Cada vez mais perto das capitais
Os gaúchos – e parceiros – Bebeto Alves e Totonho Villeroy procuram, por caminhos diferentes, romper as fronteiras de seu estado e consolidar-se no cenário abrangente da MPB
Nana Vaz de Castro
21/11/2000
Longe Demais das Capitais, primeiro disco de sucesso dos Engenheiros do Hawaii, lançado em 1986, traduzia em sua faixa-título a angústia que por muito tempo foi relacionada ao suposto isolamento gaúcho. "Nossa cidade é tão pequena e tão ingênua/ tão distante do horizonte do país/ estamos longe demais das capitais", diz a letra. Mesmo tão longe "do horizonte do país", o Rio Grande já contribuiu com alguns dos maiores nome da MPB. Sem muito esforço, basta lembrar que Elis Regina, Lupicínio Rodrigues e Radamés Gnattali eram gaúchos. Ou ainda, quem pode se esquecer da Camila, Camila do Nenhum de Nós e do "Deu pra ti/ baixo astral/ vou pra Porto Alegre, tchau", dos irmãos Kleiton & Kledir? Assim mesmo, um sem-número de bons artistas encara uma espécie de "confinamento voluntário" e não ultrapassa as barreiras do estado – ou leva muito tempo para isso.
"Isso acontece muito, sem dúvida. O Rio Grande do Sul é um estado do tamanho da França, tem 12 milhões de consumidores", explica o compositor e cantor Totonho Villeroy, gaúcho de São Gabriel (mas radicado no Rio), que já conseguiu ultrapassar muitas fronteiras. Além de se apresentar com freqüência na Europa desde 1994, ele estourou no ano passado com Garganta e Tô Saindo na voz da mineira Ana Carolina. Além disso, é um dos novos parceiros do carioca Ivan Lins, que incluiu a faixa Ladrão
, de autoria dos dois, em seu último disco, A Cor do Pôr-do-Sol.
Agora Totonho quer ser mais conhecido também como intérprete. Seu último disco solo, Trânsito, é de 1995. "De lá pra cá já tenho muito material acumulado, de vários estilos – funk, samba, pop, bossa, milonga, balada...", diz ele. Para escolher o repertório do próximo disco, que deve sair no ano que vem, Totonho vai contar com a ajuda do público. Em seu show hoje à noite no Rio (no Hipódromo Up, tel. 294 0095) e em dezembro em Porto Alegre, os espectadores receberão uma cédula na entrada e votarão nas doze músicas que acham que devem compor o próximo CD. "Vai me ajudar a decidir o que incluir. É importante saber o que o público acha", conta Totonho, que vai fazer em dezembro um outro show no Mistura Fina (RJ) apresentando as músicas "eleitas".
Algumas já são presença certa no novo CD, como, é claro, Garganta e Tô Saindo e Ladrão. Outras como Gramado Suplementar
, também são fortes candidatas. Gramado, que cai para o lado do reggae e do raggamuffin’, é uma homenagem a Ronaldinho Gaúcho, do Grêmio, composta por um colorado (torcedor do Internacional). Como assim? "O Ronaldinho Gaúcho joga um futebol muito bonito, e além do mais é boa praça, toca pandeiro, já toquei com ele em uma roda de samba", justifica.
Bossa tango
Assim como não tem preconceitos clubísticos, Totonho também transita com facilidade entre os estilos. Em 99 participou da coletânea Porto Alegre Canta Tangos
, com cantores gaúchos acompanhados por uma orquestra típica argentina. "Os argentinos gostaram do nosso fraseado diferente, da maneira menos tradicional de cantar o tango, quase como bossa, com uma dramaticidade mais contida", diz.
Da mesma coletânea participou seu parceiro Bebeto Alves, um caso de artista gaúcho que depois de muito tempo de estrada decide tentar romper as fronteiras estaduais. Aos 46 anos, está chegando agora ao seu 15º álbum, ao mesmo tempo em que sete de seus discos mais antigos estão sendo relançados em CD, pela cooperativa – gaúcha! – de músicos Gens.
Nascido em Uruguaiana, na fronteira com a Argentina e bem perto do Uruguai, Bebeto traz arraigado em si o cerne da tradição musical dos pampas, a milonga. "A milonga é, além de um ritmo, um estado de espírito com o qual me identifico. Ela traduz, de certa forma, a paisagem dos pampas. Muita gente pensa que a milonga é só argentina, mas ela é também brasileira e uruguaia", diz o cantor e compositor.
Drum’n’milonga
Curiosamente, Bebeto Alves vem fazendo, ao longo de sua carreira, uma espécie de crossover (para horror dos puristas), misturando suas referências de pop, reggae e rock à tradicional milonga. Um trabalho que poderia, no afã classificatório dos críticos, ser rotulado como pop-milonga, hard-milonga, ska-milonga, pampa-bit, como escreveu um jornalista, ou, mais recente, drum’n’milonga. O resultado se apresenta em faixas como a angustiada Milonga de Paus, a vanguardista Milonga Sobrenatural, ou a eletrônica Retoque, respectivamente dos discos Milonga de Paus (90)
, Paisagem (93)
e Milonga Nova (2000)
. Ao mesmo tempo, Bebeto participou recentemente de três discos dedicados exclusivamente à obra do compositor Mauro Moraes, que se poderia chamar de tradicional gaúcha. "A cultura musical do Rio Grande de Sul é recente, é nova, e estamos anexando informações musicais ao universo da música brasileira", explica.
Seu mais recente disco, Bebeto Alves y la Milonga Nova
, por enquanto foi lançado só no Rio Grande do Sul. "Mas pretendo lançar no Brasil inteiro, pois o trabalho cresceu muito fora do Brasil, na Europa e Argentina, e quero que ele seja conhecido em todo o país", afirma. Quando perguntado se a insistência na milonga não prejudicaria sua aceitação no resto do Brasil, Bebeto encontra outra explicação: "Talvez o mais difícil para se assimilar seja a convivência entre a tradição quase mitológica da música gaúcha e a contemporaneidade da minha música."
"Isso acontece muito, sem dúvida. O Rio Grande do Sul é um estado do tamanho da França, tem 12 milhões de consumidores", explica o compositor e cantor Totonho Villeroy, gaúcho de São Gabriel (mas radicado no Rio), que já conseguiu ultrapassar muitas fronteiras. Além de se apresentar com freqüência na Europa desde 1994, ele estourou no ano passado com Garganta e Tô Saindo na voz da mineira Ana Carolina. Além disso, é um dos novos parceiros do carioca Ivan Lins, que incluiu a faixa Ladrão
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Agora Totonho quer ser mais conhecido também como intérprete. Seu último disco solo, Trânsito, é de 1995. "De lá pra cá já tenho muito material acumulado, de vários estilos – funk, samba, pop, bossa, milonga, balada...", diz ele. Para escolher o repertório do próximo disco, que deve sair no ano que vem, Totonho vai contar com a ajuda do público. Em seu show hoje à noite no Rio (no Hipódromo Up, tel. 294 0095) e em dezembro em Porto Alegre, os espectadores receberão uma cédula na entrada e votarão nas doze músicas que acham que devem compor o próximo CD. "Vai me ajudar a decidir o que incluir. É importante saber o que o público acha", conta Totonho, que vai fazer em dezembro um outro show no Mistura Fina (RJ) apresentando as músicas "eleitas".
Algumas já são presença certa no novo CD, como, é claro, Garganta e Tô Saindo e Ladrão. Outras como Gramado Suplementar
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Bossa tango
Assim como não tem preconceitos clubísticos, Totonho também transita com facilidade entre os estilos. Em 99 participou da coletânea Porto Alegre Canta Tangos
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Da mesma coletânea participou seu parceiro Bebeto Alves, um caso de artista gaúcho que depois de muito tempo de estrada decide tentar romper as fronteiras estaduais. Aos 46 anos, está chegando agora ao seu 15º álbum, ao mesmo tempo em que sete de seus discos mais antigos estão sendo relançados em CD, pela cooperativa – gaúcha! – de músicos Gens.
Nascido em Uruguaiana, na fronteira com a Argentina e bem perto do Uruguai, Bebeto traz arraigado em si o cerne da tradição musical dos pampas, a milonga. "A milonga é, além de um ritmo, um estado de espírito com o qual me identifico. Ela traduz, de certa forma, a paisagem dos pampas. Muita gente pensa que a milonga é só argentina, mas ela é também brasileira e uruguaia", diz o cantor e compositor.
Drum’n’milonga
Curiosamente, Bebeto Alves vem fazendo, ao longo de sua carreira, uma espécie de crossover (para horror dos puristas), misturando suas referências de pop, reggae e rock à tradicional milonga. Um trabalho que poderia, no afã classificatório dos críticos, ser rotulado como pop-milonga, hard-milonga, ska-milonga, pampa-bit, como escreveu um jornalista, ou, mais recente, drum’n’milonga. O resultado se apresenta em faixas como a angustiada Milonga de Paus, a vanguardista Milonga Sobrenatural, ou a eletrônica Retoque, respectivamente dos discos Milonga de Paus (90)
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Seu mais recente disco, Bebeto Alves y la Milonga Nova
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