Chico César pede respeito com delicadeza

Cantor paraibano lança seu quinto disco solo, repleto de novas parcerias e com canja de Chico Buarque

Mônica Loureiro
27/06/2002
"A maior dificuldade do mundo para o ser humano é assumir sua complexidade. Daí a dificuldade das pessoas em aceitar quem é diferente". Chico César resume assim a proposta de seu novo disco, Respeitem Meus Cabelos, Brancos ouvir 30s, lançado pela Abril Music. O título do CD, que a princípio pode sugerir algo revoltado, é muito mais um posicionamento pessoal de Chico do que uma bandeira antiracista. "Parti de uma constatação minha; por causa de meu cabelo, já escutei muitas coisas, engraçadas ou não", diz.

O cantor e compositor já foi chamado de cebolinha, abacaxi, beterraba e até Formiga Atômica. "Nada disso me tornou belicoso, e sim me fez pensar em todo o resto. As pessoas estranham quando os negros decidem tomar uma posição diferente. Já está na hora de deixarem a gente participar do destino do País", sustenta. Ainda assim, Chico afirma que não fez do disco Respeitem Meus Cabelos, Brancos uma tese sociológica: "Tem muito jogo de humor, presente também em Mama África 30'' excerpts e Dá Licença 30'' excerpts". Dentro do novo disco, essa faixa é a que soa diferente - as demais são um mergulho de cabeça nas canções.

"Sempre fiz canções. Meu primeiro disco é bastante suave, o anterior, acho bem delicadinho. Neste, acredito ter encontrado o equilíbrio entre o ser que interage no ambiente em que vive e o sentimental - é totalmente intimista", diz. E justifica ainda mais o tom romântico: "Nossa época é de robotização, as pessoas tendem a achar que o amor é careta, coisa do passado. E se esquecem que até as crianças clonadas vão sentir amor".

Tour de gravações
Para fazer Respeitem Meus Cabelos, Brancos, Chico César realizou gravações em diversos locais e contou com participações especiais. A começar pelo produtor suíço-inglês Will Mowatt, que conheceu em Londres. "Quando fiz alguns shows na Inglaterra, ele foi ao camarim e, mesmo com a dificuldade de comunicação - não falo inglês nem francês - rolou uma empatia imediata. Em uma segunda vez, fui fazer um show com Daniela Mercury (ele já havia produzido um disco dela), nos encontramos novamente e aí a afinidade cresceu", conta Chico.

O músico diz que a própria gravadora estranhou quando ele sugeriu o nome de Will para produzir o disco. "Eu falei que ele era a pessoa certa para ajustar as coisas que penso agora. Ele tem um método próprio, fica fechado no estúdio, esmiuçando tudo. Estou contente com o resultado", garante.

Com as canções escolhidas, o CD passou por uma pré-produção em Londres e depois recebeu os convidados. "Aproveitei o Carnaval em João Pessoa para gravar com a Metalúrgica Filipéia (metais em Sem Ganzá Não É Coco). Na Quarta de Cinzas, em Recife, gravamos com o Naná Vasconcelos (percussão em Sem Ganzá Não É Coco). Na Bahia, pegamos o Carlinhos Brown (arranjo de percussão em Experiência) e no Rio, o Chico Buarque (Antinome). É muito legal ir ao próprio ambiente do artista, porque o resultado é como se fosse uma Polaroid, sai fresquinho...", compara.

Parcerias e convidados
Das 12 faixas de Respeitem Meus Cabelos, Brancos, sete Chico divide com parceiros. Teofania é dele com o poeta e compositor Bráulio Tavares. "Eu passei dois meses nos Estados Unidos e compus Sem Ganzá Não É Coco, Céu Negro e a melodia de Teofania. Aí pensei: acho que essa é para Bráulio. Mandei, ele me devolveu uma semana depois com a letra quase completa. Escrevi um pedacinho de nada e ele terminou", detalha.

Já com Carlos Rennó, o músico divide três: "Experiência é a mais antiga, ele me deu o poema há cinco anos e nossa idéia era que alguma cantora gravasse. Antes que Amanheça ele me passou a letra primeiro; Quando Fecho os Olhos eu fiz a melodia e dei para ele", detalha. A paulista Vanessa Bumagny assina Pétala por Pétala - "É a minha preferida", elogia Chico, dizendo que a dupla compôs também Borboleta de Papel, que está no disco que a cantora lança em breve.

Chico César tem a presença de Nina Miranda (brasileira fixada em Londres) em Experiência e de Chico Buarque em "Antinome. "Essa letra é uma homenagem a Deus e a Chico também. Tem referências à Cálice e a outras coisas dele, como seus musicais com Edu Lobo. Acho que mais artistas deveriam se contaminar com os resíduos de Chico", opina. Ele confessa que nunca havia pensado em Chico como seu intérprete. "Eu achava que seria muita presunção de minha parte... Ele acabou aceitando prontamente, o que me deu uma felicidade muito grande", diz.