Bossa nova versus Bonde do Tigrão
Marcos Valle, Roberto Menescal e Wanda Sá gravam agradável CD ao vivo no Teatro Rival. Descontraído, o show teve até piada sobre o novo funk carioca
Rodrigo Faour
06/03/2001
"Agora a gente vai tocar o Tigrão". Quem ameaçou quebrar o clima sofisticado do show Bossa Entre Amigos, na segunda-feira à noite, no Teatro Rival, arrancando gargalhadas da platéia, foi Roberto Menescal, na hora do bis. Ele se referia ao funk do MC Leandrinho, que tocou à exaustão no último carnaval, azucrinando a vida de quem ainda preza um mínimo de sutileza em matéria de MPB. E continuou: "É uma letra de Vinicius de Moraes. É preciso parar para ouvi-la, tem que ter um clima para se perceber suas sutilezas", ironizou. Depois de apresentar os patrocinadores do show, arrematou: "Se não tiver patrocínio a gente vai tocar o Tigrão mesmo, hein!" Foi nesse clima de descontração e bom humor que Menescal, Wanda Sá e Marcos Valle se reuniram pela primeira vez para gravar um CD ao vivo, que sairá pela Albatroz no mês que vem, quando o trio voltará ao palco do Rival, desta vez para o show de lançamento.
O curioso é justamente perceber as diferenças entre aquele som tocado ali no Rival - na maioria, canções dos anos 60 - e o Bonde do Tigrão e outros funks, que são o retrato do Rio de Janeiro de 2001. E não há como não ser saudosista. Nas 22 bossas do show, fica claro que dificilmente melodias maravilhosas, envoltas em harmonias tão trabalhadas e letras cheias de sedução e magia voltem a ser feitas (pelo menos com tamanha espontaneidade), ainda por cima com o sucesso que todas essas obtiveram quando lançadas. Os tempos são outros mas os três artistas continuam os mesmos. Menescal e Wanda com aquele som agradável, correto, que os japoneses aprenderam a cultuar. E Valle com um toque um pouco mais pop, cortesia de seu teclado inconfundível e de seus arranjos mais modernos.
Wanda e Menescal tocaram os clássicos de sempre da dupla Menescal & Bôscoli (Ah! Se Eu Pudesse, Telefone, Vagamente, O Barquinho, Você), a menos manjada Nara (em homenagem à "musa da bossa nova") e Bye Bye Brasil (com letra condensada). Cantaram Samba de Verão para receber Marcos Valle que deu um upgrade no show. Com o apoio vocal de Patrícia Alvi, o trio entoou Terra de Ninguém, Os Grilos, a menos manjada Seu Encanto, mais Ao Amigo Tom e a irresistível Preciso Aprender a Ser Só, quando alguns espectadores imediatamente acrescentaram uma pedra de gelo aos seus copos de uísque. Em Viola Enluarada, Valle largou o teclado e foi para o piano acústico, em desempenho emoldurado por um cello e um violino. Só não ficou perfeito porque nessa canção o cantor exagerou nos vibratos.
Amigos da bossa e novas bossas
A seguir, Wanda & Menescal se revezaram com Valle & Patrícia, recordando os amigos da bossa. Os primeiros trouxeram de volta Johnny Alf (Rapaz de Bem), Durval Ferreira & Lula Freire (E Nada Mais) e Baden Powell & Vinicius (Tem Dó). A outra dupla defendeu Carlos Lyra e Vinicius (Você e Eu), Tom Jobim (Este Seu Olhar) e João Donato & Caetano Veloso (A Rã). Todas mereceram historinhas. Antes de cantar esta última (que, por sinal, é a cara de Valle), o compositor lembrou que certa vez Tom Jobim disse o seguinte numa festinha: "Daqui a pouco vai chegar meu professor". E Valle pensou com seus botões: "Pô, quem pode ser o professor do Tom Jobim?" Era João Donato. Já Menescal apelou mais uma vez para o seu anedotário, quando recordou Baden, Vinicius, Tom, Bôscoli e outros amigos que já se foram. "O Baden não aguentou e foi embora lá pra cima também. Lá deve estar bom demais!". Wanda não se fez de rogada e passou um pito no amigo. "Está querendo ir pra lá também, é?". Risos gerais.
Ao final do show, um sopro de atualidade na bossa. Todos juntos executaram as recentes Nova Bossa Nova (Valle) e Bênção Bossa Nova (Menescal, Carlos Lyra e Paulo César Pinheiro) e encerraram com a inédita parceria de Valle & Menescal, Bossa Entre Amigos, que deu nome ao show. Pela força das novas canções, até que poderiam ter investido mais nelas. Apesar de um repertório sem muita imaginação, a descontração do trio (ajudada por uma competente banda de base) fez do show um momento bastante agradável, verdadeiro oásis de bom gosto e sutileza, em meio ao caos urbano (e musical) do Rio de Janeiro.
O curioso é justamente perceber as diferenças entre aquele som tocado ali no Rival - na maioria, canções dos anos 60 - e o Bonde do Tigrão e outros funks, que são o retrato do Rio de Janeiro de 2001. E não há como não ser saudosista. Nas 22 bossas do show, fica claro que dificilmente melodias maravilhosas, envoltas em harmonias tão trabalhadas e letras cheias de sedução e magia voltem a ser feitas (pelo menos com tamanha espontaneidade), ainda por cima com o sucesso que todas essas obtiveram quando lançadas. Os tempos são outros mas os três artistas continuam os mesmos. Menescal e Wanda com aquele som agradável, correto, que os japoneses aprenderam a cultuar. E Valle com um toque um pouco mais pop, cortesia de seu teclado inconfundível e de seus arranjos mais modernos.
Wanda e Menescal tocaram os clássicos de sempre da dupla Menescal & Bôscoli (Ah! Se Eu Pudesse, Telefone, Vagamente, O Barquinho, Você), a menos manjada Nara (em homenagem à "musa da bossa nova") e Bye Bye Brasil (com letra condensada). Cantaram Samba de Verão para receber Marcos Valle que deu um upgrade no show. Com o apoio vocal de Patrícia Alvi, o trio entoou Terra de Ninguém, Os Grilos, a menos manjada Seu Encanto, mais Ao Amigo Tom e a irresistível Preciso Aprender a Ser Só, quando alguns espectadores imediatamente acrescentaram uma pedra de gelo aos seus copos de uísque. Em Viola Enluarada, Valle largou o teclado e foi para o piano acústico, em desempenho emoldurado por um cello e um violino. Só não ficou perfeito porque nessa canção o cantor exagerou nos vibratos.
Amigos da bossa e novas bossas
A seguir, Wanda & Menescal se revezaram com Valle & Patrícia, recordando os amigos da bossa. Os primeiros trouxeram de volta Johnny Alf (Rapaz de Bem), Durval Ferreira & Lula Freire (E Nada Mais) e Baden Powell & Vinicius (Tem Dó). A outra dupla defendeu Carlos Lyra e Vinicius (Você e Eu), Tom Jobim (Este Seu Olhar) e João Donato & Caetano Veloso (A Rã). Todas mereceram historinhas. Antes de cantar esta última (que, por sinal, é a cara de Valle), o compositor lembrou que certa vez Tom Jobim disse o seguinte numa festinha: "Daqui a pouco vai chegar meu professor". E Valle pensou com seus botões: "Pô, quem pode ser o professor do Tom Jobim?" Era João Donato. Já Menescal apelou mais uma vez para o seu anedotário, quando recordou Baden, Vinicius, Tom, Bôscoli e outros amigos que já se foram. "O Baden não aguentou e foi embora lá pra cima também. Lá deve estar bom demais!". Wanda não se fez de rogada e passou um pito no amigo. "Está querendo ir pra lá também, é?". Risos gerais.
Ao final do show, um sopro de atualidade na bossa. Todos juntos executaram as recentes Nova Bossa Nova (Valle) e Bênção Bossa Nova (Menescal, Carlos Lyra e Paulo César Pinheiro) e encerraram com a inédita parceria de Valle & Menescal, Bossa Entre Amigos, que deu nome ao show. Pela força das novas canções, até que poderiam ter investido mais nelas. Apesar de um repertório sem muita imaginação, a descontração do trio (ajudada por uma competente banda de base) fez do show um momento bastante agradável, verdadeiro oásis de bom gosto e sutileza, em meio ao caos urbano (e musical) do Rio de Janeiro.