Bonde do Tigrão: o <i>batidão</i> no <i>esquemão</i>

MC Leandrinho e sua turma são a ponta de lança das grandes gravadoras no campo do funk carioca, com seu disco cheio de variações sobre o tema da tchu-tchuca

Silvio Essinger
20/02/2001
A invasão foi rápida: dos bailes de subúrbio cariocas ao palco do Rock In Rio 3, onde foi cantado por Fernanda Abreu, Paula Toller e Max de Castro, o funk carioca passou como um furacão... 2000 (leia matéria). Era uma questão de tempo até que a indústria fonográfica absorvesse o fenômeno e começasse a tentar ganhar o seu em cima. Então, os artistas que se espremiam em coletâneas de grande sucesso, vendidas em bancas de jornal e camelódromos, começaram a ganhar rostos e discos. O primeiro deles é o Bonde do Tigrão, do MC Leandrinho (Leandro Dionísio dos Santos Moraes), que chega às lojas esta semana (ou seja, a tempo de pegar o carnaval), pela Sony Music, com o seu Bonde do Tigrão amostras de 30s. O ex-empacotador de supermercado, de 20 anos de idade, é o responsável por alguns dos maiores sucessos do funk carioca: Tchu Tchuca (a do "vem aqui com seu tigrão") e Cerol na Mão. Que estão de volta no CD ao lado de algumas variações sobre o mesmo tema.

O Bonde do Tigrão vem a ser Leandro mais três dançarinos: Tiaguinho, Vaguinho e Gustavo. No banho de loja promovido pela Sony, eles ganharam uma produção sonora mais esmerada, que lembra as músicas dos primórdios do rap, no começo dos anos 80, de Afrika Bambaataa e Grandmaster Flash - justamente a matriz do funk carioca. Um tigre rosna no começo de cada música, como uma marca registrada do Bonde. A fim de obter material suficiente para completar a duração de um CD, Tigrão e seus produtores (Victor Jr. e Mãozinha DJ) inventaram coisas como Caçador de Tcutchuquinha ("E o resto, Tigrão?/ Eu só faço no escurinho", dialogam a tchuca e o MC, sob um sample de trilha de Sexta-Feira 13), Cobra-Cega e Bate Bum-Bum. O nível de lascívia sobe em Que Coisa Louca (que é quase pornô), Cerol na Mão 2 ("Geral fica bolado quando aparo a pipa dela") e Adoleta ("Adoleta, cobra-cega, salada mista ou pega-pega/ As tchu-tchuquinhas quer dançar, os tchu-tchuquinhos quer também").

Como bom produto de gravadora, o Bonde do Tigrão não poderia ter apenas aquele funk selvagem dos bailes, mesmo que polido em estúdio. Depois que passar a febre desse tipo de música (que, por enquanto, vem sendo usado para levantar a audiência dos principais programas populares das grandes redes de TV), eles ainda poderão recorrer ao primo pop e branco do gênero, o funk melody, com o qual Claudinho & Buchecha fizeram sua carreira. Todo Bobo, Minha Princesinha e Dá uma Tremidinha não escondem a influência da dupla de São Gonçalo, que bebeu em Lulu Santos para formatar seu funk. Mas o Bonde vai ainda mais longe, arriscando uma balada melosa à la Sampa Crew, Tá de Brincadeira, composição do veterano produtor Armando Saccomani com Joel Lacerda. Bem comportada, essa é para a tchu-tchuca romântica.



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