Dois mil foi o ano do <i>Morango do Nordeste</i>, atesta Ibope
Dados da pesquisa de opinião pública sobre a música brasileira do instituto apontam ainda Roberto Carlos, Gilberto Gil e Caetano Veloso (os dois últimos com músicas de outros autores) entre os favoritos
Silvio Essinger
18/01/2001
Qual a melhor música brasileira do ano 2000? O Ibope foi atrás dos brasileiros para saber e, depois de uma vasta e criteriosa pesquisa, obteve uma série de dados que nos permitem chegar a interessantes conclusões. Em termos absolutos, a canção de que mais brasileiros gostaram no ano passado, com 4% da preferência total, foi Morango do Nordeste
, uma antiga composição dos obscuros pernambucanos Walter de Afogados e Fernando Alves, que começou a fazer sucesso depois de ser regravada pelo forrozeiro brega Lairton dos Teclados. Na sua cola, mais de 50 outras versões foram feitas, nos mais variados estilos musicais — forró, axé, samba, sertanejo, brega etc. De Frank Aguiar (o Cãozinho dos Teclados) ao grupo de pagode Karametade, passando pelo jovem-guardista Wanderley Cardoso, muita gente tirou casquinha dessa composição (cuja letra é absolutamente nonsense: "E digo que ela significa pra mim/ Ela é um morango aqui do Nordeste/ Tu sabes, não existe, sou cabra da peste/ apesar de colher as batatas da terra/ com essa mulher eu vou até pra guerra"), provocando um efeito multiplicador de sucesso jamais visto na história da música brasileira.
O segundo lugar na pesquisa, com 3%, foi Amor Sem Limites
, canção que marcou a volta à cena de Roberto Carlos, que estava recluso desde a morte da mulher, Maria Rita, em 1999. O que talvez tenha beneficiado a música é o fato de ela ter estado em grande evidência na época em que foi feita a pesquisa — entre os dias 30 de novembro e 4 de dezembro. A força do mito de Roberto, um dos mais duradouros da música brasileira, não deve ser minimizado, porém. Já o terceiro lugar, com 2%, foi o baião Esperando na Janela
, gravado por Gilberto Gil para a trilha do filme Eu, Tu, Eles, de Andrucha Waddington, estrelado por Regina Casé. Composta pelo jovem sanfoneiro Tarjino Gondim em parceria com Manuca e Raimundinho do Acordeon, foi a presença garantida nos mais diversos forrós (universitários, principalmente).
Quando se faz um recorte dos entrevistados por idade, Morango do Nordeste permanece no topo da lista entre a turma dos 16 aos 34 anos de idade. Entre os que têm 35 anos para cima, a favorita passa a ser Amor Sem Limite, de Roberto Carlos. Observando-se os níveis de escolaridade, Morango também é a favorita entre os que têm até o ginasial completo. Para quem passou pelo segundo grau, é Amor Sem Limites na cabeça. Já entre a turma que freqüentou universidades, a campeã disparada foi Sozinho, de Peninha, que estourou em 1999 na voz de Caetano Veloso
(na escalação geral, ela é a quarta colocada).
Discrepâncias regionais
A melhor performance do Morango do Nordeste, nos mostra a pesquisa, foi entre nordestinos e sulistas — e a pior, entre os moradores do Sudeste. Já o Amor foi a grande preferida dos entrevistados no Nordeste — não à toa, região que Roberto Carlos escolheu para iniciar a turnê do seu novo disco, em novembro passado. Curiosamente, Esperando na Janela teve uma decepcionante aceitação entre os nordestinos — zero por cento da preferência. Por fim, cruzando os resultados com a renda familiar dos entrevistados, constata-se que a preferência pelo Morango do Nordeste sobe na inversa proporção do número de salários mínimos que cada pessoa recebe. Já Esperando na Janela e Sozinho são mais apreciadas pelos mais ricos. O fenômeno se repete com essas mesmas músicas quando se analisa a classe econômica das 2.000 pessoas que participaram da pesquisa.
Entre as outras canções que ocuparam a preferência geral, estão, na ordem, Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim (sucesso de Ivete Sangalo)
, Devolva-me (canção da jovem guarda recauchutada por Adriana Calcanhotto)
, Amor I Love You (Marisa Monte), Mel (do ex-cantor da banda de pagode Soweto, Belo), Nossa Senhora (Roberto Carlos)
, Quero Colo(Leonardo), A Dor Esse Amor (KLB), Pare (Zezé Di Camargo e Luciano), a Ave Maria (na versão samba de Jorge Aragão)
, entre outras. Mais para o fim da lista, figura até um sucesso gospel, Com Muito Louvor, da cantora Cassiane.
Quem ficou por baixo na preferência popular em 2000, pelo visto, foi o pop-rock brasileiro, que não teve nenhuma citação de relevância (até o axé emplacou um Bom Xibom, de As Meninas). Segundo o Ibope, o nível de confiança da pesquisa é estimado em 95%, com margem de erro máxima de 2,2 pontos percentuais (para mais ou para menos).
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O segundo lugar na pesquisa, com 3%, foi Amor Sem Limites
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Quando se faz um recorte dos entrevistados por idade, Morango do Nordeste permanece no topo da lista entre a turma dos 16 aos 34 anos de idade. Entre os que têm 35 anos para cima, a favorita passa a ser Amor Sem Limite, de Roberto Carlos. Observando-se os níveis de escolaridade, Morango também é a favorita entre os que têm até o ginasial completo. Para quem passou pelo segundo grau, é Amor Sem Limites na cabeça. Já entre a turma que freqüentou universidades, a campeã disparada foi Sozinho, de Peninha, que estourou em 1999 na voz de Caetano Veloso
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Discrepâncias regionais
A melhor performance do Morango do Nordeste, nos mostra a pesquisa, foi entre nordestinos e sulistas — e a pior, entre os moradores do Sudeste. Já o Amor foi a grande preferida dos entrevistados no Nordeste — não à toa, região que Roberto Carlos escolheu para iniciar a turnê do seu novo disco, em novembro passado. Curiosamente, Esperando na Janela teve uma decepcionante aceitação entre os nordestinos — zero por cento da preferência. Por fim, cruzando os resultados com a renda familiar dos entrevistados, constata-se que a preferência pelo Morango do Nordeste sobe na inversa proporção do número de salários mínimos que cada pessoa recebe. Já Esperando na Janela e Sozinho são mais apreciadas pelos mais ricos. O fenômeno se repete com essas mesmas músicas quando se analisa a classe econômica das 2.000 pessoas que participaram da pesquisa.
Entre as outras canções que ocuparam a preferência geral, estão, na ordem, Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim (sucesso de Ivete Sangalo)
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Quem ficou por baixo na preferência popular em 2000, pelo visto, foi o pop-rock brasileiro, que não teve nenhuma citação de relevância (até o axé emplacou um Bom Xibom, de As Meninas). Segundo o Ibope, o nível de confiança da pesquisa é estimado em 95%, com margem de erro máxima de 2,2 pontos percentuais (para mais ou para menos).