Billy Blanco segue sua reinvenção, aos 79 anos
Autor de Samba Triste lança álbum recheado de novas versões de clássicos e mantém-se ativo como nunca
Filipe Quintans
22/01/2003
Ele é a linha viva que dividiu (e divide) o samba canção, das vozes altas e letras tristes, da bossa nova. Poeta de um tempo glorioso, mas não perdido ou esquecido como preferem alguns, Billy Blanco está produzindo aos 79 anos, o que muitos na casa dos áureos 30 anos não conseguem sequer tentar. Compõe todo dia e quer mais.
Billy ganhou releitura de suas canções mais conhecidas em A Bossa de Billy Blanco, reunindo cantores-admiradores da extensa obra de um melodista de mão cheia. Produzido pelo filho do compositor, o maestro Billy Blanco Jr., o CD (Biscoito Fino) contou com as participações de músicos como o pianista Leandro Braga (arranjador de Esperança Perdida, cantada por Ney Matogrosso) e cantores como Leila Pinheiro (em versão contida de A Banca do Distinto), Eramos Carlos (na curiosa versão de Mocinho Bonito) e Olivia Hime (Viva Meu Samba). Instrumentistas como o baterista Carlos Balla e o gaitista Maurício Einhorn também contribuiram para homenagear "o velho Billy".
Billy - William Blanco de Abrunhosa Trindade - diz não ver nada demais no fato de, à beira dos 80 anos, manter-se produtivo como nunca. "Isso quer dizer que estou vivo, e não morto", diz o compositor. Billy fala sobre o álbum novo, produzido por seu filho Billinho: "O disco deveria ter sido uma homenagem. Mas acabou se tornando, diferentemente daquilo que tinha sido planejado, um disco de carreira. Fiquei feliz de ver minha obra revista, principalmente pelo tempo que ela está aí. Dá gosto ver artistas como Leila Pinheiro e Lucinha Lins cantarem com vontade e admiração, canções que para mim, são atemporais."
A Bossa de Billy Blanco traz novos arranjos para algumas das mais típicas canções do autor. Caso de Samba Triste (com Baden Powell), Teresa da Praia e Esperança Perdida (ambas com Tom Jobim). O frescor que as músicas ganhou através do trabalho de arranjador de Billinho agradou ao compositor. "Não tenho medo algum de que sejam refeitas ou modificadas algumas canções", afirma Billy. "Apenas acho que se isso for feito, que pelo menos fosse com bom gosto e sem fugir muito ao original. Não tenho um medo que certos compositores têm de ver suas canções regravadas de um jeito diferente. Música está aí para isso", acredita Blanco.
Dentro desse para isso, Billy Blanco gosta de manter certas diretrizes em mente na hora de compor. "Ao escrever, pretendo que as canções sejam cantadas por qualquer pessoa em qualquer tempo. Não componho especificamente para uma só voz ou para um só tom. Quero que minhas canções signifiquem algo em qualquer tempo, sem ser saudosista. Música é para unir gerações, contar histórias das velhas para as novas", diz Billy. E o compositor estaria satisfeito, com a noção de dever cumprido? Ele acha que sim. "Observei as canções deste disco novo e percebi que algumas têm 53 anos de idade, caso de Praça Mauá. E esta música, gravada do jeito que está pela Lucinha Lins, ficou maravilhosa, mesmo depois de tanto tempo", exulta.
Nesse contexto, torna-se ainda mais notável a afirmação de que, aos 79 anos, Billy Blanco compõe todos os dias. "Estava acabando agora mesmo uma canção. E amanhã rasgo, jogo fora e faço tudo de novo. É como ginástica, aeróbica, essas coisas. O compositor, assim como qualquer instrumentista (um violonista, por exemplo), precisa trabalhar todo dia, colocar seu ofício em dia", diz Billy, com simplicidade. Ele também sabe que, para os padrões atuais, seu ritmo de produção é espantoso. "Eu duvido que exista um compositor na minha idade produzindo do jeito que produzo. Como disse, componho todos os dias, e não é porque tenho que compor para sobreviver. Eu sobrevivo para compor. E faço isso exatamente como fazia há 60 anos. É minha necessidade e meu papel no mundo", diz.
Autor de quase 500 músicas, Blanco desdenha, sem citar nomes, da geração atual de compositores. Para o autor da Sinfonia do Rio de Janeiro, falta "compromisso" aos autores atuais. "Acho que hoje em dia o que acontece com os compositores é uma descompetência artística", diz. "Uma total falta de compromisso com a canção. O sujeito que hoje compõe, grava e canta, muitas vezes não sabe, não vai e não quer saber de cantar direito ou de compor direito. Ele quer vender música", lamenta.
De modo típico para alguém com seu nível de atividade, Billy já prepara o sucessor de A Bossa de.... "Logo depois dos shows de lançamento deste disco novo, começarei a pensar em outro. E será todo ele inédito", adianta.
Billy ganhou releitura de suas canções mais conhecidas em A Bossa de Billy Blanco, reunindo cantores-admiradores da extensa obra de um melodista de mão cheia. Produzido pelo filho do compositor, o maestro Billy Blanco Jr., o CD (Biscoito Fino) contou com as participações de músicos como o pianista Leandro Braga (arranjador de Esperança Perdida, cantada por Ney Matogrosso) e cantores como Leila Pinheiro (em versão contida de A Banca do Distinto), Eramos Carlos (na curiosa versão de Mocinho Bonito) e Olivia Hime (Viva Meu Samba). Instrumentistas como o baterista Carlos Balla e o gaitista Maurício Einhorn também contribuiram para homenagear "o velho Billy".
Billy - William Blanco de Abrunhosa Trindade - diz não ver nada demais no fato de, à beira dos 80 anos, manter-se produtivo como nunca. "Isso quer dizer que estou vivo, e não morto", diz o compositor. Billy fala sobre o álbum novo, produzido por seu filho Billinho: "O disco deveria ter sido uma homenagem. Mas acabou se tornando, diferentemente daquilo que tinha sido planejado, um disco de carreira. Fiquei feliz de ver minha obra revista, principalmente pelo tempo que ela está aí. Dá gosto ver artistas como Leila Pinheiro e Lucinha Lins cantarem com vontade e admiração, canções que para mim, são atemporais."
A Bossa de Billy Blanco traz novos arranjos para algumas das mais típicas canções do autor. Caso de Samba Triste (com Baden Powell), Teresa da Praia e Esperança Perdida (ambas com Tom Jobim). O frescor que as músicas ganhou através do trabalho de arranjador de Billinho agradou ao compositor. "Não tenho medo algum de que sejam refeitas ou modificadas algumas canções", afirma Billy. "Apenas acho que se isso for feito, que pelo menos fosse com bom gosto e sem fugir muito ao original. Não tenho um medo que certos compositores têm de ver suas canções regravadas de um jeito diferente. Música está aí para isso", acredita Blanco.
Dentro desse para isso, Billy Blanco gosta de manter certas diretrizes em mente na hora de compor. "Ao escrever, pretendo que as canções sejam cantadas por qualquer pessoa em qualquer tempo. Não componho especificamente para uma só voz ou para um só tom. Quero que minhas canções signifiquem algo em qualquer tempo, sem ser saudosista. Música é para unir gerações, contar histórias das velhas para as novas", diz Billy. E o compositor estaria satisfeito, com a noção de dever cumprido? Ele acha que sim. "Observei as canções deste disco novo e percebi que algumas têm 53 anos de idade, caso de Praça Mauá. E esta música, gravada do jeito que está pela Lucinha Lins, ficou maravilhosa, mesmo depois de tanto tempo", exulta.
Nesse contexto, torna-se ainda mais notável a afirmação de que, aos 79 anos, Billy Blanco compõe todos os dias. "Estava acabando agora mesmo uma canção. E amanhã rasgo, jogo fora e faço tudo de novo. É como ginástica, aeróbica, essas coisas. O compositor, assim como qualquer instrumentista (um violonista, por exemplo), precisa trabalhar todo dia, colocar seu ofício em dia", diz Billy, com simplicidade. Ele também sabe que, para os padrões atuais, seu ritmo de produção é espantoso. "Eu duvido que exista um compositor na minha idade produzindo do jeito que produzo. Como disse, componho todos os dias, e não é porque tenho que compor para sobreviver. Eu sobrevivo para compor. E faço isso exatamente como fazia há 60 anos. É minha necessidade e meu papel no mundo", diz.
Autor de quase 500 músicas, Blanco desdenha, sem citar nomes, da geração atual de compositores. Para o autor da Sinfonia do Rio de Janeiro, falta "compromisso" aos autores atuais. "Acho que hoje em dia o que acontece com os compositores é uma descompetência artística", diz. "Uma total falta de compromisso com a canção. O sujeito que hoje compõe, grava e canta, muitas vezes não sabe, não vai e não quer saber de cantar direito ou de compor direito. Ele quer vender música", lamenta.
De modo típico para alguém com seu nível de atividade, Billy já prepara o sucessor de A Bossa de.... "Logo depois dos shows de lançamento deste disco novo, começarei a pensar em outro. E será todo ele inédito", adianta.