Bena Lobo se rende ao destino e estréia em CD

Bernardo Lobo

Certa vez, quando dava ré no carro para estacionar, Bena Lobo foi tomado por uma melodia. Era um sambinha que chegava pronto na sua cabeça. Quando chegou em casa, aflito, pegou o violão e foi sentindo um grande alívio à medida que a música ia saltando das cordas para o papel. Era Chafariz, composição de clara inspiração buarquiana, que ele apresenta – em dueto com ninguém menos que Chico Buarque – em seu primeiro CD, Nada Virtual, que será lançado dentro de alguns dias pela gravadora Jam Music.

Levou um bom tempo até que Bena Lobo se rendesse às evidências do destino. Filho do compositor e cantor Edu Lobo e da cantora Wanda Sá, nascido e crescido no meio de artistas como Chico, Dori Caymmi, Milton Nascimento e Djavan, o jovem Bernardo, de 27 anos de idade, não se deu conta, até depois dos 20 anos, de que a música era o caminho inevitável. Só agora, sete anos depois da sua primeira aula de violão com a mãe, é que Bena Lobo chegou ao primeiro disco. E nele, todas as músicas gravadas – fora Lero-Lero, de Edu Lobo e Cacaso, e Avião, de Djavan – são de sua autoria.

Com arranjos impecáveis de Kiko Continentino (em todas as músicas, com exceção de Derradeiro Amor e Raio da Paixão, em que Kiko dividiu o trabalho com Bena) e a participação de músicos jovens e veteranos de primeira linha como Carlos Malta e Nivaldo Ornelas, o CD de Bena Lobo transita do baião ao pop, passando pelo reggae, samba-funk, afoxé, xote, samba tradicional e xote-reggae. Mas o disco mantém uma unidade musical, com tempero próprio. "Apesar de todas as influências claras de Edu, Caetano, Milton e Chico, acho que consegui fazer um disco com a minha cara", diz Bena.

Ser filho do Edu, reconhece Bena, sempre abriu muitas portas. "Mas também atrapalhou muito. As pessoas acham que é muito fácil fazer música sendo filho do Edu. Já conversei sobre isso com a Eliane, filha do Paulinho da Viola, e com o Daniel, meu amigo, filho do Gonzaguinha. Já penei muito. Hoje me dia não me importo mais com o que dizem", diz.

No começo, Bena tentava ser diferente, mas pensava: "Não consigo ser pop, só consigo ser isso". Ficava preocupado porque queria ser compositor e cantar suas músicas. "Eu ia a shows de gente mais nova que faziam o público dançar, cantar, e pensava que eu estava no caminho errado. Mas no meu carro, na minha casa, eu ouvia direto Chico, Tom, Noel Rosa, Edu, João Bosco. É disso que eu gosto, então o que eu posso fazer de música?"

Muitas vezes Bena tinha que responder a cobranças do tipo ‘como ele, com 25 anos de idade, ainda queria fazer essa música brasileira nesses tempos de hoje?’. "Aí eu me deprimia, quem vai querer ouvir Luz e Breu? Como vou superar o Chico? Impossível. O jeito era fazer isso numa linguagem nova."

A primeira paixão de Bena foi pelo teatro, aos 17 anos. Ele encontrou um grupo, do qual fazia parte Luisa Buarque, filha de Chico. Ele fez desde musical infantil até um Você Decide, na TV Globo, passando por peças adultas e musicais. Esse gosto pelo palco o incentivou mais tarde a enfrentar o público para cantar suas músicas. Só depois que começou a aprender violão ele descobriu que queria ser compositor. "Uma vez fui numa turnê com meu pai pelo Brasil, de roadie, para segurar o violão. Viajamos pelo Nordeste com uma banda ótima, com Arthur Maia, Zé Nogueira , Paschoal Meireles. Ao ver o sucesso do meu pai e desses músicos geniais, pensei: ‘Não posso não ser músico!’". Menos de um ano depois da primeira aula de violão, estava fazendo sua primeira música, Inspiração, que não gravou neste primeiro disco.

Bena começou a cantar quando já tinha composto umas seis músicas. Seu primeiro show foi no Mistura Fina (RJ), com direito a canja de Milton Nascimento e de Wanda Sá. "Agora estou mais tranqüilo, mas no começo eu ficava muito nervoso, pela responsabilidade. Entrava no palco pensando: ‘Pô, sou filho do Edu Lobo, não posso dar mole’. E meu pai, que é super exigente, lá na platéia, vendo..." Terceira geração de uma família com grande tradição na MPB – neto de Fernando Lobo e filho de Edu –, o mais jovem dos Lobos teve cuidado com forma e conteúdo em Nada Virtual. Os arranjos são apurados, bem dançantes, mostrando um irresistível sabor brasileiro. E nas composições, estão presentes, de forma original e criativa, tanto as influências que marcaram os músicos de sua geração (Chico, Caetano, Tom, Edu, Djavan, Paulinho da Viola) quanto a de novos talentos como Pedro Luís e Chico Science. O disco conta com as participações de Chico Buarque, Edu Lobo, (Mundo), Milton Nascimento (Luz e breu), da cantora Thalma de Freitas (Derradeiro Amor) e do ex-vocalista do Farofa Carioca, Seu Jorge (Nada Virtual).

Bena faz o show de lançamento de seu disco no dia do seu aniversário, 19 de setembro, no Garden Hall, no Rio. Depois, apresenta-se em São Paulo. Para o seu segundo CD, que pretende gravar no ano que vem, ele já tem várias músicas que não couberam neste. Além disso, há possibilidades de novas parcerias: uma que tem letra de Milton e já está pronta, que se chama Imagem e Semelhança, outra que está com Chico há algum tempo, e uma parceria em que ele espera ter letra de Edu, chamada Um Bom Dia.