Branco Mello ataca de mini-ópera-rock

Com um grande time de convidados especiais, o vocalista dos Titãs lança o livro/disco infantil Eu e o Meu Guarda-chuva

Mônica Loureiro
12/12/2001
Eugênio é um menino que considera um guarda-chuva como seu melhor amigo. Mas o travesseiro, o relógio e até um livro também são seus companheiros a bordo de sua cama-aeronave. E passam por buraco de metrô, supermercado, barbeiro, museu... As aventuras fazem parte do livro Eu e Meu Guarda-chuva, que tem argumento de Branco Mello, texto de Hugo Possolo e ilustrações de Rico Lins. Lançado pela Editora Globo, o volume vem acompanhado de um CD com dez músicas que em nada lembram as tradicionais musiquinhas infantis. São canções de puro rock, cantadas por nomes como Cássia Eller, Falcão (O Rappa) e Frejat.

A imaginativa história começou a ser criada há 15 anos, quando Branco Mello e Ciro Pessoa comporam uma série de músicas sem compromisso. "Nós brincávamos de fazer personagens, eram umas músicas malucas, com temas lisérgicos. Passávamos noites e noites escrevendo e rindo!", conta o músico. Uma delas (Dona Nenê 30'' excerpts) chegou a ser incluída no disco Televisão ouvir 30s (85), do Titãs, mas as outras continuaram guardadas. "Senti que as músicas me acompanhavam e comecei a formatar a idéia de uma ópera rock infantil. Mas nunca tinha tempo", justifica. Branco diz que há três anos, a atriz Angela Figueiredo, sua mulher, tomou a iniciativa de tocar o projeto. "Com as férias que nós (o grupo) tiramos, pude me dedicar mais. Passei o argumento para o Hugo, e dei total liberdade para ele amarrar a história da forma que quisesse", revela.

Com o argumento e personagens, Branco também cedeu as músicas para que Hugo trabalhasse o texto. O diretor do grupo teatral Parlapatões, Patifes e Paspalhões apresentou primeiramente a ópera-rock. "Mas a gente reparou que a peça seria um projeto mais demorado, até arranjar o dinheiro...", explica Branco. O Titã partiu então para a concretização do livro e do CD. Andréa Beltrão, Maurício Farias, Vicente Barcellos, Kassin e Berna Ceppas foram alguns das dezenas de amigos envolvidos no projeto: "Desde o início, tudo foi feito em grupo, em harmonia. Todos davam suas opiniões, traziam suas idéias".

Eu e Meu Guarda-chuva, mistura sonho e realidade, ambivalência bastante comum em crianças na idade do personagem Eugênio. "(A idade de) dez anos é uma época mágica, fascinante. Aqui não há nada de super-heróis, e sim a insegurança de se estar próximo a adolescência, e preso ainda a todo um mundo ingênuo à sua volta", resume Branco. O livro é recomendado para crianças com mais de quatro anos, mas Branco discorda: "Eu não limitaria a idade. Afinal, cada criança absorve de sua prórpia forma. Vejo pelo meus filhos: Joaquim, que tem 2 anos, ouve o CD, dança e reconhece os personagens. E Bento, de 10, já tem uma relação mais profunda com o aspecto literário do trabalho", garante. E completa: "Todos os meus amigos gostaram! E a maioria tem mais de 40...", brinca.

Rock de gente pequena
Das 14 músicas iniciais, Hugo Possolo acabou amarrando dez na história de Eugênio e seu guarda-chuva. "Na minha cabeça, eu já tinha todas as músicas encaminhadas para cada um. E quando convidei, todos toparam na hora, sem nem conhecer as outras composições", lembra Branco. O CD tem Falcão (Prisioneiro), Arnaldo Antunes (O Mistério de Jonas) Marcelo D2 (Buraco do metrô), Elza Soares e Toni Garrido (Hércules e seu Amigo Asterix), Cássia Eller (Eu Sou um Rei), Frejat (O Tenente), Rodolfo, ex-Raimundos (Dona Nenê), o Coro Infantil da Escola de Música da Rocinha (Museu Ideológico) e o próprio Branco (Eu e Meu Guarda-chuva/Lance de Cabelo).

"Eu sabia, por exemplo, que Elza ia arrebentar cantando Hércules.... Ela é minha amiga, eu já falava há anos que tinha essa música pra ela gravar. E com a idéia de um duo, veio o Toni, que estava louco para gravar com ela", conta. Branco lamenta a ausência de Herbert Vianna, que participaria cantando Lance de Cabelo. "Ele era um dos grandes incentivadores do projeto, mas aí aconteceu o acidente e ele não pôde gravar".

Um momento especial do CD é a participação das crianças da Rocinha. "Sempre imaginei Museu com um clima de excursão de colégio. E queria também um grupo ligado a algum trabalho social. Pensamos em uns meninos do Morumbi, mas não conseguimos verbas. Aí a Ângela conheceu o diretor da Escola de Música da Rocinha e então conseguimos gravar com as 11 crianças", relata.

Branco deixa claro que o CD é independente - foi produzido pela Casa 5 (produtora dele, Angela e Diana Bouth), e que todos os artistas doaram seus cachês para a Sociedade Viva Cazuza. "Os direitos seriam divididos, o que daria pouco para cada um. Não é um projeto que visa lucro, trabalho em rádios e que vá vender milhões... Então, todos acharam fantástico juntar tudo e doar para a instituição", conta. Branco finaliza que Eu e Meu Guarda- chuva foi feito em total harmonia, pois todos sabiam que estavam realizando um bom projeto. "Há uma carência de coisas boas para as crianças. Não que este projeto seja melhor que outros, mas pelo menos oferece uma outra opção. E, se há oportunidade para escolher entre coisas diferentes, passa-se a questionar se aquilo é mesmo bom ou não".