Cidade Negra agora também desplugado

Banda gravou nos dias 25 e 26 seu Acústico MTV, com direito a músicas inéditas e canja de Gilberto Gil

Filipe Quintans
28/11/2001
É fato: discos acústicos com a marca da Music Television brasileira funcionam como salvadores da pátria de um sem número de artistas, ora esquecidos, ora querendo apenas abrir o espectro de suas carreiras. Esse processo toma conta de uma fatia do mercado desde que os Titãs alcançaram vendagens na casa de 1,2 milhões de cópias do seu registro acústico e o Capital Inicial, cuja carreira ganhou um considerável sobre-vida com CD acústico gravado ano passado, marcou pontos com pouco mais de 850 mil cópias vendidas. O mais novo adepto do MTV Unplugged e de todas as suas particularidades é o Cidade Negra.

Gravado em 25 e 26 deste mês, no Pólo de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro, o primeiro acústico de uma banda de reggae nacional ficou marcado por belas versões de canções do repertório do grupo (Pensamento, Doutor, Firmamento), aliadas a novas canções, todas com arranjos baseados em harmonia de vozes (contando com a valorosa ajuda de três backing vocals) e teclados Hammond. "Por ser o primeiro acústico de uma banda de reggae, queríamos aproveitar duas oportunidades: a de utilizar arranjos de reggae de raiz (roots), por ser uma fase pela qual estamos passando", disse Toni Garrido, vocalista do Cidade. "A outra oportunidade é a de colocar em prática dois meses de trabalho árduo, ensaiando e arranjando", completa.

Num cenário que remetia às lajes das casas na Baixada (a todo instante Toni chamava a "galera da laje"), a banda despachou um repertório parte escolhido por fãs que visitavam o site da grupo, parte definido pela banda junto com o produtor. Com coerência, fidelidade ao estilo "reggae-pop-MPB" e um sensível tom de diversidade, canções como Girassol, escrita em parceria com Pedro Luís, e Berlim do próprio grupo (inspirada pela passagem da banda pela Europa) definem muito mais do que a vontade pura e simples de "gravar um show com violões".

Uma canção não programada acabou por ser uma grata surpresa. Sunshine, reggae composto por Liminha, chegou a constar do repertório. Durante os ensaios, por um acerto entre banda e produtor, a canção ficaria de fora das gravações. Mesmo assim, numa espécie de homenagem e desobedecendo a ordem do programa, a canção foi registrada. Diga-se de passagem, bem desobedecida.

Mais homenagens foram prestadas, dessa vez com Falar a Verdade, canção de Herbert Vianna, gravada em homenagem a Lucy Vianna, esposa de Herbert, vítima do acidente de ultraleve que deixou o cantor dos Paralamas paraplégico. "Se temos uma pessoa responsável pelo início da carreira do Cidade, essa pessoa é ela", disse Garrido. Explica-se: Lucy era jornalista da BBC em 1990, ano em que a rede de TV inglesa fez um documentário a respeito da música feita no Brasil, em específico no Rio de Janeiro, e que não fosse simplesmente o já consagrado BRock.

Quem tomou conta do ato durante sua participação foi o cantor Gilberto Gil. Único convidado especial do especial, Gil gravou duas canções, Extra e Negro É Lindo de Jorge Ben(Jor); contou histórias, fez imitações e brincou com Fafá de Belém e Pepeu Gomes, sentados na platéia. A primeira, repetida cinco vezes, ganhava um colorido diferente a cada vez que era repetida. A segunda precisou apenas de dois takes para ser concluída. Gil ao entra em cena, brincou; ao ser chamado de "Tio, conselheiro, amigo e purificador de ambientes" por Toni Garrido, perguntou: "Quer dizer que sou bom ar?". Sua participação, segundo Toni, foi "o momento mais sublime da vida do Cidade Negra". Ao mestre, com carinho. O pacote CD-DVD Cidade Negra Acústico tem lançamento previsto para março de 2002. Ao contrário de outro disco acústico da Sony Music brasileira (aquele de um certo Roberto Carlos), o CD não deve passar por nenhum tipo de pós-produção em estúdio, mantendo o registro fiel das apresentações.