Caetano vive indecisão na reta final do novo CD

Compositor baiano, que dividiu ontem o palco com o sambista Roberto Silva na gravação do Casa de Samba 4, espera lançar no mês que vem o álbum que realiza ainda sem produtor

Silvio Essinger
05/10/2000
O momento era antológico: ontem, pela primeira vez, Caetano Veloso se encontrava com o cantor Roberto Silva, uma das últimas grandes lendas do samba ainda vivas. Eles cantaram juntos, para o volume 4 da série Casa de Samba, a música Juracy, de Antônio Almeida e Ciro de Souza, que Roberto havia registrado em 1958, com sucesso, no primeiro dos quatro volumes da série de discos Descendo o Morro. "Durante muito tempo, Roberto Silva foi uma pessoa muito importante na minha vida – e ele não sabia", desmanchou-se Caetano. "Sabia sim, pelos jornais", devolveu o mestre, dizendo que o novo amigo é "um grande profissional e grande cantor". O baiano disse que há muito tempo conhecia os dois primeiros discos Descendo o Morro (que foram relançados em CD só no ano passado), graças a cópias em fita cassete. "Quando era pequeno, o Moreno (filho de Caetano) gostava muito de Juracy. Perguntei então ao Roberto Silva se estava tudo bem gravarmos essa música", relatou.

A grande expectativa entre a imprensa, no entanto, era saber sobre o disco de carreira que Caetano está preparando – depois da participação no Casa de Samba, ele correu de volta para o estúdio. "Se o disco ficar pronto logo, lanço em novembro. Se não, fica para o ano que vem", avisou. Ele conta que começou gravando algumas de suas novas composições. Depois, veio o projeto de um disco de canções americanas, que acabou sendo adiado, em prol do disco de inéditas. "Os discos são independentes um do outro", explica. Caetano se encontra naquele momento difícil de ver qual é a cara do disco. "Ele está mais para pronto. Em alguns momentos acho que está 90% pronto, noutros acho que está só 30%", despista.

O cantor começou a gravar sozinho e chegou a chamar o produtor de seus últimos discos, Jaques Morelenbaum, que estava com viagem marcada e não pôde atender ao convite. "Acho que vai ser um disco sem produtor, como foi Araçá Azul", arrisca Caetano. Ele talvez regrave Alegria, Alegria, um de seus primeiros sucessos, só com voz e piano. E talvez chame o produtor Dudu Marote se tiver uma faixa que exija algo "mais eletrônico". De certo, ele tem a faixa 13 de Maio, que tem arranjo, guitarra e percussões de Moreno Veloso. "Moreno estuda Física, trabalha num laboratório e gosta muito de música. Conhece todos os discos e gosta muito de Gil. Cores Vivas (do disco Luar, de 1981) ele toca lindo. Mas Moreno sempre foi muito independente, parece que não tem muito compromisso. Ele arrebentou no meu disco", elogia. Caetano retribuiu a força tocando violão numa faixa do disco da banda do filho, Moreno + 2, que sai em breve pela Rock It!. É Só Vendo Que Beleza, sucesso de Carmen Costa ("que Moreno aprendeu quando era pequeno"), composto por Henricão e Rubens Campos.

Aproveitando o encontro com Roberto Silva, Caetano Veloso reiterou o convite feito pela sua mulher, Paula Lavigne, para que o sambista grave um disco pela Natasha Records. "Voltei aos 80 anos de idade, no auge da carreira", comemorou o veterano sambista, que voltou a fazer shows depois que os quatro volumes de Descendo o Morro foram relançados, em dois CDs. "Devo isso à minha esposa, que mandou uma carta à EMI (detentora dos direitos do catálogo da gravadora Copacabana, que fez o relançamentos)", disse.