Controvérsia na terceira eliminatória do Festival

A decisão dos jurados pelas músicas Bigamia, Necessidade Básica e Tudo Bem Meu Bem provoca vaias do público e deixa artistas perplexos, em noite com muitos concorrentes fortes

Tom Cardoso
03/09/2000
Marmelada! Marmelada! Era o que se ouvia do público na saída do Credicard Hall, em São Paulo, local da terceira eliminatória do Festival da Música Brasileira, realizada na noite do último sábado. Numa etapa em que várias canções se destacaram, os 11 jurados, ao contrário das duas eliminatórias anteriores, conseguiram irritar platéia, artistas e jornalistas, todos perplexos com as três músicas selecionadas para a grande final, no próximo dia 16.

Entre os shows de Cidade Negra e Gabriel O Pensador, na abertura, e de Ivan Lins e Nana Caymmi, no encerramento, foram classificadas as canções Bigamia, de Alexandre Lemos e Alfredo Karam (interpretada por Ronald Valle), Necessidade Básica, de Nelson Lemos (interpretada por Paulinho Lêmos) e Tudo Bem Meu Bem, de Ricardo Soares. Com exceção da primeira, que pelo menos – apesar de abordar um tema manjadíssimo (a relação entre genro e sogra) – arrancou aplausos entusiasmados do público, as outras duas canções não primaram nem pela empatia com a platéia, nem pela ousadia (são dois rocks básicos).

Pelo menos seis músicas mostraram que poderiam estar perfeitamente entre as três finalistas – Terra à Vista, de Marco André e Alfredo Oliveira, Quando Dorme Alcântara, de Tião Carvalho, Bela, Doida e Distraída, do veteranos Zé Renato e Fausto Nilo, Pára-Quedas, de Guerá Fernandes e Denise Reis, Mais Bonito, de Celia Vaz e Sueli Corrêa, e Moleque Tinhoso, de Ivan Cardoso.

A eleição do júri foi tão controvertida e polêmica, que os seguranças da casa de shows foram obrigados a deslocar a coletiva com os três vencedores, normalmente realizada no hall de entrada, para a apertada sala de imprensa. O músico baiano Vicente Barreto, autor de Cisma, canção desclassificada na primeira etapa, era um dos mais revoltados com a decisão do júri. “Isso aqui é uma palhaçada. Acho que há um certo preconceito dos jurados com a música genuinamente popular. Nunca vi tamanha injustiça”, protestava o compositor de Tropicana, música imortalizada na voz Alceu Valença.

Enquanto isso, na sala de imprensa, os três finalistas gabavam-se das vaias tomadas. “Poxa, até o Caetano Veloso foi vaiado com É Proibido Proibir (em 1968, no Festival Internacional da Canção), por que eu ficaria chateado?”, dizia Ricardo Soares, autor e intérprete de Tudo Bem Meu Bem. Paulinho Lemos, intérprete de Necessidade Básica, engrossava o coro: “O grande maestro Tom Jobim também tomou uma grande vaia quando venceu com a canção Sabiá (em parceria com Chico Buarque, interpretada por Cynara e Cybele no Festival Internacional da Canção, em 1968). A vaia faz parte dos festivais.” Os jurados, que na noite anterior circulavam calmamente pelos corredores do Credicard Hall, desta vez sumiram como um passe de mágica.