Claudio Zoli (re)apresenta baú de sucessos
O hitmaker do soul Brasil regrava as músicas mais marcantes de sua carreira no novo álbum Na Pista
Marco Antonio Barbosa
26/10/2001
Nunca se falou tanto em música negra made in Brazil quanto nos últimos meses. Um pouco da culpa por este bochicho se deve ao fluminense - cria de São Gonçalo, município satélite do Grande Rio - Claudio Zoli. Eterno batalhador na senda da MPB com sotaque soul, Zoli é praticamente uma eminência parda do gênero, vista a quantidade de músicas suas que se tornaram sucessos, na voz de outros cantores ou na dele mesmo. A prova disso está no álbum Na Pista (Trama) que repagina a trajetória de hitmaker de Zoli (com regravações das músicas mais marcantes de sua carreira) e prepara o compositor para o futuro.
"Esse revival da black music brasileira não é por acaso, nem isolado; acho que faz parte de um movimento maior, de revitalização da nossa boa música popular. A virada do milênio trouxe de volta artistas e gêneros que ficaram abafados nos anos 90, esmagados pela música mais comercial", teoriza Zoli, ao analisar o bom momento de artistas ligados ao samba-rock e ao soul Brasil. Isso, depois de anos de afastamento da mídia. Uma história até parecida com a do próprio compositor, que ficou boa parte da década passada "invisível" aos olhos dos meios de comunicação. "Sou um 'herói da insistência'", diz Zoli, rindo. "Não encontrava espaço, por causa da banalização que dominou as paradas."
Na Pista reempacota alguns dos sucessos assinados por Zoli, a começar pela antológica Noite do Prazer - megahit do grupo Brylho, capitaneado pelo compositor no começo dos anos 80. Músicas suas que se tornaram conhecidas com outras vozes estão aqui também: À Francesa (parceria com Antônio Cicero, gravada por Marina Lima), Livre Para Viver (com Pedro Mariano), Felicidade Urgente (feita para Elba Ramalho) e Flor do Futuro (gravada por João Marcelo Bôscoli). Além da produção própria, Zoli incluiu versões para Gostava Tanto de Você (Tim Maia) e Linha do Equador (de Djavan, a qual ele já havia regravado para o songbook do compositor alagoano). A produção ficou a cargo do velho amigo e parceiro Fábio Fonseca, que além de ter um currículo recheado (Ed Motta, Marina, Fernanda Abreu, Gabriel O Pensador), tocou com Zoli no Brylho.
"Os formatos novos para as canções antigas vieram das experiências que eu venho fazendo nos shows", conta Zoli. "As músicas foram mudando com o tempo; Noite do Prazer, por exemplo, deixou de ser uma mistura reggae-soul para ficar mais soul puro. Outras, como Férias (composição de Cassiano, um dos padrinhos artísticos de Zoli) já ficaram com uma cara mais de rhythm'n'blues moderno." A opção por fazer um disco de regravações veio, como conta o cantor, por "pressão popular". Ele fala: "Todo mundo queria ter como ouvir essas músicas, mas meus discos antigos não existem em CD. Até hoje as rádios tocam Cada Um, Cada Um (também conhecida como Namoradeira) tirada de um disco meu de 1987 (Cláudio Zoli) que nunca foi relançado. O LP do Brylho (homônimo, de 1983) é uma raridade, ninguém tem, só saiu em CD há pouquíssimo tempo", fala Zoli.
O reencontro com Fábio Fonseca, que produziu também o disco Fetiche
, lançado por Zoli em 1992, foi fundamental para a cara do novo disco, gravado no estúdio de Fábio em Itatiaia (RJ). "Nossa dobradinha foi essencial para formatar o álbum. Antes de eu decidir quem iria produzir, estava tudo indefinido em minha cabeça; não sabia se iria gravar ao vivo, ou em estúdio... me encontrei com o Fábio num show do Ed Motta, conversamos e fomos à luta", diz Zoli. Apesar do envolvimento do produtor com a música eletrônica, o álbum acabou soando bem humano. "Na verdade, é o primeiro disco que eu gravo com uma banda de verdade, sem usar bases programadas. No final, entrou pouca eletrônica no CD", fala Zoli.
Na Pista é o segundo disco de Claudio Zoli pela Trama (o primeiro foi Férias
, de 1999 - um dos primeiros lançamentos do selo), e o cantor tem uma relação sólida e fraternal com a gravadora. "Sempre digo, brincando, que o João (Marcelo Bôscoli) só montou a gravadora para ter como lançar o Férias fala Zoli. A parceria com o diretor da Trama começou ainda em 1996, época em que Zoli foi convidado por João Marcelo para participar de seu disco Cia. da Música. Mas a presença do compositor de À Francesa sobre o elenco da gravadora é maior, vista a clara influência que seu som excerce no trabalho de artistas como Pedro Mariano e Daniel Carlomagno. "A moçada da Trama sempre gostou do meu trabalho, são uns caras antenados. Encaro com muita naturalidade essa relação que eles têm comigo", fala o compositor. Ao mesmo tempo, modesto, recusa o rótulo de "príncipe do soul brasileiro", cunhado nos anos 80. "Sou o mesmo garoto de 16 anos que frequentava os ensaios do Tim Maia e do Cassiano, para aprender", diz.
"Esse revival da black music brasileira não é por acaso, nem isolado; acho que faz parte de um movimento maior, de revitalização da nossa boa música popular. A virada do milênio trouxe de volta artistas e gêneros que ficaram abafados nos anos 90, esmagados pela música mais comercial", teoriza Zoli, ao analisar o bom momento de artistas ligados ao samba-rock e ao soul Brasil. Isso, depois de anos de afastamento da mídia. Uma história até parecida com a do próprio compositor, que ficou boa parte da década passada "invisível" aos olhos dos meios de comunicação. "Sou um 'herói da insistência'", diz Zoli, rindo. "Não encontrava espaço, por causa da banalização que dominou as paradas."
Na Pista reempacota alguns dos sucessos assinados por Zoli, a começar pela antológica Noite do Prazer - megahit do grupo Brylho, capitaneado pelo compositor no começo dos anos 80. Músicas suas que se tornaram conhecidas com outras vozes estão aqui também: À Francesa (parceria com Antônio Cicero, gravada por Marina Lima), Livre Para Viver (com Pedro Mariano), Felicidade Urgente (feita para Elba Ramalho) e Flor do Futuro (gravada por João Marcelo Bôscoli). Além da produção própria, Zoli incluiu versões para Gostava Tanto de Você (Tim Maia) e Linha do Equador (de Djavan, a qual ele já havia regravado para o songbook do compositor alagoano). A produção ficou a cargo do velho amigo e parceiro Fábio Fonseca, que além de ter um currículo recheado (Ed Motta, Marina, Fernanda Abreu, Gabriel O Pensador), tocou com Zoli no Brylho.
"Os formatos novos para as canções antigas vieram das experiências que eu venho fazendo nos shows", conta Zoli. "As músicas foram mudando com o tempo; Noite do Prazer, por exemplo, deixou de ser uma mistura reggae-soul para ficar mais soul puro. Outras, como Férias (composição de Cassiano, um dos padrinhos artísticos de Zoli) já ficaram com uma cara mais de rhythm'n'blues moderno." A opção por fazer um disco de regravações veio, como conta o cantor, por "pressão popular". Ele fala: "Todo mundo queria ter como ouvir essas músicas, mas meus discos antigos não existem em CD. Até hoje as rádios tocam Cada Um, Cada Um (também conhecida como Namoradeira) tirada de um disco meu de 1987 (Cláudio Zoli) que nunca foi relançado. O LP do Brylho (homônimo, de 1983) é uma raridade, ninguém tem, só saiu em CD há pouquíssimo tempo", fala Zoli.
O reencontro com Fábio Fonseca, que produziu também o disco Fetiche

Na Pista é o segundo disco de Claudio Zoli pela Trama (o primeiro foi Férias
