Chorinho com qualidade para exportação
Rildo Hora rege time de estrelas no CD Café Brasil, com releituras de clássicos do choro para o mercado exterior
Mônica Loureiro
27/08/2001
Um disco de chorinho que reúna grandes composições e nomes importantes da
música nacional para interpretá-las. Simples assim. Parece brincadeira, mas apesar de ser um autêntico gênero nativo, um "produto similar" no Brasil é raro. E é por isso que Café Brasil (Teldec/Warner), um CD com 16 belos chorinhos, pode ser considerado um produto de exportação. A primeira peculiaridade do projeto: o álbum foi encomendado pela gravadora alemã Teldec. Segundo: está sendo lançado no Brasil enquanto já circula pelas prateleiras da Europa, Japão e Estados Unidos.
"Dirk Lange, o dono da Teldec, entrou em contato com a Warner e falou que gostaria de fazer um disco de chorinho e aproveitou também para pedir uma sugestão de produtor", conta Rildo Hora, que foi o indicado para produzir o CD. "Eu achei engraçado quando o Sergio Affonso (presidente da Warner Music Brasil) pediu meu currículo para mandar para a Alemanha. Em tantos anos de profissão, nunca tinha sido necessário... Acabei encontrando o Dirk na França, em 99, e acertamos tudo", detalha. Além das faixas produzidas por Rildo, o CD traz cinco músicas recolhidas de um disco do conjunto Época de Ouro que jazia "esquecido" no estúdio Cia. dos Técnicos.
Time de convidados no capricho
O projeto foi sendo tocado de acordo com algumas preferências do alemão, mas nem todas puderam ser concretizadas: "Ele queria a participação de Chico Buarque, Caetano, Gil, o que não foi possível". O CD acabou reunindo Marisa Monte, Paulinho da Viola, Leila Pinheiro, Ademilde Fonseca, João Bosco e Martinho da Vila. O tradicional Conjunto Época de Ouro é o mais presente no disco, que também traz no time de músicos Sivuca, Maria Teresa Madeira, João Lira, Pedro Amorim, Paulo Sérgio Santos, Altamiro Carrilho, Carlos Malta, Joel do Nascimento, Henrique Cazes e Cristóvão Bastos.
O repertório do Café Brasil mescla compositores pioneiros do choro e contemporâneos. "O choro nasceu oficialmente em 1902 e durante as décadas de 20 a 40, rapidamente desenvolveu-se numa forma de música instrumental cheia de improvisações e virtuosismo", explica Rildo. Dos grandes nomes dessa época, o CD apresenta Ernesto Nazareth (Brejeiro), Pixinguinha/Benedito Lacerda (1 X 0), Pattápio Silva (Meu Primeiro Amor), Chiquinha Gonzaga (Bionne), Jacob do Bandolim (Noites Cariocas, Treme-treme e Jamais, com Luis Bittencourt) e Irineu de Almeida (Mariana).
"Eu confesso que para mim foi surpreendente ouvir essa composição de Irineu de Almeida. Eu não o conhecia e acabei descobrindo que ele foi mentor musical de Pixinguinha", conta Rildo.
Os autores mais "jovens" comparecem com Onde Andarás (Caetano Veloso/Ferreira Gullar), Choro Chorão (Martinho da Vila), Títulos de Nobreza (João Bosco/Aldir Blanc) e Sarau para Radamés (Paulinho da Viola). O trabalho ainda traz a inevitável Brasileirinho, de Waldir Azevedo, André de Sapato Novo, de André Victor Correia, Pastora dos Olhos Castanhos, de Horondino Silva/Alberto Ribeiro e Galo Garnizé, de Miguel Lima/Luiz Gonzaga/Antonio Almeida. "Eu produzi 11 das 16 músicas. Ainda teria Falando de Amor, de Tom Jobim, com Gilberto Gil cantando. Mas ele estava envolvido com o Perc Pan, da Bahia, e não conseguiu conciliar os horários", diz Rildo.
Um projeto paralisado
Durante o processo de gravação e mixagem, Rildo descobriu no estúdio Cia. dos Técnicos um disco do Época de Ouro parado por falta de verbas. "O disco estava pronto há quatro anos, faltando apenas a mixagem e outros aparos. Foi uma grande coincidência, pois era um projeto com convidados", revela. O produtor diz que tratou de fazer a aproximação da Warner com o conjunto para então sugerir o trabalho para a Teldec. A idéia foi aceita e, além da "transferência" de cinco faixas - Onde Andarás, com vocal de Marisa Monte, Pastora dos Olhos Castanhos, com Paulinho da Viola, Jamais, com Leila Pinheiro, Títulos de Nobreza, com João Bosco e Mariana, com o próprio Época de Ouro -, o Conjunto vai ganhar, em breve, o lançamento de seu CD. "Embora eu não tenha feito as faixas do Época, o trabalho ficou com muita unidade", opina Rildo. Por conta das negociações para a liberação das faixas do disco do Época de Ouro, o Café Brasil acabou saindo um pouco atrasado - o trabalho foi gravado e mixado em março de 2000. O tempo serviu então para caprichar também na produção gráfica do projeto, que traz um libreto com fotos, letras e textos explicativos. "O pessoal da Teldec me pediu para escrever sobre as músicas. Eles gostaram tanto que o material que era, a princípio, um informativo para a imprensa, acabou integrando o disco. Colhi informações biográficas, analisei cada música e não deixei passar nenhum detalhe!", conta Rildo.
Arranjos mais do que plurais
Rildo conta que, ao iniciar a produção de Café Brasil, dividiu o trabalho em núcleos e "nomeou" músicos para fazer os arranjos. "Um ficou com o Maurício Carrilho, outro com o Cristóvão Bastos - que acabou tocando piano em várias faixas...", exemplifica. A estratégia deu características plurais ao disco: "Toda vez que uma música é regravada, sempre muda algo. Sempre há diferenças harmônicas, de interpretação".
Ainda assim, o produtor ressalta que tudo ficou completamente integrado ao movimento do choro, "mesmo com a elaboração de Maurício Carrilho para André de Sapato Novo e Galo Garnizé, as alterações de Henrique Cazes em Brasileirinho e o solo diferente - mantendo a mesma harmonia - de Ronaldo do Bandolim em Treme-treme". Rildo Hora espera que o Café Brasil abra mais espaço no mercado fonográfico nacional para o chorinho. "Eu já trabalhei com muitos nomes do choro e hoje sinto falta de produzir trabalhos de música instrumental. Tenho feito participações em discos independentes, como os do Nó em Pingo D'Água e do Gilson Peranzetta. A situação atual é justamente essa: apenas as gravadoras independentes estão lançando discos nessa área, enquanto as grandes só se voltam para a música da 'moda", lamenta.
"Dirk Lange, o dono da Teldec, entrou em contato com a Warner e falou que gostaria de fazer um disco de chorinho e aproveitou também para pedir uma sugestão de produtor", conta Rildo Hora, que foi o indicado para produzir o CD. "Eu achei engraçado quando o Sergio Affonso (presidente da Warner Music Brasil) pediu meu currículo para mandar para a Alemanha. Em tantos anos de profissão, nunca tinha sido necessário... Acabei encontrando o Dirk na França, em 99, e acertamos tudo", detalha. Além das faixas produzidas por Rildo, o CD traz cinco músicas recolhidas de um disco do conjunto Época de Ouro que jazia "esquecido" no estúdio Cia. dos Técnicos.
Time de convidados no capricho
O projeto foi sendo tocado de acordo com algumas preferências do alemão, mas nem todas puderam ser concretizadas: "Ele queria a participação de Chico Buarque, Caetano, Gil, o que não foi possível". O CD acabou reunindo Marisa Monte, Paulinho da Viola, Leila Pinheiro, Ademilde Fonseca, João Bosco e Martinho da Vila. O tradicional Conjunto Época de Ouro é o mais presente no disco, que também traz no time de músicos Sivuca, Maria Teresa Madeira, João Lira, Pedro Amorim, Paulo Sérgio Santos, Altamiro Carrilho, Carlos Malta, Joel do Nascimento, Henrique Cazes e Cristóvão Bastos.
O repertório do Café Brasil mescla compositores pioneiros do choro e contemporâneos. "O choro nasceu oficialmente em 1902 e durante as décadas de 20 a 40, rapidamente desenvolveu-se numa forma de música instrumental cheia de improvisações e virtuosismo", explica Rildo. Dos grandes nomes dessa época, o CD apresenta Ernesto Nazareth (Brejeiro), Pixinguinha/Benedito Lacerda (1 X 0), Pattápio Silva (Meu Primeiro Amor), Chiquinha Gonzaga (Bionne), Jacob do Bandolim (Noites Cariocas, Treme-treme e Jamais, com Luis Bittencourt) e Irineu de Almeida (Mariana).
"Eu confesso que para mim foi surpreendente ouvir essa composição de Irineu de Almeida. Eu não o conhecia e acabei descobrindo que ele foi mentor musical de Pixinguinha", conta Rildo.
Os autores mais "jovens" comparecem com Onde Andarás (Caetano Veloso/Ferreira Gullar), Choro Chorão (Martinho da Vila), Títulos de Nobreza (João Bosco/Aldir Blanc) e Sarau para Radamés (Paulinho da Viola). O trabalho ainda traz a inevitável Brasileirinho, de Waldir Azevedo, André de Sapato Novo, de André Victor Correia, Pastora dos Olhos Castanhos, de Horondino Silva/Alberto Ribeiro e Galo Garnizé, de Miguel Lima/Luiz Gonzaga/Antonio Almeida. "Eu produzi 11 das 16 músicas. Ainda teria Falando de Amor, de Tom Jobim, com Gilberto Gil cantando. Mas ele estava envolvido com o Perc Pan, da Bahia, e não conseguiu conciliar os horários", diz Rildo.
Um projeto paralisado
Durante o processo de gravação e mixagem, Rildo descobriu no estúdio Cia. dos Técnicos um disco do Época de Ouro parado por falta de verbas. "O disco estava pronto há quatro anos, faltando apenas a mixagem e outros aparos. Foi uma grande coincidência, pois era um projeto com convidados", revela. O produtor diz que tratou de fazer a aproximação da Warner com o conjunto para então sugerir o trabalho para a Teldec. A idéia foi aceita e, além da "transferência" de cinco faixas - Onde Andarás, com vocal de Marisa Monte, Pastora dos Olhos Castanhos, com Paulinho da Viola, Jamais, com Leila Pinheiro, Títulos de Nobreza, com João Bosco e Mariana, com o próprio Época de Ouro -, o Conjunto vai ganhar, em breve, o lançamento de seu CD. "Embora eu não tenha feito as faixas do Época, o trabalho ficou com muita unidade", opina Rildo. Por conta das negociações para a liberação das faixas do disco do Época de Ouro, o Café Brasil acabou saindo um pouco atrasado - o trabalho foi gravado e mixado em março de 2000. O tempo serviu então para caprichar também na produção gráfica do projeto, que traz um libreto com fotos, letras e textos explicativos. "O pessoal da Teldec me pediu para escrever sobre as músicas. Eles gostaram tanto que o material que era, a princípio, um informativo para a imprensa, acabou integrando o disco. Colhi informações biográficas, analisei cada música e não deixei passar nenhum detalhe!", conta Rildo.
Arranjos mais do que plurais
Rildo conta que, ao iniciar a produção de Café Brasil, dividiu o trabalho em núcleos e "nomeou" músicos para fazer os arranjos. "Um ficou com o Maurício Carrilho, outro com o Cristóvão Bastos - que acabou tocando piano em várias faixas...", exemplifica. A estratégia deu características plurais ao disco: "Toda vez que uma música é regravada, sempre muda algo. Sempre há diferenças harmônicas, de interpretação".
Ainda assim, o produtor ressalta que tudo ficou completamente integrado ao movimento do choro, "mesmo com a elaboração de Maurício Carrilho para André de Sapato Novo e Galo Garnizé, as alterações de Henrique Cazes em Brasileirinho e o solo diferente - mantendo a mesma harmonia - de Ronaldo do Bandolim em Treme-treme". Rildo Hora espera que o Café Brasil abra mais espaço no mercado fonográfico nacional para o chorinho. "Eu já trabalhei com muitos nomes do choro e hoje sinto falta de produzir trabalhos de música instrumental. Tenho feito participações em discos independentes, como os do Nó em Pingo D'Água e do Gilson Peranzetta. A situação atual é justamente essa: apenas as gravadoras independentes estão lançando discos nessa área, enquanto as grandes só se voltam para a música da 'moda", lamenta.