Coleção Luiz Gonzaga engorda com seis títulos
Os LPs São João na Roça, São João do Araripe, Véio Macho, Sanfona do Povo, Luiz Gonzaga Canta seus Sucessos com Zé Dantas e Canaã são enfim relançados em CD
Tárik de Souza
03/07/2000
Mais seis títulos da alentada discografia de Luiz Gonzaga saem com atraso da era do vinil para o CD. Em edição caprichada, fonogramas devidamente remasterizados e capinhas reproduzindo a arte original (incluindo até as datas das gravações e eventuais textos de contracapas), o sexteto integra a Coleção Luiz Gonzaga (BMG) agora num total de 16 CDs do rei do baião, xaxado, xote e outras bossas nordestinas. A coletânea São João na Roça, dirige-se especificamente ao período junino com faixas como Olha Pro Céu (1951) e Noites Brasileiras (1954), ambas recicladas com sucesso por Fagner, mais São João do Carneirinho (1952), Lenda de São João (1956) e a principal, todas clássicas do ramo.
Apesar do título, São João do Araripe (1968) abriga vários estilos incluindo a Mazurca, gênero que Gonzaga explorou muito no início da carreira, Coco Xeem, baiões (Vitória de Santo Antão, A Cheia de 24) e a inevitável quadrilha junina (De Juazeiro a Crato, Madruceu o Milho, Lenha Verde), tudo com sua grife de qualidade. Véio Macho, de 1962, da faixa título de Rosil Cavalcante a Adeus Iracema, da dupla Gonzaga/Zé Dantas só arrebanha autores especialistas como João do Vale (De Terezina a São Luiz) e Onildo Almeida (Sanfoneiro Zé Tatu).
Sanfona do Povo, de 1964, tematiza uma fase de baixa do soberano – de quem roubaram o instrumento como narra a faixa título – e do próprio gênero. "O baião vai se levantar/ ele é nordestino e não foge sem lutar", suspira O baião Vai. O próprio disco reflete esse degrau abaixo, a despeito da perfeita forma vocal do intérprete e alguns bons momentos dos baiões de João do Vale (Fogo no Paraná, Não foi surpresa) e um xote do próprio Gonzaga (Fole gemedor).
Clássicos do regionalismo universalizado
A outra coletânea do pacote (formada por singles de 78 rotações lançados entre 1949 e 1955), Luiz Gonzaga Canta seus Sucessos com Zé Dantas é uma obra prima onde se casam a voz chorada do sanfoneiro bluesy com 12 clássicos do regionalismo universalizado pela qualidade estética. Das politizadas Vozes da Seca e Paulo Afonso ao canto de trabalho Algodão. Das comportamentais A Dança da Moda, Xote das Meninas e Cintura Fina ao crossover baião/pré-rock de Vem Morena (de 1950!), além do pioneiro Forro de Mané Vito (1949) e outros totens como A Volta da Asa Branca, A letra I e Riacho do Navio.
Lançado em 1969, quando iniciava-se sua redescoberta artística (a partir de um boato espalhado no ano anterior por Carlos Imperial de que os Beatles teriam gravado Asa Branca no célebre White Album), Canaã captura um Luiz Gonzaga de transição, afogado num turbilhão político no auge do recrudescimento da ditadura. O repertório embaralha um Canto Sem Protesto ("meu canto não tem protesto/ meu canto é pra alegrar") à faixa título protestante do parceiro Humberto Teixeira ("porque cantar tanta tristeza/ me pergunta com frieza/ gente alegre de riqueza") além de quatro (ótimos) petardos igualmente engajados de entonação nordestina do início da carreira de seu filho, Luiz Gonzaga Junior (Erva Rasteira, Pobreza por Pobreza, Festa, Diz Que Vai Virar). Completa o tiroteio ideológico do disco um míssil de Humberto Teixeira contra os modificadores do gênero: "Baião cantado em ternário/ e até quaternário/ uou uou uou/ colagem de som e verso/ (...) mais respeito com o sertão/ essa coisa tão pachola, sem cabocla e sem viola/ me perdoe não é baião".
Apesar do título, São João do Araripe (1968) abriga vários estilos incluindo a Mazurca, gênero que Gonzaga explorou muito no início da carreira, Coco Xeem, baiões (Vitória de Santo Antão, A Cheia de 24) e a inevitável quadrilha junina (De Juazeiro a Crato, Madruceu o Milho, Lenha Verde), tudo com sua grife de qualidade. Véio Macho, de 1962, da faixa título de Rosil Cavalcante a Adeus Iracema, da dupla Gonzaga/Zé Dantas só arrebanha autores especialistas como João do Vale (De Terezina a São Luiz) e Onildo Almeida (Sanfoneiro Zé Tatu).
Sanfona do Povo, de 1964, tematiza uma fase de baixa do soberano – de quem roubaram o instrumento como narra a faixa título – e do próprio gênero. "O baião vai se levantar/ ele é nordestino e não foge sem lutar", suspira O baião Vai. O próprio disco reflete esse degrau abaixo, a despeito da perfeita forma vocal do intérprete e alguns bons momentos dos baiões de João do Vale (Fogo no Paraná, Não foi surpresa) e um xote do próprio Gonzaga (Fole gemedor).
Clássicos do regionalismo universalizado
A outra coletânea do pacote (formada por singles de 78 rotações lançados entre 1949 e 1955), Luiz Gonzaga Canta seus Sucessos com Zé Dantas é uma obra prima onde se casam a voz chorada do sanfoneiro bluesy com 12 clássicos do regionalismo universalizado pela qualidade estética. Das politizadas Vozes da Seca e Paulo Afonso ao canto de trabalho Algodão. Das comportamentais A Dança da Moda, Xote das Meninas e Cintura Fina ao crossover baião/pré-rock de Vem Morena (de 1950!), além do pioneiro Forro de Mané Vito (1949) e outros totens como A Volta da Asa Branca, A letra I e Riacho do Navio.
Lançado em 1969, quando iniciava-se sua redescoberta artística (a partir de um boato espalhado no ano anterior por Carlos Imperial de que os Beatles teriam gravado Asa Branca no célebre White Album), Canaã captura um Luiz Gonzaga de transição, afogado num turbilhão político no auge do recrudescimento da ditadura. O repertório embaralha um Canto Sem Protesto ("meu canto não tem protesto/ meu canto é pra alegrar") à faixa título protestante do parceiro Humberto Teixeira ("porque cantar tanta tristeza/ me pergunta com frieza/ gente alegre de riqueza") além de quatro (ótimos) petardos igualmente engajados de entonação nordestina do início da carreira de seu filho, Luiz Gonzaga Junior (Erva Rasteira, Pobreza por Pobreza, Festa, Diz Que Vai Virar). Completa o tiroteio ideológico do disco um míssil de Humberto Teixeira contra os modificadores do gênero: "Baião cantado em ternário/ e até quaternário/ uou uou uou/ colagem de som e verso/ (...) mais respeito com o sertão/ essa coisa tão pachola, sem cabocla e sem viola/ me perdoe não é baião".