Branco Mello revive o lado B dos Titãs

Em show solo quinta-feira à noite, no Blen Blen, em São Paulo, cantor e compositor não resistiu e tirou da gaveta canções obscuras da banda paulistana

Tom Cardoso
01/12/2000
Não adianta. Por mais que anunciem férias, os integrantes dos Titãs não conseguem se desgrudar. Quinta-feira, na estréia paulista do show de Branco Mello, no Blen Blen, lá estavam na platéia seus companheiros de banda Paulo Miklos e Sérgio Britto, além do ex-integrante Arnaldo Antunes. Todos felizes e orgulhosos com a nova investida musical de Branco, que subiu ao palco acompanhado da banda S.Futurismo (Alexandre Kassin e Bartolo nas guitarras, Bubu no baixo e Domenico Lancellotti na bateria).

Na verdade, o show funcionou muito mais como uma espécie de revival do repertório obscuro dos Titãs do que uma estréia solo de Branco, que cantou umas poucas inéditas. Canções como Nem Sempre Se Pode Ser Deus, Flat - Cemitério - Apartamento, Eu Não Sei Fazer Música, 32 Dentes, Tudo em Dia e Dona Nenê ganharam arranjos ainda mais pesados e fizeram o público esquecer um pouco a interminável fase acústica do grupo paulistano. No embalo, Branco não resistiu e ainda cantou uma versão hardcore de É o Amor, sucesso da dupla pop-sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano. Ciro Pessoa, ex-integrante dos Titãs, e parceiro ainda constante do vocalista, foi homenageado em duas músicas, as ótimas Eu não Presto e Lance de Cabelo, esta última incluída na ópera-rock infantil Eu e Meu Guarda-Chuva, projeto que Branco prepara ao lado de sua mulher, a atriz Ângela Figueiredo.

Branco saiu-se bem revivendo o Lado B dos Titãs, mas não agradou tanto como intérprete de outros compositores, como em Salve Linda Canção Sem Esperança, de Luiz Melodia. Fez bonito de novo ao dividir os vocais com Arnaldo Antunes em Eu não Sou da Sua Rua (parceria dos dois gravada por Marisa Monte) e Lugar Nenhum, levando à loucura o pequeno mais fiel público do Blen Blen. Era, enfim, o bom e velho Titãs de volta, sem orquestra, figurinos e adolescentes gritando - Branco e Arnaldo cantaram como se estivessem no palco do Projeto SP (extinta casa de shows paulistana), numa noite de verão de 1986, apresentando o repertório do disco daquele ano, o punk Cabeça Dinossauro.

No bis, como era esperado, Paulo Miklos e Sérgio Britto foram convocados a subir ao palco. Abraçados, Arnaldo (o mais empolgado), Branco e Miklos cantaram juntos a manjadíssima Flores, e só não seguiram noite adentro porque o show já estava ficando longo demais. Sérgio Britto não deu as caras. Talvez tenha resolvido levar a sério as tais férias dos Titãs. No próximo dia 8, o titã e seu S.Futurismo repetem a dose no Rio, em show no Ballroom.