Chico César esquenta debate sobre Tropicália
'Precisamos nos libertar dos tropicalistas', diz o músico, em defesa dos artistas da sua geração
Carlos Calado
09/05/2000
New Orleans – A Tropicália – explosivo movimento cultural que mudou o estado de coisas na música popular brasileira ao final dos anos 60 – foi tema de debate durante o New Orleans Jazz & Heritage Festival, que aconteceu no último dia 6, na cidade mais famosa do estado norte-americano de Louisiana. O evento fez parte de uma série de conferências e shows de artistas brasileiros promovidos pelo festival, em homenagem aos 500 anos do Brasil. Integrante da mesa de debatedores, que também incluía o agitador cultural Adê Salgado e os professores Christopher Dunn e Greg Osborne, o cantor e compositor Chico César acabou polarizando as atenções, ao fazer comentários bastante incisivos dirigidos a Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros integrantes do movimento tropicalista.
O debate foi introduzido por Christopher Dunn, professor-doutor da Tulane University, que atualmente prepara a edição do livro Brutality Garden: Tropicalia and the Emergence of a Brazilian Counterculture. Baseado em sua tese de doutoramento, o livro está previsto para sair no próximo ano, pela University of North Carolina Press. Dunn iniciou sua apresentação justamente nomeando Chico César como um exemplo marcante de artista brasileiro da nova geração influenciado pelo movimento dos anos 60. "Como os tropicalistas, Chico sabe negociar muito bem o global com o regional em sua música", disse o professor, que ressaltou também o caráter essencialmente crítico do movimento tropicalista, surgido justamente numa época em que o país atravessava um período de ausência de liberdades democráticas, com o Estado comandado pelos militares.
Chico César abriu sua intervenção dizendo que o Tropicalismo foi responsável pela criação de uma linguagem pop, que até então não existia no Brasil. "A Tropicália nos libertou da sensação de ser uma nação rural, produzindo uma música rural, quando não a importava da Argentina, da França ou dos Estados Unidos", disse. Na opinião de Chico César, três décadas depois, o movimento perdeu seu impacto. "Hoje, Caetano Veloso é um popstar. Gilberto Gil é apenas um grande artista. E Gal Costa virou uma senhora que se dedica a cantar bossa nova. Para os artistas mais novos, os tropicalistas viraram obstáculos para que uma nova geração surgisse ainda nos anos 80. Eles projetam uma sombra que chega a ser constrangedora hoje", alfinetou o paraibano.
Parte do sistema
O cantor e compositor Tom Zé, que é considerado o mais radical dos tropicalistas, também não ficou ileso às farpas críticas de César. "Até Tom Zé, que viveu durante anos no semi-anonimato, virou darling da mídia brasileira depois de receber a bênção de David Byrne. O Tropicalismo já virou stablishment, virou parte do sistema", afirmou César, sob o olhar surpreso de Christopher Dunn, que não escondeu sua desaprovação. Seguindo sua intervenção, Chico César disse que "hoje, no Brasil, há uma cena musical que, apesar de ter elementos do Tropicalismo, bate de frente com ele".
Além de mencionar os rappers da periferia de São Paulo e o movimento do mangue-beat de Recife, como exemplos, Chico também citou a geração de artistas da qual faz parte, que inclui ainda Lenine, Marcos Suzano, Zeca Baleiro e Paulinho Moska. "Os tropicalistas nos ensinaram a criar com liberdade, mas já ficou bem claro que também precisamos nos libertar dos tropicalistas", afirmou César, dizendo ainda que não aceita o rótulo de "neo-tropicalista", utilizado por alguns críticos, para sua geração. "Chamá-la dessa forma implica em reduzir a complexidade do trabalho musical dessa nova geração."
O debate foi introduzido por Christopher Dunn, professor-doutor da Tulane University, que atualmente prepara a edição do livro Brutality Garden: Tropicalia and the Emergence of a Brazilian Counterculture. Baseado em sua tese de doutoramento, o livro está previsto para sair no próximo ano, pela University of North Carolina Press. Dunn iniciou sua apresentação justamente nomeando Chico César como um exemplo marcante de artista brasileiro da nova geração influenciado pelo movimento dos anos 60. "Como os tropicalistas, Chico sabe negociar muito bem o global com o regional em sua música", disse o professor, que ressaltou também o caráter essencialmente crítico do movimento tropicalista, surgido justamente numa época em que o país atravessava um período de ausência de liberdades democráticas, com o Estado comandado pelos militares.
Chico César abriu sua intervenção dizendo que o Tropicalismo foi responsável pela criação de uma linguagem pop, que até então não existia no Brasil. "A Tropicália nos libertou da sensação de ser uma nação rural, produzindo uma música rural, quando não a importava da Argentina, da França ou dos Estados Unidos", disse. Na opinião de Chico César, três décadas depois, o movimento perdeu seu impacto. "Hoje, Caetano Veloso é um popstar. Gilberto Gil é apenas um grande artista. E Gal Costa virou uma senhora que se dedica a cantar bossa nova. Para os artistas mais novos, os tropicalistas viraram obstáculos para que uma nova geração surgisse ainda nos anos 80. Eles projetam uma sombra que chega a ser constrangedora hoje", alfinetou o paraibano.
Parte do sistema
O cantor e compositor Tom Zé, que é considerado o mais radical dos tropicalistas, também não ficou ileso às farpas críticas de César. "Até Tom Zé, que viveu durante anos no semi-anonimato, virou darling da mídia brasileira depois de receber a bênção de David Byrne. O Tropicalismo já virou stablishment, virou parte do sistema", afirmou César, sob o olhar surpreso de Christopher Dunn, que não escondeu sua desaprovação. Seguindo sua intervenção, Chico César disse que "hoje, no Brasil, há uma cena musical que, apesar de ter elementos do Tropicalismo, bate de frente com ele".
Além de mencionar os rappers da periferia de São Paulo e o movimento do mangue-beat de Recife, como exemplos, Chico também citou a geração de artistas da qual faz parte, que inclui ainda Lenine, Marcos Suzano, Zeca Baleiro e Paulinho Moska. "Os tropicalistas nos ensinaram a criar com liberdade, mas já ficou bem claro que também precisamos nos libertar dos tropicalistas", afirmou César, dizendo ainda que não aceita o rótulo de "neo-tropicalista", utilizado por alguns críticos, para sua geração. "Chamá-la dessa forma implica em reduzir a complexidade do trabalho musical dessa nova geração."