Compositor desencava músicas inéditas
Na entrevista em que falou de sua caixa, Dorival Caymmi não resistiu e cantou uma insuspeitada marchinha de carnaval, além de um samba e as canções para as duas netas que jamais havia cantado em público
Rodrigo Faour
09/12/2000
Nos CDs duplos de Caymmi Amor e Mar, o ouvinte terá a oportunidade de se deliciar com todo tipo de canção da vasta obra do baiano: desde as praieiras (O Mar, O Vento, Noite de Temporal, Pescaria, a suíte História de Pescadores) e os sambas-canções influenciados pela boêmia carioca entre fins dos anos 40 e a década seguinte (Saudade, Nem Eu, Só Louco, Sábado em Copacabana, Não Tem Solução) até as músicas de temática baiana (A Preta do Acarajé, Lá Vem a Baiana, Você já Foi à Bahia?) e os grandes sambas (Saudade da Bahia, Maracangalha, Samba da Minha Terra). Só faltavam marchinhas de carnaval – aliás, por que será que Caymmi nunca compôs marchinhas, algo tão comum em sua época? “Fiz, sim. Fiz marchinhas de Carnaval pelo espírito baiano, no tempo que eu vivia na Bahia”, revela. É aí que ele surpreende os entrevistadores e canta a seguinte pérola inédita, Lucila:
Lucila, meu bem, Lucila
Vamos pra farra enquanto seu pai cochila
Domingo é nosso
Segunda também
Terça-feira de nós dois
Vamos esquecer as mágoas, meu bem,
Hoje, amanhã e depois
Caymmi encerra a música e continua a conversa: “Isso não é carnaval? Também ganhei um prêmio de carnaval, um abajur de cetim lilás (risos), num concurso promovido pelo jornal O Imparcial, onde trabalhava, com o samba A Bahia Também Dá. E canta mais:
Tá chegando o Carnaval
A macacada tem, tem que se alistar
Jacareí, liberdade, Curva Grande, Pau Miúdo (“os bairros vizinhos de onde eu morava”)
Tá na hora de enfezar, vamo lá!
Depois, mais papo. “No Rio de Janeiro, não fui um autor de carnaval. Marcangalha não foi feita para carnaval, mas serve para carnavais imensos”, explica. E então tira do baú outras duas, que fez para as primeiras duas netas, Denise e Stella, filhas de Nana. A primeira é um samba “sacudido”:
Denise
Se tiver muito ocupada, me avise
Eu não sou de cometer deslize
Prometi e não cumpri, Denise.
“É difícil de rimar tudo em ise, mas cala-te boca!”, brinca Caymmi. E encerra a entrevista de forma emocionante, cantando o acalanto que fez para Stella, que nasceu em Caracas, na Venezuela, onde Nana residia no começo dos anos 60.
Dorme à noitinha
Stela Teresinha
Dorme netinha,
Minha estrangeirinha, assim
Toda estrela brilha
Toda flor perfuma
É que nasceu uma niña, niña, nina...
Lucila, meu bem, Lucila
Vamos pra farra enquanto seu pai cochila
Domingo é nosso
Segunda também
Terça-feira de nós dois
Vamos esquecer as mágoas, meu bem,
Hoje, amanhã e depois
Caymmi encerra a música e continua a conversa: “Isso não é carnaval? Também ganhei um prêmio de carnaval, um abajur de cetim lilás (risos), num concurso promovido pelo jornal O Imparcial, onde trabalhava, com o samba A Bahia Também Dá. E canta mais:
Tá chegando o Carnaval
A macacada tem, tem que se alistar
Jacareí, liberdade, Curva Grande, Pau Miúdo (“os bairros vizinhos de onde eu morava”)
Tá na hora de enfezar, vamo lá!
Depois, mais papo. “No Rio de Janeiro, não fui um autor de carnaval. Marcangalha não foi feita para carnaval, mas serve para carnavais imensos”, explica. E então tira do baú outras duas, que fez para as primeiras duas netas, Denise e Stella, filhas de Nana. A primeira é um samba “sacudido”:
Denise
Se tiver muito ocupada, me avise
Eu não sou de cometer deslize
Prometi e não cumpri, Denise.
“É difícil de rimar tudo em ise, mas cala-te boca!”, brinca Caymmi. E encerra a entrevista de forma emocionante, cantando o acalanto que fez para Stella, que nasceu em Caracas, na Venezuela, onde Nana residia no começo dos anos 60.
Dorme à noitinha
Stela Teresinha
Dorme netinha,
Minha estrangeirinha, assim
Toda estrela brilha
Toda flor perfuma
É que nasceu uma niña, niña, nina...
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