Biquíni Cavadão de ontem, hoje e sempre

Grupo regrava sucessos do pop brasileiro no disco 80 e tem seus primeiros álbuns relançados em caixa

Tatiana Tavares
18/09/2001
Uma das bandas que, apesar dos altos e baixos, sobreviveu à passagem dos bem sucedidos anos 80 e da conturbada década seguinte, o Biquini Cavadão - contemporâneo de Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e companhia - está de disco novo na praça. Depois do relativo sucesso de Escuta Aqui, lançado ano passado, o grupo resolveu fazer agora seu  álbum de versões, depois que grupos como Ira! e Titãs já  aproveitaram bem o filão. O disco chama-se 80 ouvir 30s (Universal Music) e como o título sugere, revisita sucessos de bandas responsáveis pelo "boom" do rock nacional daquela época. Além do novo álbum, os fãs da banda ainda podem coçar o bolso para atualizar suas discotecas: os quatro primeiros álbuns do Biquíni (Cidades em Torrentes, de 1986; A Era da Incerteza, 1987; , 1989 e Descivilização, 1991) voltam às lojas, reunidos em uma caixa quádrupla.

"Acho que a idéia do 80 começou mesmo a nascer quando em setembro do ano passado, fizemos uma temporada no Ballroom, (casa de shows no Rio de Janeiro), em que durante quatro semanas, recebiamos todas as quartas-feiras convidados com quem improvisavamos versões para sucessos dos anos 80. Na verdade, sempre gostamos de tocar músicas dos outros, como Chove Chuva, do Jorge Benjor por exemplo - incluída em nosso repertório já há algum tempo. Acho que tudo isso, aliado ao fato de que o mercado fonográfico andava precisando de uma força, de uma revigorada, ajudou a amadurecer a idéia do disco", declara o guitarrista Carlos Coelho.

O repertório inclui alguns hits como A Novidade, dos Paralamas, Angra dos Reis, da Legião Urbana e Camila, Camila, do Nenhum de Nós, mas também apresenta composições mais obscuras como Armadilha, dos brasilienses do Finis Africae e Múmias, do próprio Biquini, com a participação de Renato Russo na gravação original. A nova versão virou quase um reggae, perdendo as características soturnas da primeira gravação, mas manteve a voz do vocalista da Legião Urbana - que nesta nova roupagem, soou um tanto deslocada.

"Deu o maior trabalho para rearrumar a música, mas decidimos que a participação de Renato não deveria ser suprimida. Incluímos um rap no meio da faixa (cantado pelo rapper Suave), o que atualizou a letra e trouxe a música para o século XXI. Gostamos mais desta versão que da original", confessa.

Outros destaques do disco são Educação Sentimental II (do Kid Abelha), com a participação da vocalista do grupo Penélope, Érika Martins e Hoje, do Camisa de Vênus, que conta aqui com o próprio Marcelo Nova dividindo os vocais com Bruno. Ambas ganharam ritmo mais acelerado, assim como Toda Forma de Poder, música dos Engenheiros do Hawaii que abre o CD. E também Angra dos Reis, que ganhou um ar "alegrinho" bem pouco apropriado. "Ao fazer as novas versões, não tivemos a preocupação de fazer com que ficassem nem muito diferentes e nem muito parecidas com as originais", diz Coelho.

Mas nem só de paradas de sucesso foi feito o repertório. Segundo Coelho, haveria material até para um segundo volume. "Não era nossa intenção regravar apenas hits. Tínhamos 25 músicas selecionadas inicialmente, e acabamos escolhendo as que mais tinham a ver com a gente", lembra o guitarrista. Coelho diz que a idéia de lançar um disco que agradasse em cheio aos fãs também foi ajudada pelo fato de que o mercado musical vinha se mostrando "fraco demais", segundo ele. "Ninguém aguenta mais essa onda de funk, de popozuda. Isso na verdade é muito triste e degradante para um país que é musicalmente tão rico e cheio de opções. As pessoas precisam reagir contra tudo isso e nosso poder para mudar isso é fazer um trabalho de qualidade", analisa.

Encaixotando o passado
A saga do Biquíni rumo ao "baú" do passado não acaba com o lançamento de 80. Simultaneamente ao lançamento do novo álbum, a Universal Music relança os quatro primeiros discos do grupo, sendo que o primeiro, Cidades em Torrentes (no qual está a versão original de Múmias) ainda não existia no formato digital. "É legal para que as pessoas que ainda não conhecem nosso trabalho mais antigo tenham agora uma oportunidade. O Biquini é uma banda que já tem 16 anos de história e esses discos vão ajudar a contar um pouco de tudo isso", conclui o guitarrista.

Segundo Coelho, a apresentação do grupo na última edição do Rock in Rio, em janeiro, foi fundamental para reafirmar o carisma do grupo mesmo entre os mais jovens. "Foi um show maravilhoso. Realmente não esperavamoos que a coisa funcionasse tão bem na Tenda Brasil. Muita gente ficou do lado de fora espalhada pelo gramado, ouvindo a gente". Coelho diz que a banda nunca teve do que reclamar em relação aos fãs. "Sempre tivemos um público fiel que acompanha nosso trabalho desde o começoo. É muito bom saber que durante todos estes anos estivemos presentes e ajudando a contar um pouco da história do pop/rock no Brasil". O guitarrista acha que a (relativa) abertura das gravadoras para o rock atualmente é muito boa, mas deve ser encarada como mais um modismo. "Acho que todos os gêneros têm o seu espaço e tudo o que está  na moda tem seus dias contados. O que importa é a sinceridade do trabalho e nada mais", explica.