Caia na festa dos amigos de Zeca Pagodinho
Sambista convidou 15 de seus compositores favoritos para gravar como intérpretes no CD Quintal do Pagodinho
Mônica Loureiro
31/10/2001
Já virou lenda: Zeca Pagodinho e Xerém são inseperáveis. O sambista declarou várias vezes, se pudesse não saía de seu sítio para nada. Parece que sua vontade foi feita desta vez com o projeto Zeca Apresenta Quintal do Pagodinho. O disco, que reúne 15 compositores que trabalham com o - e são amigos do - sambista, foi lançado oficialmente na última terça em um clube de Xerém. À vontade - de bermuda, sandália, camiseta e a característica toalhinha no ombro - Zeca comandou a festa. No churrasco onde as garrafas de Brahma se multiplicavam, o sambista e compositor recebeu a imprensa, amigos como Nana Caymmi, Anderson (do grupo Molejo), Seu Jorge e os parceiros que, numa animada roda de samba, cantaram as músicas do disco.
Quintal do Pagodinho foi gravado há dois meses em Xerém, na própria casa do sambista. "Desde o ano passado que Zeca vem dizendo que queria gravar na cidade, mas é muito complicado transportar equipamentos, pessoal... Com esse disco foi mais fácil, montamos um grande pagode, com uma equipe de 80 pessoas, e tudo alcançou um ótimo resultado", garante o produtor e arranjador Rildo Hora. Ele conta que a idéia do CD foi do próprio Zeca, que já tem o costume de abrir espaço em seus próprios discos para compositores iniciantes ou em dificuldades. "Ele queria incluir seus amigos em início de carreira num um disco e me convidou para fazer o projeto. Fizemos várias reuniões em Xerém, nas quais o pessoal mostrava as músicas e nós íamos escolhendo. Eu fiz a metade dos arranjos; a outra ficou com Paulão 7 Cordas que, aliás, tem se revelado um grande produtor", destaca ele, que trabalha com Zeca há cinco anos.
Rildo diz que a gravadora Universal vem contribuindo para a divulgação da boa música braisleira ao abrir espaço para este tipo de projeto: "Com isso, conseguimos chamar atenção do capital para a criação musical no país. É o capital, aliado à arte e ao trabalho", conclui.
O papo com os compositores foi acontecendo informalmente, de acordo com a ocasião. Entre nomes conhecidos, como Dunga, Wilson das Neves e Otacílio da Mangueira e outros menos ouvidos, a opinião foi unânime: a oportunidade que Zeca está dando a eles é única. "Muitos cantores poderiam seguir seu exemplo", lembra Leandro Di Menor. Caçula do grupo, Di menor tem 30 anos e conta que compôs Alô, Meu Povo Brasileiro em parceria com Maurinho Cruz para o Festival da Música Brasileira (promovido pela Rede Globo ano passado), mas que não conseguiu se inscrever a tempo. "O Zeca ouviu a música de outra forma, realçando que era uma mensagem de futuro, na qual digo que temos que preservar não só a natureza, mas as crianças, o samba", destaca. Ligado à escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, Di Menor já substituiu Neguinho da Beija-Flor em várias apresentações. "Já conheci todo o Brasil viajando com a escola", orgulha-se.
Autor da 13º faixa do CD, Tempero da Vizinha, Luizinho Toblow faz parte do grupo dos "veteranos". Aos 61 anos, é a primeira vez que grava como intérprete. "Cheguei a gravar um CD, mas não saiu... Com o Zeca tenho um relacionamento musical muito forte. No início eu era só fã, depois nos tornamos amigos", conta. De autoria de Luizinho, Zeca gravou mais recentemente Shopping Móvel (no CD Água da Minha Sede , de 2000) e Despensa Vazia (Zeca Pagodinho, de 1999). O compositor tem livre acesso entre sambistas tradicionais e os pagodeiros, tanto que tem, por exemplo, uma música no disco novo de Martinho da Vila (Além do Mais Eu te Amo, parceria com Noca da Portela) e no do grupo paulista Sensação (Meu Samba é Nobre).
Curioso mesmo é o apelido de Luizinho (na verdade, Aloisio de Souza): "O pessoal resolveu colocar por causa de uma música que a gente falava to blow out the baloon mouth (tradução literal para a expressão "arrebentar a boca do balão")", diverte-se. Ele reforça o coro dos agradecidos ao Zeca dizendo que o sambista é um dos poucos, senão único, que os leva a sua casa e "faz uma comida", para daí tirar o trabalho. "Ele diz que nesse disco tem 15 feras e esquece totalmente sua vaidade. Ele nem se importa se, por um acaso alguém estourar com esse trabalho e passar a ser seu concorrente!", supõe. E se emociona ao dizer que considera Zeca uma pilastra, que se deixa fazer de alicerce para os amigos: "Ajudando a gente dessa forma, ele mata a fome da rapaziada, permite que a crianças tenham o que merendar".
A velha guarda do CD é composta também por Bidubi (Jorge dos Santos) e Wilson das Neves, com 60 e 65 anos, respectivamente. O primeiro diz que Malandro Serrote, em parceria com Luizinho Toblow e Brasil, foi composta especialmente para este CD. "Trabalho com Pagodinho há quase 15 anos e sempre fui fã dele. Estou muito feliz por ter participado deste projeto - uma maravilha dessas na minha vida, depois de já ter passado dos 60 anos", diz, humilde. Wilson, mesmo sendo reconhecido como um dos maiores bateristas do Brasil, reclama da falta de espaço na mídia. "Gravei há dois anos um CD pela CID, O Som Sagrado de Wilson das Neves, mas a coisa no Brasil é muito dirigida, muito levado pela moda. Então fica naquela mesmice, com todos fazendo tudo igual. O jeito é esperar as oportunidades, com a desse CD. Um dia a gente vai ser ouvido", espera. O sambista canta Essa É Pra Quem Bebe, em parceria com Paulo César Pinheiro, e destaca que Quintal do Pagodinho é um trabalho diversificado. "Tem sambista de todo jeito, romântico, partido alto... As músicas foram muito bem selecionadas", elogia.
Dentro dessa variedade de temas, há bastante lugar para o humor, representado, por exemplo, pela composição de Zé Roberto, O Cunhado. "A inspiração vem do papo com um, daquela cerveja com outro... Essa música surgiu quando o Bispo (Adilson, o parceiro) me contou que estava com problemas com o cunhado. Aí eu disse que isso dava samba!", ri. Zé é autor também de A Sogra e Vacilão, sucesso atual na voz de Pagodinho.
Um senso de humor um pouco mais rascante está na faixa Tá na Hora, de Otacílio da Mangueira, em parceria com Carlos Senna. "Conheço Zeca há trinta anos, ele já gravou mais de dez músicas minhas. Para esse disco, ele falou: 'Faz um samba bom que você já está dentro do projeto´. Quando ele ouviu, mandou gravar na hora!", conta Otacílio, que orgulha-se ao contar que tem mais de 200 músicas compostas. De outra escola de samba, chega Maurição, que compôs Partido da Feira. "Já ganhei seis sambas pela Império Serrano. Para esse CD, mostrei três músicas para o Zeca, e ele acabou esconhendo essa, que era só minha. Considero ester disco como uma vitrine, pois podem surgir oportunidades de trabalho solo para a gente", confia Maurição.
Pagodinho não quis dar entrevistas. Sempre de fininho, dava malandramente um jeito de sair de perto de quem carregava um bloquinho de anotações. Mas ainda deu tempo de ouvir ele falar: "Dessa vez eu dei espaço para todo mundo e saí. Eu queria que o pessoal da gravadora ouvisse esse pessoal para sentir a febre que é o samba deles. E a escolha das músicas foi no papo". O produtor Rildo Hora garante que o Quintal do Pagodinho 2 sai em breve. "Seria impossível incluir em 15 faixas todos os parceiros e amigos do Zeca", justifica. Sobre o novo disco de Pagodinho, Rildo "sonega" informações: "O repertório já está quase todo pronto e ele entra em estúdio em novembro para lançar o disco ano que vem. Só posso adiantar que tem uma música muito bonita do Monarco. O nome? Ah, é segredo...", despista.
Quintal do Pagodinho foi gravado há dois meses em Xerém, na própria casa do sambista. "Desde o ano passado que Zeca vem dizendo que queria gravar na cidade, mas é muito complicado transportar equipamentos, pessoal... Com esse disco foi mais fácil, montamos um grande pagode, com uma equipe de 80 pessoas, e tudo alcançou um ótimo resultado", garante o produtor e arranjador Rildo Hora. Ele conta que a idéia do CD foi do próprio Zeca, que já tem o costume de abrir espaço em seus próprios discos para compositores iniciantes ou em dificuldades. "Ele queria incluir seus amigos em início de carreira num um disco e me convidou para fazer o projeto. Fizemos várias reuniões em Xerém, nas quais o pessoal mostrava as músicas e nós íamos escolhendo. Eu fiz a metade dos arranjos; a outra ficou com Paulão 7 Cordas que, aliás, tem se revelado um grande produtor", destaca ele, que trabalha com Zeca há cinco anos.
Rildo diz que a gravadora Universal vem contribuindo para a divulgação da boa música braisleira ao abrir espaço para este tipo de projeto: "Com isso, conseguimos chamar atenção do capital para a criação musical no país. É o capital, aliado à arte e ao trabalho", conclui.
O papo com os compositores foi acontecendo informalmente, de acordo com a ocasião. Entre nomes conhecidos, como Dunga, Wilson das Neves e Otacílio da Mangueira e outros menos ouvidos, a opinião foi unânime: a oportunidade que Zeca está dando a eles é única. "Muitos cantores poderiam seguir seu exemplo", lembra Leandro Di Menor. Caçula do grupo, Di menor tem 30 anos e conta que compôs Alô, Meu Povo Brasileiro em parceria com Maurinho Cruz para o Festival da Música Brasileira (promovido pela Rede Globo ano passado), mas que não conseguiu se inscrever a tempo. "O Zeca ouviu a música de outra forma, realçando que era uma mensagem de futuro, na qual digo que temos que preservar não só a natureza, mas as crianças, o samba", destaca. Ligado à escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, Di Menor já substituiu Neguinho da Beija-Flor em várias apresentações. "Já conheci todo o Brasil viajando com a escola", orgulha-se.
Autor da 13º faixa do CD, Tempero da Vizinha, Luizinho Toblow faz parte do grupo dos "veteranos". Aos 61 anos, é a primeira vez que grava como intérprete. "Cheguei a gravar um CD, mas não saiu... Com o Zeca tenho um relacionamento musical muito forte. No início eu era só fã, depois nos tornamos amigos", conta. De autoria de Luizinho, Zeca gravou mais recentemente Shopping Móvel (no CD Água da Minha Sede , de 2000) e Despensa Vazia (Zeca Pagodinho, de 1999). O compositor tem livre acesso entre sambistas tradicionais e os pagodeiros, tanto que tem, por exemplo, uma música no disco novo de Martinho da Vila (Além do Mais Eu te Amo, parceria com Noca da Portela) e no do grupo paulista Sensação (Meu Samba é Nobre).
Curioso mesmo é o apelido de Luizinho (na verdade, Aloisio de Souza): "O pessoal resolveu colocar por causa de uma música que a gente falava to blow out the baloon mouth (tradução literal para a expressão "arrebentar a boca do balão")", diverte-se. Ele reforça o coro dos agradecidos ao Zeca dizendo que o sambista é um dos poucos, senão único, que os leva a sua casa e "faz uma comida", para daí tirar o trabalho. "Ele diz que nesse disco tem 15 feras e esquece totalmente sua vaidade. Ele nem se importa se, por um acaso alguém estourar com esse trabalho e passar a ser seu concorrente!", supõe. E se emociona ao dizer que considera Zeca uma pilastra, que se deixa fazer de alicerce para os amigos: "Ajudando a gente dessa forma, ele mata a fome da rapaziada, permite que a crianças tenham o que merendar".
A velha guarda do CD é composta também por Bidubi (Jorge dos Santos) e Wilson das Neves, com 60 e 65 anos, respectivamente. O primeiro diz que Malandro Serrote, em parceria com Luizinho Toblow e Brasil, foi composta especialmente para este CD. "Trabalho com Pagodinho há quase 15 anos e sempre fui fã dele. Estou muito feliz por ter participado deste projeto - uma maravilha dessas na minha vida, depois de já ter passado dos 60 anos", diz, humilde. Wilson, mesmo sendo reconhecido como um dos maiores bateristas do Brasil, reclama da falta de espaço na mídia. "Gravei há dois anos um CD pela CID, O Som Sagrado de Wilson das Neves, mas a coisa no Brasil é muito dirigida, muito levado pela moda. Então fica naquela mesmice, com todos fazendo tudo igual. O jeito é esperar as oportunidades, com a desse CD. Um dia a gente vai ser ouvido", espera. O sambista canta Essa É Pra Quem Bebe, em parceria com Paulo César Pinheiro, e destaca que Quintal do Pagodinho é um trabalho diversificado. "Tem sambista de todo jeito, romântico, partido alto... As músicas foram muito bem selecionadas", elogia.
Dentro dessa variedade de temas, há bastante lugar para o humor, representado, por exemplo, pela composição de Zé Roberto, O Cunhado. "A inspiração vem do papo com um, daquela cerveja com outro... Essa música surgiu quando o Bispo (Adilson, o parceiro) me contou que estava com problemas com o cunhado. Aí eu disse que isso dava samba!", ri. Zé é autor também de A Sogra e Vacilão, sucesso atual na voz de Pagodinho.
Um senso de humor um pouco mais rascante está na faixa Tá na Hora, de Otacílio da Mangueira, em parceria com Carlos Senna. "Conheço Zeca há trinta anos, ele já gravou mais de dez músicas minhas. Para esse disco, ele falou: 'Faz um samba bom que você já está dentro do projeto´. Quando ele ouviu, mandou gravar na hora!", conta Otacílio, que orgulha-se ao contar que tem mais de 200 músicas compostas. De outra escola de samba, chega Maurição, que compôs Partido da Feira. "Já ganhei seis sambas pela Império Serrano. Para esse CD, mostrei três músicas para o Zeca, e ele acabou esconhendo essa, que era só minha. Considero ester disco como uma vitrine, pois podem surgir oportunidades de trabalho solo para a gente", confia Maurição.
Pagodinho não quis dar entrevistas. Sempre de fininho, dava malandramente um jeito de sair de perto de quem carregava um bloquinho de anotações. Mas ainda deu tempo de ouvir ele falar: "Dessa vez eu dei espaço para todo mundo e saí. Eu queria que o pessoal da gravadora ouvisse esse pessoal para sentir a febre que é o samba deles. E a escolha das músicas foi no papo". O produtor Rildo Hora garante que o Quintal do Pagodinho 2 sai em breve. "Seria impossível incluir em 15 faixas todos os parceiros e amigos do Zeca", justifica. Sobre o novo disco de Pagodinho, Rildo "sonega" informações: "O repertório já está quase todo pronto e ele entra em estúdio em novembro para lançar o disco ano que vem. Só posso adiantar que tem uma música muito bonita do Monarco. O nome? Ah, é segredo...", despista.