Cajamanga vem surfando lá de Santos

Com a ajuda de Digão, dos Raimundos, grupo lança 47 do Segundo Tempo e ganha os cinemas em filme sobre surfe

Marco Antonio Barbosa
07/01/2002
Digão dá uma força no clipe do Cajamanga(clique para ampliar)
Surfe, reggae, hardcore, metal e diversão. Soa como uma boa receita para o verão 2002, certo? Se você concorda, talvez esteja pronto para assistir à ascenção do Cajamanga, grupo santista que vem lentamente escalando uma onda que - segundo eles mesmos - tem tudo para arrebentar neste escaldante começo de ano. As armas do quinteto são duas. Uma já está nas lojas: o álbum 47 do Segundo Tempo ouvir 30s (Warner), disco de estréia que chega com a benção de Digão (Raimundos) e a produção do cotado Carlo Bartolini. A outra arma é em forma de película 35mm, e deve chegar aos cinemas em breve - o filme Surf Adventures, no qual o grupo faz uma participação especial. Nada mal para quem, há cerca de dois anos, lutava para conquistar um espaço na concorrida cena roqueira de Santos. "Quando toda essa repercussão sobre a gente começou, nós trememos um pouco. Foi tudo muito rápido, mas por sorte nós já tínhamos toda uma escola feita no underground, uma identidade sonora construída", reflete o baterista Vini. Ele e Christopher (vocal), Nando e Wood (guitarras) e Claudão (baixo), afinal, vêm de um golpe de sorte após o outro, tudo culminando na aparição em Surf Adventures.

"É uma produção que vem na tradição dos clássicos filmes de surfe, tipo Endless Summer", conta Vini. Rodado em diversas praias do litoral brasileiro, a fita mostra alguns dos melhores surfistas brasileiros em ação, com direito à música do Cajamanga. "É bom mostrar o surfe brasileiro 'tipo exportação'. Somos um dos melhores países do mundo no esporte", diz o baterista. A fita deve estrear ainda em janeiro nas principais capitais do Brasil. "Para nós foi ótimo participar do filme, assim temos a chance de mostrar nossa música a um público que pode parecer pequeno e segmentado, mas que é muito importante", considera o músico.

A aparição na fita vem a reboque da repercussão que o grupo obteve no Rock in Rio III. O Cajamanga se apresentou na Tenda Brasil do festival, em janeiro do ano passado, como um dos vencedores do concurso Escalada do Rock. "Não esperávamos nada do concurso. Só nos inscrevemos para ter a chance de tocar no Rio pela primeira vez", revela Vini. "Viemos, tocamos não apenas uma, mas quatro vezes, e paramos no Rock in Rio!" Já nesta época, a Warner estava de olho no quinteto santista. "O Sérgio Affonso (presidente da gravadora) entrou em contato conosco e pediu para ver uma agenda de nossos shows. Ficamos nervosos, mas encaramos. Acabamos ganhando a gravadora com o show do Rock in Rio", lembra o baterista.

Pesado, sem ser radical, e pop, sem ser diluído, o som do Cajamanga pode, com efeito, dar uma boa trilha sonora para um dia na praia. "O disco tem uma 'aura' bem rock'n'roll, por causa de todas as guitarras. "Santos sempre teve tradição de bandas pesadas. Nós não fugimos disso. Mas não ficamos só no peso. Somos ecléticos na hora de compor. Ouvimos de nu-metal a Lenine", fala Vini. Tanto que a primeira música de trabalho é Tudo Azul, cover de Lulu Santos - mais pop impossível. Na faixa, Digão, atual vocalista dos Raimundos, dá o ar da graça cantando e tocando guitarra. Ele também participa do videoclipe da música. Mas não é por Tudo Azul que o grupo quer ser lembrado, e sim por petardos como Problema e Cajamanga Style. "Conseguimos um som de garagem no disco. Mas tivemos uma preocupação com os detalhes, as melodias. Nem sempre o som mais pesado é sinônimo de mais agressivo", diz Vini.

A história do Cajamanga pode lembrar a trajetória de outro grupo santista, também pesado e radical, mas de sucesso igualmente metórico: o Charlie Brown Jr. A semelhança não é coincidência. Vini tocou no CBJr. antes do estouro e reconhece no grupo de Chorão o mérito de jogar luz sobre o rock de Santos. "Eles abriram a porta para muita gente, não só para nós. Olhando o Charlie Brown, vimos que era possível nos tornarmos profissionais, evoluir como grupo", fala Vini, lembrando que antes do "empurrão" que foi a Escalada do Rock o Cajamanga passou dois bons anos como "semi-amadores" (segundo o próprio baterista).