Comunidade e Sideral: nova direção em seus segundos álbuns

Banda gaúcha e cantor mineiro resolvem privilegiar o rock em seus mais recentes discos, Maicou Douglas Syndrome e Na Paz

Silvio Essinger
27/04/2001
Muitos artistas passam por mudanças - e as razões são diversas - quando se vêem diante do desafio do segundo disco. Os gaúchos da Comunidade Nin Jitsu e o mineiro Sideral (ex-Wilsom Sideral) não são exceção. Depois da festa à base de rock e uma bem-humorada assimilação do funk carioca no disco Broncas Legais amostras de 30s (99), a Comunidade deu um tempo nos batidões e liberou as guitarras em Maicou Douglas Syndrome amostras de 30s, que acaba de ser lançado pela Sony Music. Já Sideral, que passeava pelo rock, o funk (dos anos 70), as baladas de piano e até o xote em seu primeiro disco, amostras de 30s (99), acabou privilegiando o primeiro componente no novo disco, Na Paz amostras de 30s, que chega às lojas pela Universal Music.

Fredi Endres, guitarrista e programador da Comunidade, conta que os novos rumos da banda ajudarão a desfazer um pouco da confusão que existia na cabeça do público, por causa de músicas como Rap do Trago, Detetive e Analfabeto. "A gente é, na verdade, uma banda de rock que tem entre as suas influências o rap de 2 Live Crew e Tone Loc. Não pensamos em invadir o espaço do funk." Eles, no entanto, não descartam participações no programa da Furacão 2000. "Se a Mãe Loura nos convidar, é outra história...", brinca Fredi, que continua usando o Napster para catar pérolas do funk carioca como A Chatuba de Mesquita.

Um procedimento funk que a Comunidade deixou de lado nesse disco foi o de pegar a base de sucessos do pop-rock internacional (como Der Komissair, do alemão Falco, que deu origem ao Rap do Trago) para fazer suas músicas - o que chegou a dar alguns problemas para a banda no primeiro disco, já que os ingleses do The Cure não liberaram a reelaboração de Boys Don't Cry, com uma amalucada letra em português que nada tinha a ver com a original. "Quando a gente fez as versões, tudo era muito espontâneo, nada daquilo foi programado", conta Fred. A única menção a um sucesso do pop internacional no novo disco é a citação dos teclados de Sweet Dreams, do Eurythmics em Ah! Eu Tô Sem Erva.

O mago do pop na produção
No meio do caminho para lançar o disco pela RockIt! (gravadora do legionário Dado Villa-Lobos, que havia editado Broncas Legais), surgiu o convite da Sony Music para que a Comunidade Nin Jitsu se tornasse artista do seu cast. "A gente respeita muito o trabalho do Dado, mas a Sony tem mais condições de divulgar o nosso trabalho", diz Fredi. Uma vez lá, eles puderam chamar o conceituado produtor Dudu Marote (Skank, Pato Fu) para cuidar do disco. "Ele tem a fama de ser o mago do pop, mas na verdade o que ele nos propiciou foi uma boa técnica de estúdio", assegura o guitarrista "A gente queria preservar a essência da banda."

Fredi não acha que a Comunidade seja prejudicada por estar chegando na Sony depois que outros gaúchos não tiveram bom resultado por lá fazendo mistura de rock com funk carioca (o Defalla, com o disco Miami Rock 2000 amostras de 30s). "A gente agradece ao Edu K [líder do Defalla] por não ter dito que foi influenciado por nós. Já fazíamos esse tipo de som bem antes deles", alfineta. Segundo o guitarrista, a influência que a Comunidade quer deixar mais clara nesse disco é a dos pais do funk carioca, o eletrofunk de P-Funk e Afrika Bambaataa.

O título do disco - Maicou Douglas Syndrome - não faz menção ao ator americano sexólatra por acaso. "Na gíria do Sul, Maicou Douglas é um cara bem tarado, que sai toda vez à noite para pegar mulher. A música Arrastão do Amor fala sobre isso", conta Fredi. E que ninguém vá dizer que a banda - que ainda pôs na capa do CD uma deliciosa loura sendo servida num sushi gigante- seja machista. "Se um não quer, dois não fazem", resume o guitarrista.

Hoje em dia, como muitas bandas gaúchas, a Comunidade vive em São Paulo, num apartamento. "A gente já está bem consolidado lá e agora quer fazer mais shows fora do estado", revela Fredi. O primeiro show de lançamento do disco, no entanto, vai ser em Porto Alegre, no Opinião, no próximo dia 10. A boa notícia é que eles vão poder contar com boa parte do equipamento que havia sido afanado no começo do ano, o que motivou até um apelo emocionado (leia cybernota). "A polícia achou, por incrível que pareça", diz.

Mais guitarra-na-cara
Os samples e batidas eletrônicas que a Comunidade Nin Jitsu tanto usa em seu disco hoje são passado para Wilsom Sideral, cantor, compositor e guitarrista de 25 anos de idade, que compôs Fácil ouvir 30s, sucesso do Jota Quest, banda seu do irmão, o vocalista Rogério Flausino. Cliente de Dudu Marote em seu primeiro disco, Sideral resolveu entregar seu segundo ao guitarrista Tadeu Patola. E gostou do resultado em Na Paz. "Esse disco é mais guitarra-na-cara, com menos samples que o primeiro. Foi bom ter trabalhado com um cara que nos deixou ser nós mesmos. Ele ouviu nossos ensaios e dó deu uma polidinha", conta o músico.

Em 28 dias, Sideral e sua turma gravaram e masterizaram o disco e fizeram a capa de Na Paz. Ele diz não se importar com a pressão para compor hits como Zero a Zero e Não Pode Parar, músicas do primeiro CD que ajudaram a impulsionar sua carreira. "Se forçar a barra, o sucesso não vem. A letra de Fácil ficou jogada na gaveta durante seis meses", conta. Nesse novo disco, as apostas são as faixas Sai Fora, Barbie (a primeira a ganhar videoclipe) e Simples ("Simples, simplesmente linda/ Simples como o meu amor por você), que tem participação de Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial.

De quebra, Sideral ainda fez uma versão bem roqueira de Para Lennon e McCartney (sucesso de Lô Borges, composto em parceria com o irmão Márcio e Fernando Brant) "Quem mora lá em Minas não tem como não escutar e não apreciar. E no interior (o músico é da cidade de Alfenas - foi para Belo Horizonte aos 18 anos para tocar na banda de reggae Omeriah), a presença do Clube da Esquina é fortíssima." A música está garantida no show, que estréia dia 18 próximo em BH.