Centenário de Clementina de Jesus já começou
Show, livro e monumento na cidade natal da cantora comemoram seus 100 anos, completados em fevereiro do ano que vem
Marco Antonio Barbosa
14/11/2001
No dia 7 de fevereiro do ano que vem, Clementina de Jesus completaria seu centenário de nascimento. Verdadeira "entidade" da música brasileira, com carreira tão acidentada quanto espantosa, a negra de voz possante começa a ganhar desde já as primeiras reverências - em forma de show, livro e monumento público, tudo de uma só vez. Os cariocas podem apreciar até o dia 23 deste mês o espetáculo Clementina, Cadê Você?, que promove um inédito encontro entre cantoras para celebrar a trajetória da intérprete. Não por acaso, também no Rio, hoje (dia 14), o volume Rainha Quelé - Clementina de Jesus, assinado por Lena Frias, Hermínio Bello de Carvalho e Nei Lopes, ganha cerimônia de pré-lançamento no Museu da Imagem e do Som. Já a cidade de Valença (interior do Estado do Rio) decidiu fazer de sua praça central um templo para Clementina - inaugurando, no próximo dia 24, um busto da cantora. Prenúncio de um 2002 repleto de comemorações em honra da intérprete, falecida em 1987.
Hermínio Bello de Carvalho assume papel destacado na trinca de homenagens. O jornalista e pesquisador foi quem descobriu o extraordinário dom de Clementina, escalando-a em 1965 para o show Rosa de Ouro (junto a Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Aracy Cortes e Nescarzinho do Salgueiro). Era a estréia profissional da cantora, aos 63 anos de idade. "Nunca é demais homenagear Clementina", afirma Hermínio. "Ela é a nossa ponte com todos os códigos vindos da África, tão presentes em nossa música, mas que ainda não sabemos decifrar direito. Comemorar o centenário dela é uma alegria especial para mim, que passei minha vida inteira tentando fazer com que o Brasil valorize artistas como ela."
Clementina, Cadê Você? junta no mesmo palco (em vários endereços do Sesc na cidade do Rio de Janeiro) as cantoras Dona Ivone Lara, Sandra de Sá, Paula Lima e Martinália. O quarteto dá vida a algumas das mais famosas canções do repertório de Quelé - e Dona Ivone interpreta a própria Clementina. O espetáculo é dividido em três atos: "Rosa de Ouro", "A Voz do Morro" e "Quelé, a Brasileira". Dona Ivone abre o show entoando as músicas do show Rosa de Ouro. Seguem-se Paula Lima e Martinália (com sambas de Cartola, Carlos Cachaça e Pixinguinha) e o fechamento fica com Sandra, que dá uma geral na carreira de Clementina (incluindo músicas de Dorival Caymmi, Paulinho da Viola e João Bosco). A próxima apresentação deste escrete afinado será dia 23, no Sesc Tijuca; hoje, as moças cantam no Sesc Ramos.
O mesmo Hermínio que agitou Clementina, Cadê Você? foi o responsável pela edição de Rainha Quelé - Clementina de Jesus. Bancado pela Secretaria de Cultura da cidade de Valença, o livro vem acompanhado de um CD gravado por Clementina para o Museu da Imagem e do Som, em 1979, produzido por Fernando Faro. "Sugeri que o projeto compreendesse um livro e um disco, já que há muito pouco material disponível dela (Clementina) em CD. Na verdade o que há basicamente é um CD da coleção Raízes do Samba, da EMI-Odeon, uma coletânea que sinceramente fica aquém de seu talento", fala Hermínio.
As 95 páginas do livro trazem uma compilação de textos de Hermínio, a jornalista Lena Frias e o compositor e pesquisador Nei Lopes. "Começamos pelo material que reunimos para a caixa que a BR Distribuidora lançou (um box de nove CDs de Clementina, lançamento apenas promocional feito no começo deste ano). Entraram então depoimentos colhidos para a biografia dela lançada pela Funarte nos anos 80, para completar", conta Hermínio, que fez a seleção do material escrito. Além dos textos já conhecidos - com opiniões emitidas por gente como Maria Bethânia e Chico Buarque - o livro traz uma discografia completa de Clementina, pesquisada por Paulo César Andrade, e muitas fotos históricas da cantora. Aproveitando o embalo, o MIS inaugura também uma exposição de caricaturas de Clementina. "O lançamento oficial será nos dias 23 e 24 deste mês - quando haverá um encontro de jongueiros do Rio e de São Paulo", narra Hermínio. Livro e CD não estarão à venda; vão ser distribuídos apenas para escolas e bibliotecas.
Cidade onde a cantora nasceu em 1901, sob o nome de Clementina de Jesus da Silva, Valença bancou também um busto para sua filha dileta. O monumento foi erguido em frente à Igreja de Nossa Senhora da Glória, a principal da cidade, dedicada à santa de devoção de Clementina. A prefeitura de Valença (com apoio financeiro do Finep) pretende ainda reformar a casa em que a cantora nasceu - que ainda está de pé, intocada - e transformá-la em um centro cultural homenageando Quelé.
Hermínio Bello de Carvalho assume papel destacado na trinca de homenagens. O jornalista e pesquisador foi quem descobriu o extraordinário dom de Clementina, escalando-a em 1965 para o show Rosa de Ouro (junto a Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Aracy Cortes e Nescarzinho do Salgueiro). Era a estréia profissional da cantora, aos 63 anos de idade. "Nunca é demais homenagear Clementina", afirma Hermínio. "Ela é a nossa ponte com todos os códigos vindos da África, tão presentes em nossa música, mas que ainda não sabemos decifrar direito. Comemorar o centenário dela é uma alegria especial para mim, que passei minha vida inteira tentando fazer com que o Brasil valorize artistas como ela."
Clementina, Cadê Você? junta no mesmo palco (em vários endereços do Sesc na cidade do Rio de Janeiro) as cantoras Dona Ivone Lara, Sandra de Sá, Paula Lima e Martinália. O quarteto dá vida a algumas das mais famosas canções do repertório de Quelé - e Dona Ivone interpreta a própria Clementina. O espetáculo é dividido em três atos: "Rosa de Ouro", "A Voz do Morro" e "Quelé, a Brasileira". Dona Ivone abre o show entoando as músicas do show Rosa de Ouro. Seguem-se Paula Lima e Martinália (com sambas de Cartola, Carlos Cachaça e Pixinguinha) e o fechamento fica com Sandra, que dá uma geral na carreira de Clementina (incluindo músicas de Dorival Caymmi, Paulinho da Viola e João Bosco). A próxima apresentação deste escrete afinado será dia 23, no Sesc Tijuca; hoje, as moças cantam no Sesc Ramos.
O mesmo Hermínio que agitou Clementina, Cadê Você? foi o responsável pela edição de Rainha Quelé - Clementina de Jesus. Bancado pela Secretaria de Cultura da cidade de Valença, o livro vem acompanhado de um CD gravado por Clementina para o Museu da Imagem e do Som, em 1979, produzido por Fernando Faro. "Sugeri que o projeto compreendesse um livro e um disco, já que há muito pouco material disponível dela (Clementina) em CD. Na verdade o que há basicamente é um CD da coleção Raízes do Samba, da EMI-Odeon, uma coletânea que sinceramente fica aquém de seu talento", fala Hermínio.
As 95 páginas do livro trazem uma compilação de textos de Hermínio, a jornalista Lena Frias e o compositor e pesquisador Nei Lopes. "Começamos pelo material que reunimos para a caixa que a BR Distribuidora lançou (um box de nove CDs de Clementina, lançamento apenas promocional feito no começo deste ano). Entraram então depoimentos colhidos para a biografia dela lançada pela Funarte nos anos 80, para completar", conta Hermínio, que fez a seleção do material escrito. Além dos textos já conhecidos - com opiniões emitidas por gente como Maria Bethânia e Chico Buarque - o livro traz uma discografia completa de Clementina, pesquisada por Paulo César Andrade, e muitas fotos históricas da cantora. Aproveitando o embalo, o MIS inaugura também uma exposição de caricaturas de Clementina. "O lançamento oficial será nos dias 23 e 24 deste mês - quando haverá um encontro de jongueiros do Rio e de São Paulo", narra Hermínio. Livro e CD não estarão à venda; vão ser distribuídos apenas para escolas e bibliotecas.
Cidade onde a cantora nasceu em 1901, sob o nome de Clementina de Jesus da Silva, Valença bancou também um busto para sua filha dileta. O monumento foi erguido em frente à Igreja de Nossa Senhora da Glória, a principal da cidade, dedicada à santa de devoção de Clementina. A prefeitura de Valença (com apoio financeiro do Finep) pretende ainda reformar a casa em que a cantora nasceu - que ainda está de pé, intocada - e transformá-la em um centro cultural homenageando Quelé.