, com acústica perfeita para o instrumento, sem microfone", orgulha-se ele, que possui uma empresária em Salzsburg (na Áustria) há anos e que a partir de outubro já agendou shows para ele por lá, na Alemanha e na França. O que ele realmente gostaria era de arrumar um patrocínio também para editar um livro com seus arranjos para violão para esse repertório beatle, a ser vendido em bancas de jornal. "Esse CD ficou uma obra para violão. É uma peça violonística mesmo, merecia um songbook. Mas por enquanto só tenho a idéia", diz.
Saudades da guitarra
Victor Biglione por sua vez decidiu realizar o trabalho em homenagem a Jimi Hendrix e seus contemporâneos de rock não só pela efeméride dos 30 anos da morte do guitarrista (que se completam no próximo dia 18, quando Victor aproveita para fazer no Ballroom, no Rio, o show de lançamento o CD), mas também por saudade de tocar sua guitarra. "Sou guitarrista em primeiro lugar e sou roqueiro, embora tenha ficado conhecido no âmbito do jazz e da música instrumental. Eu estava com saudades de tocar guitarra porque meus últimos três trabalhos foram com violão. Acho também que os conjuntos nacionais atualmente estão explorando pouco a guitarra", explica Victor , cujos últimos trabalhos foram um CD com o pianista Marcos Ariel, outro com o inglês Andy Summers (guitarrista do The Police) e o CD Cinema Acústico, com canções de trilhas sonoras.
A opção pelo rock é também coerente com sua estrada. Biglione diz que sempre curtiu o gênero. "Sempre gostei do rock, principalmente o dos anos 60 e 70, o blues rock, que começou a partir do resgate britânico. Foquei principalmente no Hendrix (Foxy Lady, Rock Me Baby, Little Wing e outras), e dei uma idéia do que estava acontecendo naquela época. Pego o Deep Purple (Lazy), o Santana (Taboo), uma dos Beatles (Money) e o Fleetowood Mac (I Loved Another Woman e Love That Burns), mas da primeira formação com Peter Green – guitarrista que foi a maior influência do Santana e do Eric Clapton, um cara que tomou muito ácido e ficou meio maluco", enumera.
Victor diz que no entanto deu um toque mais jazzístico aos números escolhidos, além de soltar sua voz. Que ninguém se surpreenda com a nova façanha de Victor que não é tão nova assim já que na época que integrou o grupo A Cor do Som, ele chegou a gravar vocais na faixa Razão do LP Magia Tropical. "Minha voz não se compara à minha guitarra, usei ela mais para colorir as músicas. Mas, ouvindo os cantores do pop e do rock de hoje, considero-me em condições. E mesmo o Hendrix também não era um grande cantor", justifica.
Quanto aos caráter jazz do disco, Victor comenta: "Se o Hendrix estivesse vivo teria feito algo mais jazzístico com seu trio. O Miles Davis já pensava em trabalhar com ele, mas não deu tempo. O que me fascina é imaginar onde o trio de Hendrix poderia ter chegado.Vejo muito jazz, soul e suingue em sua música. Era muito avançada para a época. Parece que ele gravou ontem", analisa. Ele observa ainda que a poesia nas letras do guitarrista era muito metafórica, influenciada por Bob Dylan. "Jimi foi marginalizado nos Estados Unidos. Mas quando chegou a Londres, encontrando aquela onda psicodelia toda, deslanchou". Hendrix explodiu e influenciou gente de toda parte, inclusive no Brasil. Biglione começou a tocar o instrumento com 12 anos, no mesmo ano de 1970 em que o guitarrista morreu. Pepeu Gomes, que também pretende gravar um CD com canções de Hendrix ainda este ano pela Trama também começou na guitarra por causa dele. A lenda vive.