Carmen Miranda vive - no palco carioca

Estréia superprodução musical sobre a cantora, que também vai render um CD

Marco Antonio Barbosa
28/06/2001
Seria 2001 o ano de um jubileu heterodoxo para Carmen Miranda? Às homenagens que a cantora brasileira mais famosa no exterior vem recebendo este ano, junta-se o musical South American Way, que estréia amanhã (dia 29) no Teatro Scala, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma superprodução teatral, que gastou um orçamento de cerca de R$ 1,2 milhão para contar a vida da Pequena Notável, e que deve render também um CD (com as canções interpretadas na peça) e uma minissérie para TV.

Dirigido por Miguel Falabella, o musical é a mais vistosa honraria feita a Carmen Miranda este ano, que já viu um outro musical sobre sua vida (estrelado por Marília Pera), além dos recentes shows de Eduardo Dussek e Ney Matogrosso. Dussek dedica todo o espetáculo Adeus Batucada às músicas tornadas famosas por Carmen. Já Ney, em seu show Batuque (que revisita músicas dos anos 30 e 40), pinça várias pérolas do repertório da cantora.

Escrito por Falabella, junto à dramaturga Maria Carmem Barbosa, South American Way lança mão de duas atrizes-cantoras (Stella Miranda e Soraia Ravenle) para interpretar Carmen Miranda. Um recurso interessante foi aplicado pela direção da peça: Carmen conversa com ela mesma. A jovem cantora cheia de sonhos (vivida por Soraia) dialoga com a já consagrada estrela internacional (interpretada por Stella). De uma forma definida por Maria Carmem Barbosa como "não cronológica", a peça recria os principais episódios da carreira singular da Pequena Notável: a imigração de Portugal para o Brasil, a juventude pobre, a ascenção na música e no cinema nacionais nos anos 30, a partida para Hollywood em 1939, o estouro mundial, os problemas pessoais e a morte prematura, aos 46 anos. Se estivesse viva, completaria no último dia 9 de fevereiro 92 anos.

Um elenco de apoio com 15 componentes, todos atores-atores-dançarinos, complementa a performance da dupla. Toda as canções serão interpretadas ao vivo por um sexteto dirigido e arranjado por Josimar Carneiro, violonista do grupo Água Na Moringa. Os principais sucessos de Carmen foram incluídos no repertório: Taí ouvir 30s, Adeus Batucada, O Que É Que A Baiana Tem?, Tico-tico No Fubá, Disseram Que Eu Voltei Americanizada e, claro, a música-título.

"A seleção das músicas e o cuidado com os arranjos foram preocupações fundamentais para a concepção da peça", explica a produtora Cinthia Graber, verdadeira "eminência parda" do projeto. Ela levantou a verba para o musical junto à Petrobras e adquiriu os direitos sobre a imagem de Carmen. "Daí é que eu pude, junto ao meu sócio José Carlos Furtado, estender mais ainda o projeto, abrindo a possibilidade de lançarmos a trilha sonora em CD e, mais tarde, transformar a peça em uma minissérie. Estou muito confiante em nossa iniciativa de mostrar para as novas gerações como Carmen Miranda virou a mais importante intérprete da música brasileira do século XX. É certamente o primeiro grande espetáculo feito sobre ela."

Retratados no musical também estão figuras marcantes na trajetória de Carmen, como os cantores do Bando da Lua (grupo vocal que a acompanhou no auge de seu sucesso em Hollywood) e o compositor Synval Silva, autor de sucessos gravados por Carmen como Alvorada ouvir 30se Ao Voltar do Samba ouvir 30s. Cinthia Graber ainda chama a atenção para uma intérprete em particular: "Quem faz a mãe de Carmen é a Ryta de Cássia, uma cantora excepcional. Ela está em seu primeiro personagem depois de ficar anos rodando o circuito alternativo." Ryta é vocalista do grupo carioca Arranco de Varsóvia, e também desenvolve uma carreira-solo, sempre resgatando a tradição do samba. Os mais atentos também reconhecerão no ator Luiz Carlos Avellar o outrora Avellar Love, um dos vocalistas do grupo João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, sucesso nos anos 80.

O CD, que ainda não tem data certa para chegar às lojas, vai incluir todas as canções mostradas no musical, nas vozes alternadas de Soraia e Stella, com o acompanhamento do mesmo grupo que tocará no palco. Com a direção de Josimar Carneiro (veterano em trilhas sonoras de musicais, como Somos Irmãs, sobre a vida das irmãs Batista, e Crioula, sobre Elza Soares), South American Way seria um privilegiado songbook da carreira de Carmen. "É importante ver o CD como parte integrante do projeto de homenagem a Carmen. Muita gente se lembra dos balangandãs e dos filmes que ela fez em Hollywood, mas se esquece do lado musical dela", lembra a produtora.