Bebel Gilberto cruza a Europa com seu show
Às vésperas do lançamento brasileiro do seu terceiro disco, Tanto Tempo (que saiu no exterior cinco meses atrás), a cantora e compositora desfruta do reconhecimento internacional do seu trabalho
Felipe Tadeu
03/10/2000
DARMSTADT, ALEMANHA – Primeiro foi a crítica especializada internacional, que louvou com generosidade o novo álbum de Bebel, Tanto Tempo. No momento em que o disco (editado quatro meses atrás pela Ziriguiboom/Crammed) enfim ganha seu lançamento nacional (esta semana, pela Universal Music) vem o mais importante, que é tentar conquistar as platéias pelo mundo afora e se consolidar como uma das mais novas atrações desta cultuada entidade que é a música popular brasileira. Desde o último dia 15, Bebel está cantando pelos palcos europeus, num giro que inclui Portugal, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Suíça, França, Eslováquia, Áustria, Holanda, República Tcheca e Polônia. Vinte e nove shows, num roteiro invejável para quem ainda está apenas começando no cenário mundial.
No último domingo, Bebel Gilberto esteve se apresentando na cidade de Darmstadt, na região central da Alemanha. Mais precisamente na Centralstation, uma casa de shows de prestígio que já acolheu de Pat Metheny a Ziggy Marley, passando por Tito Puente, Mirian Makeba, The Temptations dentre outros. Na noite de Bebel, cerca de 700 pessoas foram ver de perto o que a filha do mitológico João Gilberto tinha a dizer cantando, num show que segundo a artista "foi o melhor da temporada até o momento". Os fãs da bossa nova que acorreram ao local, ainda que tocados pela morte recente de um ilustre ex-residente da Alemanha, o violonista Baden Powell, se deixaram encantar pela graça de Bebel Gilberto e sua bossa contemporânea.
Desfilando um elegante repertório que consistia basicamente nas canções deste que é seu terceiro álbum de carreira (o primeiro, o bom Um Certo Geraldo Pereira, dividido com o cantor Pedrinho Rodrigues em 1983 para a Funarte; o segundo, Bebel Gilberto, um EP pela Warner com apenas cinco faixas, do ano de 1986), a cantora deu conta bonitinho do recado, apesar de alguns excessos cometidos nos momentos em que falava com a platéia. Ainda que necessitada de uma melhor direção de cena, Bebel Gilberto provou que vem com força para ocupar o seu espaço, tendo um enorme potencial a ser trabalhado.
Abrindo oportunamente o espetáculo com Samba da Bênção, de Baden & Vinicius de Moraes, que tem um envolvente arranjo do produtor brasileiro criado na Inglaterra Amon Tobin, Bebel arrancou aplausos calorosos da platéia – ela ainda contornou com segurança os problemas de som do seu microfone, que se manifestaram logo que pisou no palco. Cantou as lindas parcerias que fez com os barões vermelhos Cazuza e o ex-namorado Dé – Preciso Dizer Que Te Amo e Mais Feliz –, demonstrando vigor nas interpretações de Bananeira, de João Donato e Gilberto Gil, e em Maria Fumaça, clássico samba-funk da legendária Banda Black Rio. Depois do show e antes de embarcar para um final de semana cantando em Gutersloh e Hamburgo (a Alemanha é onde a artista tem mais shows agendados), Bebel Gilberto bateu um papo exclusivo com CliqueMusic. Um paliativo para os brasileiros, que só vão poder vê-la cantando em meados do ano que vem.
CliqueMusic – Você está em plena turnê de divulgação do novo disco Tanto Tempo, lançado na Europa em junho. Como tem sido em geral a receptividade do público?
Bebel Gilberto – Está sendo super emocionante porque estou passando por lugares em que nunca estive na minha vida. Eu já havia cantado antes aqui na Alemanha, mas Darmstadt, por exemplo, eu ainda não conhecia. Este show que fizemos aqui foi, até agora, o melhor da temporada. Acho que é muito importante o que está rolando, estou muito feliz, até porque está sendo meio uma escola. Estou junto com minha banda, nós acabamos de fazer uma turnê pelos Estados Unidos com 16 shows e agora já estamos em nosso oitavo concerto aqui na Europa. Nós estaremos com os pés na estrada por 45 dias.
CliqueMusic – Seu disco está saindo agora no Brasil. Você já tem uma previsão de quando estará se apresentando para as platéias brasileiras?
Bebel Gilberto – Não, nós não temos nada marcado, principalmente porque estou ocupada até fevereiro do ano que vem. Eu devo ir ao Brasil só para fazer promoção e depois eu volto, pois tenho que ir ao Japão. Em março estaremos novamente excursionando pelos Estados Unidos, além de fazer outra temporada mais curta pela Europa.
CliqueMusic – Isto quer dizer que antes de abril do ano que vem, nada de shows pelo Brasil, certo?
Bebel Gilberto – É, é isso.
CliqueMusic – A imprensa divulgou que os belgas do selo Crammed, gravadora que lançou o Tanto Tempo, teriam feito questão de que você gravasse o disco cantando em português. Você estava a princípio inclinada em lançar o álbum cantando em inglês?
Bebel Gilberto – Não, não é que eles tenham feito questão disto. O que aconteceu é que eles não fizeram nenhuma imposição. Eu acho que o barato de ter feito este trabalho com a Crammed Discs foi justamente a abertura que eles dão ao artista. Eles sugeriram, sim, que eu cantasse mais em português, pois eu estava com idéia de fazer as letras mais em inglês, mas fui encorajada por eles a gravar em português, principalmente porque o europeu gosta muito do som da nossa língua, sabe? Na Europa não há aquele preconceito que existe nos Estados Unidos.
CliqueMusic – Qual tem sido a vendagem de Tanto Tempo no mercado norte-americano?
Bebel Gilberto – Para minha surpresa, é lá que tenho tido o maior sucesso. Na Europa tem sido muito bacana, mas nos Estados Unidos eu já vendi 120 mil cópias.
CliqueMusic – E na Europa, qual é a vendagem?
Bebel Gilberto – Nós estamos beirando a casa dos 40 mil.
CliqueMusic - A bossa nova continua tendo um grau de aceitação grande junto ao americano, e isto impulsiona o sucesso do álbum, não é?
Bebel Gilberto – Com certeza!
CliqueMusic – Poderia se dizer que você tem como prioridade fazer deslanchar a sua carreira primeiro no exterior, para depois entrar com mais força no Brasil?
Bebel Gilberto – Não, não é isso, é só uma questão de tempo. O disco foi lançado bem antes aqui na Europa e nos Estados Unidos e eu tenho que dar mais abertura aos lugares onde ele está rolando há mais tempo. Na verdade eu sou contratada por uma gravadora belga. Eu não fiz o disco para o Brasil, foi para o selo belga, para os mercados europeu e norte-americano, depois é que o álbum foi licenciado para o Brasil. Foi a partir de fora.
CliqueMusic – Um dos pontos altos de Tanto Tempo é o Samba da Bênção, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, com aquele arranjo fascinante de Amon Tobin. Como foi que recebeu a morte do violonista?
Bebel Gilberto – Foi um baque forte para todo mundo, afinal Baden Powell foi uma pessoa muito importante para a música. Fico feliz no entanto de ter podido ouvir o que ele achou da minha gravação de Samba da Bênção e foi muito positivo. Eu me sinto como se eu tivesse me despedido dele, sabe?
CliqueMusic – Foram duas perdas marcantes para você, esta de Baden Powell e a do seu produtor, o Suba. Como é que o Suba surgiu na sua vida, ele que é um dos principais responsáveis pela beleza do Tanto Tempo?
Bebel Gilberto – Eu fico até grata de você ter falado nele, pois o Suba foi uma pessoa importantíssima, que idealizou o meu disco comigo e isto foi muito marcante para mim. Eu o conheci através de uma amiga minha do Brasil e também através de Béco Dranoff [responsável pelo selo Ziriguiboom, que lançou Tanto Tempo nos Estados Unidos], que é o outro produtor do álbum. O Suba apareceu na hora exata, um cara que tinha um talento incrível, além de ter sido também uma pessoa maravilhosa.
CliqueMusic – Em 1991, você chegou a participar de um tributo a Carmem Miranda idealizado por Arto Lindsay e do qual fizeram parte Gal Costa, Naná Vasconcelos e Laurie Anderson. Existe algum registro em áudio deste material, de forma que ele venha a ser lançado em disco?
Bebel Gilberto – Não, não existe.
No último domingo, Bebel Gilberto esteve se apresentando na cidade de Darmstadt, na região central da Alemanha. Mais precisamente na Centralstation, uma casa de shows de prestígio que já acolheu de Pat Metheny a Ziggy Marley, passando por Tito Puente, Mirian Makeba, The Temptations dentre outros. Na noite de Bebel, cerca de 700 pessoas foram ver de perto o que a filha do mitológico João Gilberto tinha a dizer cantando, num show que segundo a artista "foi o melhor da temporada até o momento". Os fãs da bossa nova que acorreram ao local, ainda que tocados pela morte recente de um ilustre ex-residente da Alemanha, o violonista Baden Powell, se deixaram encantar pela graça de Bebel Gilberto e sua bossa contemporânea.
Desfilando um elegante repertório que consistia basicamente nas canções deste que é seu terceiro álbum de carreira (o primeiro, o bom Um Certo Geraldo Pereira, dividido com o cantor Pedrinho Rodrigues em 1983 para a Funarte; o segundo, Bebel Gilberto, um EP pela Warner com apenas cinco faixas, do ano de 1986), a cantora deu conta bonitinho do recado, apesar de alguns excessos cometidos nos momentos em que falava com a platéia. Ainda que necessitada de uma melhor direção de cena, Bebel Gilberto provou que vem com força para ocupar o seu espaço, tendo um enorme potencial a ser trabalhado.
Abrindo oportunamente o espetáculo com Samba da Bênção, de Baden & Vinicius de Moraes, que tem um envolvente arranjo do produtor brasileiro criado na Inglaterra Amon Tobin, Bebel arrancou aplausos calorosos da platéia – ela ainda contornou com segurança os problemas de som do seu microfone, que se manifestaram logo que pisou no palco. Cantou as lindas parcerias que fez com os barões vermelhos Cazuza e o ex-namorado Dé – Preciso Dizer Que Te Amo e Mais Feliz –, demonstrando vigor nas interpretações de Bananeira, de João Donato e Gilberto Gil, e em Maria Fumaça, clássico samba-funk da legendária Banda Black Rio. Depois do show e antes de embarcar para um final de semana cantando em Gutersloh e Hamburgo (a Alemanha é onde a artista tem mais shows agendados), Bebel Gilberto bateu um papo exclusivo com CliqueMusic. Um paliativo para os brasileiros, que só vão poder vê-la cantando em meados do ano que vem.
CliqueMusic – Você está em plena turnê de divulgação do novo disco Tanto Tempo, lançado na Europa em junho. Como tem sido em geral a receptividade do público?
Bebel Gilberto – Está sendo super emocionante porque estou passando por lugares em que nunca estive na minha vida. Eu já havia cantado antes aqui na Alemanha, mas Darmstadt, por exemplo, eu ainda não conhecia. Este show que fizemos aqui foi, até agora, o melhor da temporada. Acho que é muito importante o que está rolando, estou muito feliz, até porque está sendo meio uma escola. Estou junto com minha banda, nós acabamos de fazer uma turnê pelos Estados Unidos com 16 shows e agora já estamos em nosso oitavo concerto aqui na Europa. Nós estaremos com os pés na estrada por 45 dias.
CliqueMusic – Seu disco está saindo agora no Brasil. Você já tem uma previsão de quando estará se apresentando para as platéias brasileiras?
Bebel Gilberto – Não, nós não temos nada marcado, principalmente porque estou ocupada até fevereiro do ano que vem. Eu devo ir ao Brasil só para fazer promoção e depois eu volto, pois tenho que ir ao Japão. Em março estaremos novamente excursionando pelos Estados Unidos, além de fazer outra temporada mais curta pela Europa.
CliqueMusic – Isto quer dizer que antes de abril do ano que vem, nada de shows pelo Brasil, certo?
Bebel Gilberto – É, é isso.
CliqueMusic – A imprensa divulgou que os belgas do selo Crammed, gravadora que lançou o Tanto Tempo, teriam feito questão de que você gravasse o disco cantando em português. Você estava a princípio inclinada em lançar o álbum cantando em inglês?
Bebel Gilberto – Não, não é que eles tenham feito questão disto. O que aconteceu é que eles não fizeram nenhuma imposição. Eu acho que o barato de ter feito este trabalho com a Crammed Discs foi justamente a abertura que eles dão ao artista. Eles sugeriram, sim, que eu cantasse mais em português, pois eu estava com idéia de fazer as letras mais em inglês, mas fui encorajada por eles a gravar em português, principalmente porque o europeu gosta muito do som da nossa língua, sabe? Na Europa não há aquele preconceito que existe nos Estados Unidos.
CliqueMusic – Qual tem sido a vendagem de Tanto Tempo no mercado norte-americano?
Bebel Gilberto – Para minha surpresa, é lá que tenho tido o maior sucesso. Na Europa tem sido muito bacana, mas nos Estados Unidos eu já vendi 120 mil cópias.
CliqueMusic – E na Europa, qual é a vendagem?
Bebel Gilberto – Nós estamos beirando a casa dos 40 mil.
CliqueMusic - A bossa nova continua tendo um grau de aceitação grande junto ao americano, e isto impulsiona o sucesso do álbum, não é?
Bebel Gilberto – Com certeza!
CliqueMusic – Poderia se dizer que você tem como prioridade fazer deslanchar a sua carreira primeiro no exterior, para depois entrar com mais força no Brasil?
Bebel Gilberto – Não, não é isso, é só uma questão de tempo. O disco foi lançado bem antes aqui na Europa e nos Estados Unidos e eu tenho que dar mais abertura aos lugares onde ele está rolando há mais tempo. Na verdade eu sou contratada por uma gravadora belga. Eu não fiz o disco para o Brasil, foi para o selo belga, para os mercados europeu e norte-americano, depois é que o álbum foi licenciado para o Brasil. Foi a partir de fora.
CliqueMusic – Um dos pontos altos de Tanto Tempo é o Samba da Bênção, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, com aquele arranjo fascinante de Amon Tobin. Como foi que recebeu a morte do violonista?
Bebel Gilberto – Foi um baque forte para todo mundo, afinal Baden Powell foi uma pessoa muito importante para a música. Fico feliz no entanto de ter podido ouvir o que ele achou da minha gravação de Samba da Bênção e foi muito positivo. Eu me sinto como se eu tivesse me despedido dele, sabe?
CliqueMusic – Foram duas perdas marcantes para você, esta de Baden Powell e a do seu produtor, o Suba. Como é que o Suba surgiu na sua vida, ele que é um dos principais responsáveis pela beleza do Tanto Tempo?
Bebel Gilberto – Eu fico até grata de você ter falado nele, pois o Suba foi uma pessoa importantíssima, que idealizou o meu disco comigo e isto foi muito marcante para mim. Eu o conheci através de uma amiga minha do Brasil e também através de Béco Dranoff [responsável pelo selo Ziriguiboom, que lançou Tanto Tempo nos Estados Unidos], que é o outro produtor do álbum. O Suba apareceu na hora exata, um cara que tinha um talento incrível, além de ter sido também uma pessoa maravilhosa.
CliqueMusic – Em 1991, você chegou a participar de um tributo a Carmem Miranda idealizado por Arto Lindsay e do qual fizeram parte Gal Costa, Naná Vasconcelos e Laurie Anderson. Existe algum registro em áudio deste material, de forma que ele venha a ser lançado em disco?
Bebel Gilberto – Não, não existe.