Dado Villa-Lobos: disco solo, não

O ex-Legião Urbana fala de seu desencanto com a música

Bernardo Araujo
01/06/2001
À primeira vista, Dado Villa-Lobos é o cara tranqüilo de sempre, com os pés sobre a mesa de seu estúdio, conversando sobre seus projetos musicais. Um papo mais aprofundado, porém, revela dois lados bem distintos: o jovem empolgado com a vida e cheio de idéias que acaba de ganhar o prêmio de melhor trilha sonora no Festival do Cinema Brasileiro, em Miami (por seu trabalho no filme Bufo & Spallanzanni), e o homem amuado com o estado de saúde do amigo Herbert Vianna, que não quer saber de gravar seu primeiro disco solo.

O desânimo, segundo Dado, vem de algum tempo: a queda do ultraleve com Herbert e sua mulher, Lucy - que saíam de uma festa na casa de praia de Dado - apenas veio piorar o estado das coisas. "Antes a mulher do meu pai já tinha morrido, no ano passado, a bruxa está solta mesmo", diz ele, sem perder a calma. "O mundo da música mesmo já não me motiva tanto: um CD hoje é uma coisa tão descartável, que você ganha em postos de gasolina..."

As visitas a Herbert normalmente o deixam animado. "Não vou com muita freqüência, então toda vez que apareço noto uma melhora", conta. "É aquilo mesmo que o Hermano (Vianna, irmão de Herbert) falou: vamos esperar um ano e meio ou dois para que tudo volte ao normal." Segundo ele, o estado do cantor dos Paralamas ainda é delicado, o que não impede os dois de tocar violão juntos: "Ele é uma jukebox humana, sabe todas as músicas", conta Dado, rindo. "O contrário de mim, que tenho que levar revistinhas com cifras para acompanhá-lo."

O assunto, aliás, suscita um dos projetos que o empolga: "Até o final do ano devemos lançar um songbook oficial da Legião, com fotos, bem produzido", revela. "Tentaram colocar um no mercado, mas era péssimo e fizemos com que fosse recolhido." Sua antiga banda - que está entre os artistas mais bem-sucedidos deste ano, com o disco ao vivo Como É Que Se Diz Eu Te Amo amostras de 30s- suscita reações diferentes: o trabalho para o lançamento do CD, segundo Dado, foi prazeroso. "Rimos muito ouvindo o Renato falando e adoramos constatar a qualidade daquele show", lembra ele. Já o gerenciamento do baú de gravações da banda não é uma atividade que o agrada.

"São muitas gravações, de ensaios, shows e estúdio", diz. "Mas são de uma banda que já acabou há cinco anos." As fitas estão sendo catalogadas pelo pesquisador Marcelo Fróes, que decidirá, com Dado e Marcelo Bonfá, o que poderá ser lançado. "Não vou deixar que elas apodreçam, mas esse não é um desafio que me atraia. A idéia de um disco próprio está na mesma categoria. Tenho aqui no computador um arquivo com algumas canções e idéias, mas quando paro para pensar nisso me pergunto: 'Por quê?' Esse é um projeto que só valerá a pena no dia em que eu mergulhar de cabeça nele, e por enquanto não estou afim. E nem me sinto obrigado."