Celso Viáfora e os sambistas do futuro

Compositor lança o álbum Basta um Tambor Bater com show na favela de Paraisópolis, em São Paulo

Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
14/09/2001
Para quê tirar o samba de seu berço - a periferia? Deixa ele lá mesmo! Parece ter sido este o pensamento que guiou o cantor e compositor Celso Viáfora na hora de decidir onde fazer a festa de lançamento do álbum Basta um Tambor Bater ouvir 30s (Jam Music). O parceiro de Ivan Lins, que caiu de vez no samba no novo trabalho, resolveu lançar o álbum em plena favela de Paraisópolis, em São Paulo. Mais despojado e próximo do universo sambístico, impossível: o show será no campinho de terra do time Palmeirinha Paraisópolis, amanhã (dia 15). A escolha do local do show se deve à participação dos percussionistas do projeto Barracão dos Sonhos, radicado em Paraisópolis: uma turma de batuqueiros- mirins que aparece no álbum na faixa Papai Noel de Camiseta, que encerra o CD.

"Conheci o projeto através do Dinho Rodrigues, o maluco que organizou a coisa toda", contou Celso a Cliquemusic. O Barracão dos Sonhos é fruto do esforço de Dinho, que idealizou um time de percussionistas formado exclusivamente pelos jovens da comunidade carente. O objetivo era - num paralelo com projetos como o Afrorreggae, no Rio, ou a Timbalada, em Salvador - usar a música para dar novas perspectivas de vida às crianças. "Fiz uma visita ao Barracão no ano passado e fiquei impressionado. A música foi o fator que uniu o grupo, mas hoje eles promovem agitação cultural, abrigam meninos de rua e já até inauguraram um posto médico na favela", lembra Viáfora.

Além do show deste sábado, Celso pretende levar os garotos de Paraisópolis para outras apresentações da nova turnê. "Vamos fazer pelo menos outros três shows aqui no interior de São Paulo antes do lançamento 'oficial' do disco, que vai ser no Tom Brasil (tradicional casa de shows de SP), daqui a um mês. É a minha forma de contribuir com o projeto. Estamos abrindo o universo dessas criançãs e mostrando que existem outras saídas para eles, fora do crime e da violência", afirma Celso.

A aproximação entre Celso e os garotos do Barracão se deu quando o compositor resolveu incluir Papai Noel de Camiseta em Basta um Tambor Bater, seu quinto disco autoral. A música já havia sido gravada por Ivan Lins no disco Um Novo Tempo, em 1999. "Este é o primeiro álbum em que eu me dedico inteiramente ao samba. Quando fui fazer o 'balaio' de músicas para serem gravadas, tinha outros gêneros como baladas e forrós, mas o universo do samba era muito maior, mais presente na minha produção atual. Não nasci em berço de sambista nem vivo em rodas de choro, mas tenho minha criatividade livre para absorver essas influências", fala Viáfora.

"Eu tinha vários músicos extraordinários me acompanhando na gravação, gente muito boa. Mas percebi que Papai Noel falava justamente daqueles meninos." Versos como "E surgirão blocos mirins/ De suas camas de jornal" e "E a multidão vai sambar com a batida dos sinos/ Ali no morro nascerá mais um menino" fizeram com que Celso percebesse que, sem querer, estava falando dos jovens percussionistas do Barracão. "Eles eram os próprios personagens da canção. Fiquei impressionado ao conhecê-los."

"Fizemos uma pré-seleção dos melhores garotos que tocam no Barracão e escolhemos 11 deles para participar do disco. Levamos a meninada para o Rio, eles gravaram e ficou tudo muito bom", conta Celso. Os jovens percussionistas se encaixaram bem no esquema dos arranjos (conduzidos por Rildo Hora) e no palco vão participar de todas as músicas do repertório novo, junto ao baixista Sizão Machado, o pianista Fábio Torres, o violonista e cavaquinista Rodrigo de Campos, o baterista Edu Ribeiro e os percussionistas Da Lua e Théo da Cuíca.