Dudu Nobre prepara seu segundo ataque

A grande revelação jovem do samba encerra o trabalho de divulgação do seu vitorioso disco de estréia e finaliza o novo trabalho, que será mais eclético que o primeiro, mas sem fugir à tradição dos bambas

Silvio Essinger
31/01/2001
Com toda a garra de quem está nos seus vinte e poucos anos e o estofo musical de quem cresceu ao lado dos grandes bambas, Dudu Nobre passou o ano 2000 na crista da onda, como a maior revelação jovem do samba dos últimos tempos. Seu disco de estréia (Dudu Nobre ouvir 30s, de 1999) bateu a marca das 100 mil cópias vendidas (aproxima-se agora das 200 mil), com o sucesso de canções como No Mexe Mexe, no Bole Bole, Feliz da Vida e Quebro, Não Envergo. "E isso numa época em que só o que vendia era axé e pagode", comemora.

Esta sexta-feira, dia 2, o sambista encerra o trabalho de divulgação do CD, abrindo uma curta temporada no Canecão (que vai só até domingo), ao lado da bateria da Mocidade Independente. Dudu já está com seu segundo disco praticamente pronto, com lançamento previsto para março ou abril, pela BMG - ele espera que o embalo do primeiro CD o ajude a emplacar o seguinte. "Dudu Nobre superou muito a expectativa. Em um ano e meio de lançado, não parou de vender", informa.

O novo álbum ainda não tem título ("isso é lá com a gravadora", despista Dudu), mas o repertório está todo fechado. O destaque vai para Blitz Funk, música sua com letra do veterano Aldir Blanc. Mas que ninguém espere uma guinada do sambista para outro lado da música popular. "Ela tem uma levada de funk, mas eu continuo seguindo a tradição. O grande barato no meu trabalho é que as influências se enquadrem no samba, não o contrário. Levada dos outros, não rola", garante. Ele promete uma surpresa para quando a faixa for apresentada nos shows (ele avisa que, por enquanto, só vai cantar as antigas). "Se conseguir executar no palco, vai ficar uma beleza", adianta.

No novo disco, conta Dudu, estarão nada menos que 11 composições suas. Três em parceria com Roque Ferreira (entre elas, Para o Amor Render, gravada por Martinho da Vila) e outras com Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luizinho SP, Luizinho Santiago e Pretinho. Ele gravou ainda Se Liga Doutor (Beto Sem Braço e Aluízio Machado), Orai Por Nós (Almir Guineto e Luverci), e um pot-pourri de sambas que ouvia quando criança. O partido-alto continua por cima neste trabalho. "Cada ano que passo fico mais entristecido. Não tem ninguém novo na área do partido, que é o estilo mais característico do Rio", lamenta o músico, atento ao que os companheiros do pagode andam gravando. "Os discos deles às vezes tem dois partidos e umas 300 músicas românticas!"

Mitsubishi no samba
Dudu Nobre não é contra a renovação do samba, mas prefere fazê-la ao seu modo: a jogada é brincar dentro do tradicional. "A gente modifica o lance da letra. Pega o samba de partido e fala do Mitsubishi, da saia da garota...", explica. Com essa receita, ele, ainda bem garoto, emplacou sucessos em discos de várias cobras criadas do samba. A começar por Zeca Pagodinho, seu padrinho artístico, com quem tocou cavaquinho até pouco tempo antes de lançar seu primeiro disco: Posso Até Me Apaixonar, Água da Minha Sede (com Roque Ferreira), Chico Não Vai na Curimba e Vou Botar Teu Nome na Macumba (ambas com Zeca). Martinho estourou Pro Amor Render. Já o Fundo de Quintal, Levada desse Tantã (com Luizinho SP).

Dudu avisa que o novo disco será bem mais eclético que o anterior: "Fui muito mais feliz em matéria de arranjo e repertório. O trabalho agora tem uma direção, não estou mais começando do zero." Com produção de Rildo Hora ("como sempre foi e sempre será"), as músicas trazem mais guitarras ainda que em Dudu Nobre. "A aceitação delas no primeiro disco foi fantástica, deu uma entrada legal no movimento pop-rock", conta.

As calças largas e camisetas de Dudu denunciam: ele é um grande entusiasta do rap. Não por acaso, a estréia do seu show no Canecão contará com as participações de MV Bill e Gabriel o Pensador. "Se vacilar, o rap vai ser um novo segmento da música brasileira", vaticina. "Hoje em dia há mais jovens fazendo rap de qualidade do que samba de qualidade."

Com uma agenda para lá de agitada - além dos shows e trabalhos de divulgação, ele ainda achou tempo para gravar com Nei Lopes (Fumo de Rolo, no disco do veterano sambista, De Letra & Música) e João Bosco (Kid Cavaquinho, para o disco Casa de Samba 4) -, Dudu quer um pouco de sossego durante o carnaval - logo em seguida, entra na roda viva do novo disco. "Agora quero descansar a cabeça, vou tirar férias pela primeira vez na vida. Não sabia como esse negócio é desgastante!", reclama, malandramente.