Dori Caymmi faz pré-lançamento do CD <i>Influências</i>

O baiano faz homenagens aos compositores que o marcaram

Arnaldo Bloch
24/05/2001
No pátio do hotel em Copacabana anexo ao teatro Sesc RioArte — onde inicia, hoje, a temporada de pré-lançamento do CD Influências — Dori Caymmi lembra o bairro nos anos 40, quando já era o afamado “paredão”, mas havia também “mais verde, e onde a alegria predominava”. Na mente do compositor e arranjador, predominavam o violão de Dorival, a voz de Stella Maris, o mar, o sertão de Villa-Lobos, o Rio de Braguinha e de Noel, o Brasil grande de Ary Barroso e a maestria de Radamés, Baden, João Gilberto e Jobim, nomes homenageados no novo disco. “Que país era aquele!”, recorda Dori, decepcionado com a Bahia e com a baianidade — cantada em verso e prosa em defesa de ACM: “Ele deveria curvar-se a meu pai e a Jorge Amado, e beijar humildemente suas mãos.”

Então, Dori, como é seu novo disco? "Tudo o que me mostrou o que é a música, desde que me entendi menino aos 5 anos, até em me formar na vida, com Baden. Em termos de composição, arranjo, formas, estilos, memórias do que tocava nas rádios e minha mãe cantava, a orquestração de Villa-Lobos, o Nordeste, o primitivo sem acordes e a sofisticação máxima das harmonias. É um agradecimento aos mestres e às influências, com grande respeito às formas originais, mas com uma leitura bastante pessoal. Uma influência de berço, Dorival Caymmi, merece três faixas", conta Dori.

Influências percorre nostalgicamente o Rio com Noel (Conversa de Botequim), Vinicius (Serenata do Adeus), Braguinha (Copacabana, com voz grave, recordando Dick Farney), Tom/Vinicius (A Felicidade) e a bossa-nova-síntese, com um Desafinado em versão agressiva, anti-bossanovística, com “todos os acordes possíveis”. Vai ao sertão buscar o Bororó (Boróro, com acento no primeiro ó, no violão assinado do pai, na cozinha do Leblon). E vai à Bahia com papai trazendo surpresas: em É Doce Morrer no Mar aparece uma lua inusitada na forma de citações de Clair de Lune, de Debussy, mestre maior do arranjador Dori no terreno clássico. Nas aulas de piano ele tentava tocar trechos deste Debussy mais popular sem ter a técnica para tal, e foi quando descobriu que seu negócio não era recital. Nada espantoso. Afinal, Villa, Jobim e Edu beberam intensamente do impressionismo francês, reconhecível não apenas através do colorido harmônico, mas das cores e harmonias que o amor assume na sua música.