Dori Caymmi celebra suas influências em novo CD
O cantor, compositor e arranjador radicado em Los Angeles volta ao Brasil e chama Gal, Bethânia e a irmã, Nana, para cantar em Influências, disco que trará as músicas de Tom, Noel, Baden, Jacob, Vinicius, Ary e, como não poderia deixar de ser, do pai, Dorival
Rodrigo Faour
08/12/2000
O arranjador, compositor e cantor Dori Caymmi está preparando o seu novo CD, sucessor de Cinema: A Romantic Vision , álbum com releituras de famosos temas de filmes, pelo qual foi indicado ao Grammy no ano passado. O novo disco chama-se Influências e, como se pode deduzir, está centrado no resgate das canções que o marcaram no começo da carreira. De passagem pelo Brasil, Dori gravou faixas com Maria Bethânia (Serenata do Adeus, de Vinicius de Moraes), Gal Costa (Conversa de Botequim, de Vadico e Noel Rosa) e a irmã, Nana Caymmi (Linda Flor, pioneiro samba-canção de 1929, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto).
"Essas cantoras são pessoas que convivi na minha puberdade musical", justifica Dori. "Fiz os arranjos do primeiro disco da Gal (Domingo), fiz o disco da Bethânia com Edu Lobo (de 1967, como o de Gal) e sempre trabalhei com a Nana. Não sou favorável a esses discos cheios de participações. Mas é claro que se eu disser que cantei com Madonna saio em todas as matérias de jornais! A verdade é que existe uma coisa de amizade antiga, com as três", conta.
Aproveitando a estadia no Brasil, Dori ainda programou mais algumas atividades. Uma delas foi a preparação de um arranjo da Caminhos do Mar, baião inédito de seu pai, Dorival, em parceria com o irmão, Danilo, e Dudu Falcão, que será um dos temas da próxima novela das oito, da TV Globo. Finalmente, ele se apresenta hoje e amanhã no Memorial da América Latina (SP), ao lado do saxofonista Roberto Sion e do trompetista Cláudio Roditi. Cada um terá seu set, e ao final, os três se reúnem em números como Aquarela do Brasil (Ary Barroso) e o frevo Ninho de Vespa (do próprio Dori).
O novo disco de Dori faz parte de um projeto duplo: um CD com as músicas que mais o marcaram e outro revendo obras de compositores contemporâneos seus. "O conceito desse disco [Influências] é o do meu despertar para a música. Tudo que me agradou nessa época, até minha primeira infância musical: Tom Jobim, os violões de Baden Powell e de João Gilberto... Do Vinicius escolhi Serenata do Adeus porque acho os seus sonetos de amor os mais bonitos do mundo. Estou decidindo ainda o restante do repertório. Quero gravar Violão Vadio, do Baden, alguma coisa de Dick Farney, Jacob do Bandolim, Moacyr Santos... Vou fazer duas canções do [seu pai, Dorival] Caymmi e duas do Tom. Do Ary Barroso já escolhi Faceira. Tudo terá a minha concepção. Tenho que me descobrir nessas músicas", explica.
Respeita Dorival!
Dori garante, entretanto, que terá um cuidado especial com as canções que pretende gravar do pai. "Uma vez fiz um Você Já Foi à Bahia mais jazzístico, e causou polêmica na família. O papai não gosta que se cante errado. Me lembro que a versão de Marina do Gil o pegou despreparado. E quando a Oração da Mãe Menininha foi gravada por Gal e Bethânia, ele reclamou do andamento. Ele acha que as pessoas modificaram o sabor das músicas".
A ala nordestina da MPB também não será esquecida no disco de Dori. Com Dominguinhos, ele fez a faixa Pé do Lageiro (Aonde a Onça Mora), de João do Vale e José Cândido. "Ela já tinha sido gravada pelo Tom Jobim, com um arranjo lindíssimo. Tem algo de Villa-Lobos e do Tom também nessa música", conta.
Exceto pelos vocais das cantoras, Influências está sendo todo gravado nos Estados Unidos. Dori acha os técnicos americanos mais disciplinados e sintonizados com o que ele quer. "No Brasil, se tentar transmitir minhas idéias fico com a pecha de carrasco. Lá, não tenho pudor", diz. Mas não é só com os estúdios brasileiros que ele anda desgostoso - é com o país num geral. "O mais estranho é que não vejo as pessoas se dando conta do estrago crescente. É como o menino daquele filme que diz: 'eu vejo os mortos.' Chego de fora e vejo tudo a cidade se denegrindo. Mas parece que as pessoas que moram aqui se acostumam", sentencia.
Dori Caymmi se diz muito feliz por morar em Los Angeles, uma cidade onde há ótimas facilidades de trânsito - ela fica a 11 horas de avião do Japão, do Rio ou da Europa. "Trabalho onde pintar oportunidade, a gente segue o dinheiro. Não tenho uma profissão que traga alegrias monetárias, mas sim estéticas e musicais", conta ele, que vez por outra se depara com surpresas agradáveis. "Outro dia, o Johnny Mandel me chamou para tocar violão no CD da Shirley Horn. Saiu uma nota dizendo que estou fazendo arranjo para ela. Apenas toquei violão a seu lado e de uma orquestra inteira, ao vivo, no estúdio. Aquela voz dela nos fones escorria como mel", vibra.
Entortando o coração da humanidade
Dori conta que ficou muito feliz em ver pela TV Djavan cantando Faltando um Pedaço, na festa do primeiro Grammy Latino, que se realizou este ano em Los Angeles. "Ele ficou mais rico com o pop, pois pegou a garotada que gosta desse som. Mas quando tocou essa música só com violão é que ele pôde mostrar o poder do brasileiro. O pop a gente faz, mas não disputa lá fora. Mas quando faz o Brasil... é outra coisa. Caetano, Gil, Djavan, vemos que todos eles são capazes de entortar o coração da humanidade só com seus violões".
O compositor é da opinião de que as fusões que acontecem na música da virada do milênio acabam prejudicando as peculiaridades musicais de cada região do planeta. "Essa mutação que estamos vivendo vai prejudicar no futuro a chamada música local. Com a globalização, os americanos vão conseguir eliminar as raízes do Brasil, da Rússia, da Prússia, da Nicarágua... É por iss que os cubanos querem brigar pelo Grammy latino", acredita.
"Essas cantoras são pessoas que convivi na minha puberdade musical", justifica Dori. "Fiz os arranjos do primeiro disco da Gal (Domingo), fiz o disco da Bethânia com Edu Lobo (de 1967, como o de Gal) e sempre trabalhei com a Nana. Não sou favorável a esses discos cheios de participações. Mas é claro que se eu disser que cantei com Madonna saio em todas as matérias de jornais! A verdade é que existe uma coisa de amizade antiga, com as três", conta.
Aproveitando a estadia no Brasil, Dori ainda programou mais algumas atividades. Uma delas foi a preparação de um arranjo da Caminhos do Mar, baião inédito de seu pai, Dorival, em parceria com o irmão, Danilo, e Dudu Falcão, que será um dos temas da próxima novela das oito, da TV Globo. Finalmente, ele se apresenta hoje e amanhã no Memorial da América Latina (SP), ao lado do saxofonista Roberto Sion e do trompetista Cláudio Roditi. Cada um terá seu set, e ao final, os três se reúnem em números como Aquarela do Brasil (Ary Barroso) e o frevo Ninho de Vespa (do próprio Dori).
O novo disco de Dori faz parte de um projeto duplo: um CD com as músicas que mais o marcaram e outro revendo obras de compositores contemporâneos seus. "O conceito desse disco [Influências] é o do meu despertar para a música. Tudo que me agradou nessa época, até minha primeira infância musical: Tom Jobim, os violões de Baden Powell e de João Gilberto... Do Vinicius escolhi Serenata do Adeus porque acho os seus sonetos de amor os mais bonitos do mundo. Estou decidindo ainda o restante do repertório. Quero gravar Violão Vadio, do Baden, alguma coisa de Dick Farney, Jacob do Bandolim, Moacyr Santos... Vou fazer duas canções do [seu pai, Dorival] Caymmi e duas do Tom. Do Ary Barroso já escolhi Faceira. Tudo terá a minha concepção. Tenho que me descobrir nessas músicas", explica.
Respeita Dorival!
Dori garante, entretanto, que terá um cuidado especial com as canções que pretende gravar do pai. "Uma vez fiz um Você Já Foi à Bahia mais jazzístico, e causou polêmica na família. O papai não gosta que se cante errado. Me lembro que a versão de Marina do Gil o pegou despreparado. E quando a Oração da Mãe Menininha foi gravada por Gal e Bethânia, ele reclamou do andamento. Ele acha que as pessoas modificaram o sabor das músicas".
A ala nordestina da MPB também não será esquecida no disco de Dori. Com Dominguinhos, ele fez a faixa Pé do Lageiro (Aonde a Onça Mora), de João do Vale e José Cândido. "Ela já tinha sido gravada pelo Tom Jobim, com um arranjo lindíssimo. Tem algo de Villa-Lobos e do Tom também nessa música", conta.
Exceto pelos vocais das cantoras, Influências está sendo todo gravado nos Estados Unidos. Dori acha os técnicos americanos mais disciplinados e sintonizados com o que ele quer. "No Brasil, se tentar transmitir minhas idéias fico com a pecha de carrasco. Lá, não tenho pudor", diz. Mas não é só com os estúdios brasileiros que ele anda desgostoso - é com o país num geral. "O mais estranho é que não vejo as pessoas se dando conta do estrago crescente. É como o menino daquele filme que diz: 'eu vejo os mortos.' Chego de fora e vejo tudo a cidade se denegrindo. Mas parece que as pessoas que moram aqui se acostumam", sentencia.
Dori Caymmi se diz muito feliz por morar em Los Angeles, uma cidade onde há ótimas facilidades de trânsito - ela fica a 11 horas de avião do Japão, do Rio ou da Europa. "Trabalho onde pintar oportunidade, a gente segue o dinheiro. Não tenho uma profissão que traga alegrias monetárias, mas sim estéticas e musicais", conta ele, que vez por outra se depara com surpresas agradáveis. "Outro dia, o Johnny Mandel me chamou para tocar violão no CD da Shirley Horn. Saiu uma nota dizendo que estou fazendo arranjo para ela. Apenas toquei violão a seu lado e de uma orquestra inteira, ao vivo, no estúdio. Aquela voz dela nos fones escorria como mel", vibra.
Entortando o coração da humanidade
Dori conta que ficou muito feliz em ver pela TV Djavan cantando Faltando um Pedaço, na festa do primeiro Grammy Latino, que se realizou este ano em Los Angeles. "Ele ficou mais rico com o pop, pois pegou a garotada que gosta desse som. Mas quando tocou essa música só com violão é que ele pôde mostrar o poder do brasileiro. O pop a gente faz, mas não disputa lá fora. Mas quando faz o Brasil... é outra coisa. Caetano, Gil, Djavan, vemos que todos eles são capazes de entortar o coração da humanidade só com seus violões".
O compositor é da opinião de que as fusões que acontecem na música da virada do milênio acabam prejudicando as peculiaridades musicais de cada região do planeta. "Essa mutação que estamos vivendo vai prejudicar no futuro a chamada música local. Com a globalização, os americanos vão conseguir eliminar as raízes do Brasil, da Rússia, da Prússia, da Nicarágua... É por iss que os cubanos querem brigar pelo Grammy latino", acredita.