Combate Rock ataca o pop dos anos 80

Jam-session histórica com superbanda do rock nacional vira CD sob o título O Grande Encontro do Rock

Marco Antonio Barbosa
22/11/2001
Dado Villa-Lobos (clique para ampliar)
Revival do pop brasileiro dos anos 80 já virou carta marcada e, muitas vezes, expediente certo para garantir um gás novo na carreira de ídolos do passado que estão meio combalidos. Mas a coisa muda completamente de figura quando, em um único disco - e quase certamente pela última vez - reúnem-se de uma só tacada Philippe Seabra e Jander Bilaphra (Plebe Rude), Roger Moreira e Mingau (Ultraje a Rigor), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial), Toni Platão, Fausto Fawcett & Carlos Laufer, Nasi (Ira!), Evandro Mesquita (Blitz), Redson (Cólera), os três Paralamas do Sucesso e os remanescentes da Legião Urbana Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Dream team? Escalação feita nos céus? Não, o encontro aconteceu mesmo, há cerca de três anos (ou seja, antes da tal febre do revival) e sabiamente foi registrado em disco. Nem mesmo os mais céticos podem torcer o nariz para o álbum Combate Rock - O Grande Encontro do Rock, que a gravadora RockIt! acaba de lançar (com distribuição Sony), que reúne todos os astros citados acima em interpretações de seus maiores sucessos, ao vivo no estúdio.

Quem explica o pródigo encontro é Dado Villa-Lobos, diretor do selo RockIt! e mentor da superbanda e do disco. "A banda foi formada de bobeira, para tocar no encerramento de um festival, há mais ou menos uns três anos", diz o ex-guitarrista da Legião. Mais precisamente, tratava-se de uma edição do Skol Rock, evento para revelar bandas iniciantes, em novembro de 1998. Para a final do concurso, reabriu-se a boate Noites Cariocas, no Morro da Urca (RJ) - um dos palcos cruciais para o nascimento da safra 80's do rock nacional, que viu shows da Blitz, Kid Abelha e Gang 90 ainda engatinhando. "Foi uma noite para não se esquecer. Foi realmente incrível ver aquela galera toda, tocando com a maior empolgação. Eu me senti como se estivesse estreando de novo, cheio de entusiasmo", diz Dado.

Praticamente todos os participantes tiveram um ou mais sucessos incluídos no repertório. A superbanda atacou Geração Coca-cola e Será (Legião), Fui Eu (Paralamas), Kátia Flávia (Fausto Fawcett), Até Quando Esperar e Pressão Social (Plebe) e Pros que Estão em Casa (Hojerizah) apareceram no repertório. "Além do pique em que estávamos, tocamos o repertório com a maior propriedade também, porque as músicas eram nossas , afinal. Ninguém melhor que a gente para relembrar aquelas canções", diz Dado. Músicas alheias como Toda Forma de Poder (Engenheiros do Hawaii) e Pop Star (do João Penca e Seus Miquinhos Amestrados) também deram as caras.

Alguns dias após o histórico show, Dado afinal propôs à galera que participou um registro em estúdio da jam-session. "Era bom demais para que não ficasse nada gravado. É claro que foi em clima de recordar é viver, mas acabou superando as expectativas", fala Dado. Sob sua produção (junto a Tom Capone), a rapaziada do show no Morro da Urca se trancou no estúdio AR por três dias em dezembro de 1998. Na lista de canções, todos os clássicos revisitados no primeiro espetáculo, mais algumas canções de grupos gringos (Lost in the Supermarket, do Clash - que aliás inspirou, com seu álbum Combat Rock, o nome da "banda" - China Girl, de David Bowie e Sheena Is a Punk Rocker, dos Ramones). "O negócio era manter o mesmo clima do show, por isso gravamos tudo ao vivo. Ensaiamos muito pouco, menos de uma semana", relembra Dado.

Entre os momentos mais marcantes do álbum, estão as participações de Herbert Vianna (cantando Sexo e Karatê, da Plebe, e Geração Coca-cola), Nasi emprestando punch punk a Até Quando Esperar, Redson literalmente soltando os bichos em Pressão Social e o próprio Dado - estreando como vocalista - cantando Toda Forma de Poder.

Engavetado por quatro anos, Combate Rock saiu meio "no susto", tão logo a RockIt! firmou um contrato de distribuição com a Sony. "Tinha ficado meio assim-assim com o subtítulo", diz Dado, brincando sobre o complemento O Grande Encontro do Rock, sugerido pela Sony. "Mas agora já foi e pronto."