Cidade Negra embarca em <i>Acústico MTV</i> de raiz

O grupo carioca se lança no formato desplugado apostando na simplicidade e com a participação de Gilberto Gil

Alex Menotti
22/03/2002
"Quando pintou o convite da MTV e da gravadora, estávamos no meio do processo de composição de um novo álbum de inéditas", conta Toni Garrido, vocalista do grupo Cidade Negra - que acaba de lançar o seu Acústico MTV, que também ganhou versão em DVD. Na entrevista coletiva para divulgar seus novos produtos, os reggaeiros cariocas não esconderam que a idéia de gravar um Acústico pegou a banda de sobressalto. Garrido, Lazão, Bino e Da Gama já estavam com cerca de sete músicas prontas para um álbum na linha reggae de raiz (roots) ­ que será retomado ­ quando a possibilidade de embarcar no sempre rentável universo das versões desplugadas sorriu para o quarteto.

Gravado nos dias 25 e 26 de novembro de 2001 no Pólo de Cine e Vídeo, no Rio de Janeiro, o acústico do Cidade Negra (que vai ao ar hoje, sexta-feira, dia 22 pela MTV, às 22h30. Reprise sábado, 17h, e domingo, 19h) traz um repertório que privilegia os maiores sucessos da banda, já executados à exaustão. Mais do mesmo? Garrido, o mais falante, relativiza. "Na hora de optar pelo repertório, a gente sabia que tinha duas coisas básicas: não deixar de tocar músicas que fossem fundamentais pra gente e, ao mesmo tempo, fazer um disco que agradasse ao nosso público". O baterista Lazão complementa: "e cerca de metade das canções que entraram no CD foi escolhida pelos fãs via Internet, três meses antes".

Em meio a tantos hits ­ que fatalmente vão voltar a invadir as FMs do País ­ como A Sombra da Maldade, O Erê e Onde Você Mora?, sobrou espaço para duas novíssimas canções, Berlim ("única que veio do projeto de roots, pois não haveria sentido gravá-la daqui um ano", conta Garrido) e a faixa de trabalho Girassol, parceria com o emparedado Pedro Luís, além de uma versão para o clássico Johnny B. Goode - de Chuck Berry, famosa na versão do reggaeman jamaicano Peter Tosh.

Característica marcante deste Acústico é sua simplicidade, seu despojamento (raiz?). Na contramão de parte dos projetos do tipo, o Cidade Negra dispensou megaproduções e levou para o palco alguns músicos convidados ­ Alex Meirelles (piano e órgão), Humberto Barros (teclados), Sérgio Yasbek (violão), Eduardo Lyra (percussão), Jessé Sadoc (trompete), Marcelo Martins (sax) e Aldivas Ayres (trombone) ­, um charmoso trio de backing vocals ­ Cidália Castro, Gil Miranda e Gilce de Paula, todas oriundas da banda Vitória Régia, que acompanhava Tim Maia ­ e apenas um convidado especial, o mestre Gilberto Gil, que juntou-se ao grupo na emocionante interpretação de Extra, reggae dos bons composto pelo baiano.

Ainda que despojada, a banda não deixou o zelo de lado e acabou limando momentos que não se encaixaram em seu "padrão de qualidade". "O critério básico do álbum foi o tempo todo calcado em cima da simplicidade", explica Toni Garrido. "Porém uma coisa não podia ser abandonada, que era o som. Este é talvez o disco com a parte sonora mais bem cuidada que a gente fez. O critério era que as melhores músicas iriam entrar. Como só cabiam 17, a gente sacou que algumas canções não estivessem talvez bem executadas, ou a gente talvez não tivesse conseguido tirar o som específico que desejava. Isso aconteceu com Falar A Verdade", revela o vocalista, com sua notória honestidade. A música em questão, primeiro sucesso do Cidade Negra, registrada em estúdio ainda com o antigo vocalista, Ras Bernardo, virou faixa-bônus do DVD. E para os detratores do formato acústico, Garrido apressa-se, perto do fim da coletiva, em se defender. "Dedicamos todo nosso amor a esse trabalho. Nunca fizemos música para o mercado, o mercado é que assimilou nossa música."